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    Custo cresce mais que oferta de mobilidade urbana no Brasil

    ANDRÉ MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    09/06/2015 11h45

    O custo da mobilidade urbana no Brasil disparou em uma década, mas esse aumento não se refletiu em um maior deslocamento das pessoas pelas maiores cidades do país. Nem com mais qualidade.

    A análise é de um levantamento da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), atualizado com dados de 2013 (confira a íntegra).

    A entidade coletou informações de 438 municípios com mais de 60 mil habitantes. Neles vivem 123 milhões de pessoas (61% da população) e circulam 37 milhões de veículos (70% da frota).

    No total, segundo a entidade, a "conta" da mobilidade urbana nesses locais ficou em R$ 225,8 bilhões em 2013. Comparado com o valor apurado em 2004, corrigido pela inflação, houve um aumento de 35% em dez anos.

    Mas, enquanto isso, o indicador que mede o quanto as pessoas estão se deslocando pelas cidades permaneceu praticamente estagnado.

    Em 2004, cada habitante fazia em média 1,51 viagem por dia, índice que ficou em 1,66 em 2013 –alta de 10%.

    A explicação para a diferença nos dois crescimentos está no padrão de mobilidade baseado em veículos particulares, que se acentuou no país nos últimos anos.

    Segundo o levantamento, a frota nos 438 municípios praticamente dobrou em dez anos (de 19 para 37 milhões), acarretando mais gastos por habitante.

    Esse aumento também levou a mais congestionamentos, já que a infraestrutura viária não cresceu no mesmo ritmo –a extensão de ruas e avenidas teve aumento estimado em 17%.

    E, segundo a pesquisa, o tempo gasto em viagens, em vez de diminuir com mais carros e motos, cresceu 28%.

    CUSTOS

    Para fechar a conta da mobilidade, o estudo da ANTP considera tanto os custos individuais, como o gasto de passageiros com tarifas e de motoristas com combustível, quanto os custos arcados pelo poder público, como a manutenção de vias.

    Também entram na conta gastos de saúde referentes a poluição e acidentes de trânsito.

    Segundo a pesquisa, os custos associados ao transporte individual correspondem a 80% do total, apesar dele ser responsável por apenas 31% das viagens.

    A maior parte da conta é bancada pelos próprios usuários de carro e moto, que consumiram 13,4 bilhões de litros de gasolina em 2013.

    Mas, segundo o levantamento, os meios individuais recebem três vezes mais recursos públicos do que os meios coletivos.

    O custo público foi estimado pela ANTP em R$ 11,2 bilhões, e 77% desse valor é gasto com o transporte individual, principalmente na manutenção de ruas e avenidas.

    COBRANÇA

    Para o engenheiro e sociólogo Eduardo Vasconcellos, coordenador do trabalho, a aposta no modelo de transporte individual só beneficia uma parte da população, com renda mais alta. A exceção é o uso da motocicleta, que, apesar de mais acessível, resulta em custos maiores com acidentes.

    "Para quem tem automóvel pode haver mais mobilidade, em cidades não congestionadas. Mas isso não aconteceu no transporte público. Nas parcelas mais pobres você aumentou por causa da moto, mas quem anda de transporte coletivo continua muito limitado", afirma.

    Segundo a ANTP, o índice de viagens diárias por habitante no transporte individual cresceu 16%, enquanto no transporte público, apenas 9%.

    Para mudar o estado das coisas, segundo Vasconcellos, é preciso afetar o bolso das pessoas. "Até algum tempo atrás estávamos presos na ilusão de que aumentar a qualidade do transporte coletivo levaria mais gente a usá-lo, mas o que fica claro é que, além de melhorar o transporte público, é preciso cobrar o verdadeiro custo para a sociedade de se usar o automóvel."

    Segundo ele, "descontando o gasto com a compra e manutenção, o custo de usar o carro em um mesmo deslocamento é equivalente à tarifa do transporte público nas nossas cidades. De moto é um terço, e nenhum usuário vai sair da moto enquanto gastar R$ 1 ao invés de R$ 3".

    O custo é equivalente devido a subsídios na gasolina e à falta de cobrança maior pelo estacionamento em vias públicas, por exemplo.

    "Quando se fizer isso as pessoas vão repensar e vai se ter uma diferença no abuso do automóvel. O problema não é o uso, mas o abuso. Bastaria reduzir em 30% os carros nos horários de pico nas vias principais para melhorar".

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