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    Radar federal estava quebrado quando chuva matou 15 pessoas na Bahia

    AGUIRRE TALENTO
    DE BRASÍLIA

    16/06/2015 02h00

    Romildo de Jesus - 10.mai.2015/Futura Press/Folhapress
    Deslizamento de terra no bairro Baixa do Fiscal deixa três mortos em Salvador; há dois desaparecidos
    Deslizamento de terra no bairro Baixa do Fiscal deixa três mortos em Salvador; há dois desaparecidos

    O radar meteorológico do governo federal usado em Salvador para alertar sobre riscos decorrentes das chuvas estava quebrado durante os deslizamentos de terra no final de abril que provocaram a morte de 15 pessoas.

    A utilidade do instrumento, que é operado pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, é justamente prever as chuvas antes que ocorram e os riscos de acidentes.

    O Cemaden só possui um radar meteorológico na capital baiana. Além dele, há 24 pluviômetros que medem a chuva que já está ocorrendo.

    A Defesa Civil da Prefeitura de Salvador e a Defesa Civil do governo da Bahia disseram à Folha que a operação do radar poderia ter ajudado a prevenir os acidentes.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Sem esse instrumento, os alertas emitidos pelo governo federal foram baseados só nos pluviômetros, que diagnosticam a chuva só na hora.

    Em um evento em 2012 que anunciou a instalação de novos radares, o geólogo Agostinho Ogura, do Cemaden, definiu: "Ter o radar é olhar a previsão meteorológica no campo futuro. Ter o pluviômetro é saber o quanto está chovendo de fato".

    Tanto o ministério do governo Dilma Rousseff (PT) como o Cemaden afirmam que os pluviômetros foram suficientes para embasar os alertas.

    ALERTAS

    Após danos internos, as peças do radar foram enviadas à fabricante na Alemanha em 26 de março. O equipamento voltou a operar em 4 de maio.

    Segundo o ministério, não houve gasto com o conserto porque ainda estava na garantia. Implantado em 2014, o radar custou R$ 8 milhões.

    As fortes chuvas que atingiram Salvador no fim de abril provocaram, no dia 27 daquele mês, ao menos 15 mortes por deslizamentos de terra, todas na periferia.

    O primeiro alerta, de nível moderado, foi enviado pelo Cemaden aos departamentos de Defesa Civil estadual e municipal no dia 23. No dia seguinte, foi enviado alerta alto, indicando o bairro de Brotas como de risco. Lá, porém, não houve mortes. No dia 25, o alerta foi para moderado.

    Já no dia 26, véspera das mortes, foi enviado um alerta alto, com destaque para a região do Alto do Peru, que estava recebendo alto índice de chuva. Justamente em seu entorno ocorreram os deslizamentos com 15 mortes.

    A Defesa Civil de Salvador, porém, disse que os alertas não indicavam locais exatos nem a quantidade de chuva.

    "Com o radar, conseguiríamos saber com mais exatidão detalhes sobre a precipitação que se aproximava da capital baiana naquela ocasião", informou o órgão.

    O superintendente da Defesa Civil da Bahia, Rodrigo Hita, disse que o radar poderia dar uma antecedência de meia hora a uma hora para evacuar áreas. "Esse radar funcionando pode interpretar e ver onde vai cair a chuva", afirmou. Segundo ele, existem cerca de 600 encostas em Salvador e, por isso, é necessário mais precisão.

    OUTRO LADO

    O Cemaden e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação dizem que o radar quebrado não prejudicou o monitoramento em Salvador.

    "Embora com um radar inoperante, [a rede] estava em funcionamento. Portanto, a falta do radar naquele momento não impactou ou prejudicou o monitoramento [das chuvas]", afirmou.

    O chefe de operações e modelagem do Cemaden, Carlos Frederico de Angelis, disse por e-mail que Salvador tem uma "densa rede de pluviômetros" que pode captar a "variabilidade espacial da chuva" sem o radar.

    "Há uma redundância de informação para essa região, uma vez que o Cemaden utiliza tanto os dados dos pluviômetros quanto os do radar."

    Responsável direta pelas ações emergenciais, a Defesa Civil de Salvador disse que não fez retirada emergencial das famílias no entorno do Alto do Peru porque não tinha detalhes da chuva no local. "Recebemos os alertas do Cemaden com no máximo duas horas de antecedência, e eles não especificam onde vai chover nem a intensidade."

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