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    Grupo usou facões e lanternas para achar vítimas de estupro no Piauí

    CLÁUDIA COLLUCCI
    ENVIADA ESPECIAL A CASTELO DO PIAUÍ

    15/06/2015 02h00

    Fabio Braga/Folhapress
    Franklin, 22, um dos rapazes que resgataram as quatro vítimas de estupro no Piauí
    Franklin, 22, um dos rapazes que resgataram as quatro vítimas de estupro no Piauí

    Um grupo de moradores, a maioria jovens, foi responsável por encontrar as quatro meninas de Castelo do Piauí (184 km de Teresina) desacordadas e muito feridas, após sofrerem estupro coletivo e serem jogadas de um precipício de oito metros. Eles dizem ter havido descaso da polícia, que nega.

    O caso parece roteiro de filme. Na tarde de 27 de maio, quatro adolescentes entre 15 e 17 anos saem com duas motos dos pais para fazer fotos em um morro com vista panorâmica da cidade.

    Ao mesmo tempo, policiais se preparam para uma ronda perto do morro, a 1,5 km do centro da cidade de 18 mil habitantes, à procura de um acusado de assaltar a gerente de um posto, dias antes.

    Eles haviam recebido a informação de que Adão José de Sousa, 40, que já havia cumprido pena em São Paulo por roubo e homicídio, estava escondido no local.

    Ao se aproximarem do morro, avistam duas motos estacionadas. Dizem que subiram o morro, mas não encontraram ninguém. Colocam as motos sobre uma camionete e as levam à delegacia.

    Lá, um parente de uma das vítimas reconhece uma das motos e alerta a família da menina. Logo os pais das outras garotas são avisados sobre o desaparecimento delas, tal qual amigos e vizinhos.

    MOBILIZAÇÃO

    Começa uma mobilização. De início, suspeitam de sequestro. Uma rádio local transmite o caso ao vivo. Um grupo vai para a delegacia, mas, segundo a versão dos moradores, só havia um policial à paisana, que, de acordo com eles, disse nada poder fazer –por estar só.

    Castelo do Piauí está sem delegado desde o início do ano. Só há um policial militar e um policial civil a cada turno diário. A delegacia é um cubículo de duas salas. Foi então que, armados de lanternas e facões, amigos das meninas subiram o morro, mesmo sem ajuda policial.

    A Folha refez o caminho com dois desses rapazes. São cerca de dez minutos, o caminho é íngreme e há pedras soltas. "Primeiro avistamos um short no chão, depois um sutiã pendurado na árvore", conta I., 17.

    Franklin, 22, vasculha o local e vai até a beira do precipício, aponta a lanterna para baixo e vê as meninas no chão. "Pensei que estavam mortas." Desceu os oito metros segurando na vegetação.

    As garotas estavam ainda amordaçadas com suas próprias roupas. Ao se aproximar delas, percebeu que uma estava consciente. "Para, pelo amor de Deus", disse a menina, pensando se tratar ainda dos seus estupradores. Ao saber que estava nas mãos de amigos, chorou, agradecida.

    As demais continuavam desacordadas, mas respirando. "Cortei panos e cordas que estavam no pescoço delas. Tiramos nossas camisetas para cobri-las. Também proibi que tirassem fotos delas. Cheguei a quebrar o celular de um dos caras."

    Edison Lima, coordenador da Polícia Civil local, diz que a população ajudou, mas não houve omissão da polícia. "Foi um trabalho conjunto", diz. Segundo ele, mais de 80 policiais da região foram deslocados para o município.

    Para Jorge Feitosa, pai de Danyelle, 16, que morreu no vítima dos ferimentos do estupro coletivo, os policiais falharam. "Se tivessem vasculhado a área direito, quando encontraram as motos, eles [os criminosos] teriam fugido e, talvez, não teriam tido tempo de fazer o que fizeram."

    Adão José Silva Souza e os adolescentes I.V.I., 15, J.S.R., 16, B.F.O.,15, e G.V.S., 17, estão detidos em Teresina. O maior, apontado por um dos menores como mentor do crime, nega o envolvimento.

    Os quatro adolescentes confessaram o crime dia em que foram apreendidos, mas três deles passaram a negar o estupro. Dois dizem que foram espancados. Por fotos, as meninas violentadas reconheceram os menores.

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