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    Terreiro de umbanda em São Paulo é alvo de pedradas e xingamentos

    EMÍLIO SANT'ANNA
    DE SÃO PAULO

    27/06/2015 02h00

    "Macumbeiro desgraçado! Povo do diabo!" A relação com os vizinhos, que já não era boa, com o tempo só fez piorar –ponto de as ofensas começarem a ser ouvidas na rua, diz Caio Marcelo Affonso, 42, dirigente espiritual do terreiro de umbanda Pena Vermelha, na zona leste.

    "Todos nós que vivemos o Orixá já passamos por algo constrangedor", afirma o religioso, que demorou um ano e três meses para conseguir alugar um local para o terreiro. "Quando falava para o que era, não alugavam em lugar nenhum", conta.

    Nem só com ofensas verbais, no entanto, a intolerância se manifesta por ali. Pedras e pedaços de paus já foram atirados contra uma das áreas do terreiro, afirma.

    Comerciante, Affonso conta que o perfil dos praticantes de umbanda vem mudando. Hoje, 70% dos frequentadores dos trabalhos em seu terreiro têm nível superior e chegam de carro. "Isso também gera comentários maldosos", desabafa. "Dizem coisas como: 'por isso que têm dinheiro, ficam fazendo mal para os outros'."

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    Caio Marcelo Affonso, 42, em terreiro de umbanda em SP
    Caio Marcelo Affonso, 42, em terreiro de umbanda em SP

    Para ele, casos como o da menina atingida por pedra ao sair de um terreiro de candomblé no Rio mostram até onde pode chegar o ódio que se propaga através do discurso de alguns líderes religiosos.

    O caso ganhou repercussão nacional. No último fim de semana, na Virada Cultural, em São Paulo, o rapper Emicida se apresentou de branco em homenagem à menina.

    Longe de ser uma exceção, situações como essa fazem parte da trajetória das religiões de matriz africana no Brasil. A origem do Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, lembrado todo 21 de janeiro, é um exemplo.

    Em outubro de 1999, um jornal ligado à Igreja Universal publicou uma foto de Mãe Gilda, uma ialorixá, com o título "Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes". O terreiro, em Salvador (BA), foi invadido e seu marido, agredido. Ela morreu de infarto em janeiro do ano seguinte.

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