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    Rio de Janeiro

    Acampamento do crime: Traficantes usam florestas para armazenar drogas

    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    19/06/2015 02h00

    A estrutura lembra a de um camping. Tem barracas montadas, colchões, pequenos fogões e até estoques de repelentes. E seus usuários passam semanas em florestas e parques do Rio de Janeiro.

    Só que os acampamentos são organizados por traficantes de facções como o Comando Vermelho, que escondem armas e drogas nesses locais –como o Parque da Tijuca, maior floresta urbana do mundo– e ainda assaltam turistas atraídos por cachoeiras.

    De lá, também tramam invasões a favelas ou se escondem da polícia.

    A ocupação de traficantes em parques e florestas do Rio ocorre há pelo menos 20 anos, mas agora a polícia iniciou uma investigação que resultou na produção de vídeos –a Folha teve acesso a um deles– mostrando a estrutura utilizada por eles.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Numa das ações recentes, o Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) encontrou 140 quilos de cocaína em um acampamento na mata em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio.

    Em interceptação telefônica feita com autorização judicial, um dos traficantes afirmou em janeiro que o acampamento da facção dele foi se estruturando aos poucos. "Quando foi ver, tava dando até para morar na mata."

    A tática dos traficantes lembra a das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo guerrilheiro que há décadas ocupa as florestas daquele país.

    No Rio, os criminosos tiram proveito das muitas matas e florestas na região urbana e no seu entorno. A maior parte desses grupos está na floresta da Tijuca, ponto turístico que recebe anualmente 3 milhões de visitantes.

    Numa das ações filmadas de um helicóptero da Polícia Civil, havia pelo menos 30 suspeitos se dirigindo a um acampamento nessa floresta.

    Nos monitoramentos, a polícia identificou um acampamento no Parque da Tijuca com 20 traficantes. Em outra investigação, policiais prenderam 20 traficantes na entrada de uma das matas, no bairro Santa Cruz, zona oeste. Outros fugiram mata adentro.

    Apesar da presença marcante do tráfico nessas matas há anos, um problema que dificulta a fiscalização é o fato de florestas como a da Tijuca serem de responsabilidade do governo federal, que discute com o Estado quem deve cuidar da segurança em parques e florestas.

    Divulgação/Bope
    Drogas encontradas em acampamento de traficantes na mata de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio
    Drogas encontradas em acampamento de traficantes em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio

    EFEITO SURPRESA

    O parque da Tijuca tem 4.200 km² de mata fechada e um sem-número de cachoeiras. Por suas trilhas é possível atravessar a capital do Rio de Janeiro de norte a sul, do centro à zona oeste.

    Foi através da floresta que traficantes do Comando Vermelho invadiram o Morro do Banco, em São Conrado, em 2011. Para não chamar a atenção dos policiais, eles surpreenderam os milicianos que dominavam a região e tomaram a comunidade.

    CACHOEIRAS

    Os traficantes têm agido ainda em cachoeiras, abundantes nessas florestas. Já houve registros de assaltos a visitantes desses locais.

    Segundo a polícia, houve um caso neste ano, na Reserva Municipal de Mesquita, na Baixada Fluminense. Lá, os traficantes do morro da Chatuba impedem que visitantes se aproximem da cachoeira.

    "É uma atividade [o acampamento nas matas] que acontece há bastante tempo, no entanto, percebemos que ela vem sendo aperfeiçoada", disse à Folha o delegado Antenor Lopes Júnior. Ele disse que os acampamentos estão mais estruturados.

    Divulgação/Bope
    Tendas encontradas em acampamento de traficantes na mata de São Gonçalo, na região metropolitana do Rio
    Tendas encontradas em acampamento de traficantes em São Gonçalo, na região metropolitana do Rio

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