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    Oficial da PM pagou condomínio com cheque de empresa suspeita

    ROGÉRIO PAGNAN
    REYNALDO TUROLLO JR.
    DE SÃO PAULO

    20/06/2015 02h00

    Um oficial da Polícia Militar de São Paulo apontado como operador de fraudes em licitações no Comando-Geral da corporação pagou as taxas de seu condomínio com um cheque de uma empresa envolvida no esquema.

    A empresa Comercial das Províncias emitiu em 2012 um cheque no valor de R$ 14.320, utilizado para pagar adiantado, por seis meses, as taxas de administração referentes a quatro imóveis no condomínio Portella, em Itu (a 101 km de São Paulo).

    Os imóveis são da família do tenente-coronel José Afonso Adriano Filho, apontado por uma sindicância interna da PM como o principal responsável pelas compras fraudulentas para o Comando-Geral entre 2009 e 2010.

    A Folha teve acesso à cópia do cheque e a extratos bancários que confirmam sua compensação. Esses documentos foram enviados neste mês à Corregedoria da PM por funcionários do condomínio.

    Foi também enviada à Corregedoria troca de e-mails entre os funcionários, segundo a qual os pagamentos em cheque não eram usuais.

    Jorge Araújo/Folhapress
    Condomínio em Itu (interior de SP) onde mora oficial suspeito de comandar fraudes na PM
    Condomínio em Itu (interior de SP) onde mora oficial suspeito de comandar fraudes na PM

    Conforme a Folha revelou na quinta (18) e na sexta (19), licitações irregulares no quartel da cúpula da corporação movimentaram ao menos
    R$ 10 milhões em dois anos.

    A fraude, durante os governos de José Serra e Alberto Goldman (ambos do PSDB), era sustentada por uma rede de empresas de fachada ou que tinham relações entre si –por exemplo, eram registradas no mesmo endereço.

    Uma delas era a Comercial das Províncias, contratada várias vezes para a instalação de rede de dados no quartel.

    Essa empresa já esteve registrada no mesmo endereço de outra fornecedora, a Construworld Materiais para Construção, cuja sede foi posteriormente transferida para uma casa na periferia da zona norte de SP –onde os vizinhos disseram desconhecê-la.

    O esquema incluía compra de produtos que não eram entregues (de clipes para papel até peças de carro), serviços não prestados, fracionamento das licitações (para escapar da fiscalização externa) e contratação de empresas derrotadas nos certames.

    O tenente-coronel Adriano, hoje na reserva, admitiu parte do esquema à Corregedoria da PM e à Folha, mas afirmou que os recursos desviados foram usados para pagar despesas da própria polícia, não para enriquecimento ilícito.

    "Não fiz nada sem ordem. Todas as melhorias executadas, não só no Quartel do Comando-Geral como em outras unidades, tinham ciência e autorização dos superiores", afirmou o oficial, que não quis mencionar nomes.

    Funcionários do condomínio Portella enviaram cópia do cheque e denúncia à Corregedoria da PM após o tenente-coronel Adriano, segundo esses funcionários, ter feito um boletim de ocorrência contra eles alegando que o cheque era fraudulento.

    Os funcionários sustentam que o cheque lhes foi entregue, em mãos, pelo próprio oficial -que só se queixou do cheque quase três anos depois de sua compensação.

    OUTRO LADO

    Procurado pela Folha e informado sobre o teor da reportagem, o tenente-coronel José Afonso Adriano Filho não quis se manifestar. Apenas disse que vai se pronunciar nos próximos dias por meio de seu advogado.

    Anteriormente, o oficial afirmou que os desvios de recursos eram para pagar despesas da corporação, jamais para proveito próprio.

    A Secretaria da Segurança Pública afirmou que todas as provas "irão acompanhar o processo no Conselho de Justificação para análise de perda da patente do oficial".

    "[A secretaria] esclarece, ainda, que todos os fatos foram rigorosamente investigados e as conclusões enviadas aos devidos órgãos competentes. Caso haja indício ou prova de qualquer outra regularidade, será imediatamente apurada", disse.

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