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    Faltava vontade política para implantar ciclovias, diz urbanista

    EMILIO SANT'ANNA
    DE SÃO PAULO

    28/06/2015 13h43

    Ex-coordenadora do Departamento de Planejamento Cicloviário da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), onde trabalhou durante 35 anos, Maria Ermelina Malatesta é favorável à implantação da ciclovia na avenida Paulista, aberta neste domingo (28).

    Para a especialista em mobilidade não motorizada pela FAU-USP, a via tem importância não só por haver demanda dos ciclistas no local, mas também por ser um modelo implantado em uma avenida emblemática.

    Ela conta que estudos sobre o assunto são feitos desde a década de 1980 em São Paulo, mas para que saiam do papel, as ciclovias precisam da vontade política dos gestores públicos.

    Leia abaixo trechos da entrevista à Folha.

    Folha - Qual sua opinião sobre a ciclovia da avenida Paulista?
    Maria Ermelina Malatesta - Apoio totalmente. Por vários motivos. Primeiro porque vai dar apoio a demanda que já existe na Paulista. A via tem demanda por um tipo de viagem que não é captada na metodologia de pesquisa do metrô. Está sendo propalado que ali não há demanda. Estou afirmando que tem, sim. Não é captado pela pesquisa Origem Destino do metrô, mas há viagem de integração, uso de bicicletas alugadas, entregas e mensageiros. Há também outras modos de mobilidade que circulam pelas calçadas como os skatistas, patinetes, até os cadeirantes.
    De repente todo mundo acha que andar de bicicleta é moda. Mas importância da ciclovia da Paulista não é só criar um espaço para a situação do ciclista, que existe demanda, mas é emblemático. Ela é um espaço público com grande significado para o Brasil, é um símbolo para o país todo.

    Como você vê as críticas à falta de estudos sobre as ciclovias?
    Não aguento ouvir isso, juro por Deus. Tem gente que nunca esteve nem aí para pedestre, agora lembraram deles e estão usando isso como desculpa. É uma lenda que se criou, não sei de onde partiu, dos palpiteiros de plantão. O planejamento cicloviário na CET é feito há mais de 30 anos, desde 1980. Escrevi um boletim técnico antes de sair da CET sobre todos esses estudos que foram feitos na cidade.

    E qual a conclusão?
    Os vários planos que foram feitos, não foram implantados porque não havia vontade política, não era o plano de governo como é o dessa administração. Na década de 1980, quando em Amsterdã estava 'bombando' a rede cicloviária, até por causa da crise do petróleo, aqui também tivemos os ecos dessa crise, mas acabou não se tornando uma prioridade. Agora a questão voltou, mas por outro motivo. A preocupação com a qualidade de vida urbana.

    Como vai ser a relação entre ciclistas e pedestres?
    As ilhas [no canteiro central] sempre existiram. A programação semafórica –quando as travessias ficavam nas esquinas– não dava tempo total de travessia. Os pedestres ficavam retidos no canteiro central. A CET deslocou as travessias, recuou, para poder acomodar os veículos que viram na avenida e deu tempo total de travessia. A Paulista tem tempo total de verde suficiente para o pedestre atravessar. Se por acaso acontecer de o volume de pedestres aumentar, se criar novos polos geradores, é muito fácil de a CET resolver. É só rever a programação semafórica. Outra coisa, as pistas para as bicicletas acompanham o sentido de tráfego. Não vai ter o perigo de alguém ficar impaciente e se arriscar. Para o lado que ele estiver olhando é de onde virá a bicicleta. O projeto está tecnicamente correto.

    Editoria de Arte/Folhapress

    CICLOVIA NA PAULISTA

    Inaugurada neste domingo (28) com 2,7 km, a ciclovia da avenida Paulista, na região central de São Paulo, se estende da praça Oswaldo Cruz (Paraíso) à Consolação. Com isso, a gestão Fernando Haddad (PT) atinge a marca de 334,9 km de vias exclusivas para bicicletas em toda a capital paulista.

    Na altura da rua Haddock Lobo, já no final da via, com o término do canteiro central, ela continua na faixa da esquerda até a rua da Consolação e segue à direita entre a Consolação e a avenida Angélica.

    Se os ciclistas comemoram porque vão trafegar com mais conforto e segurança pelo tapete vermelho, há temor de que falte espaço para acomodar os mais de 1,5 milhão de pedestres que circulam diariamente pela avenida.

    A questão divide a opinião de especialistas em engenharia de tráfego. Alguns afirmam que o desenho da pista causa risco de o pedestre ser "espremido" no canteiro central da Paulista se houver trânsito intenso de bicicletas. Outros dizem que a programação dos semáforos da avenida dá ao pedestre tempo suficiente para atravessar e o espaço das "ilhas" criadas no canteiro central será suficiente para acomodar a todos.

    A inauguração da ciclovia é vista também como um teste para o projeto de fechar a via para automóveis todos os domingos.

    O plano, ainda em estudo, seria transformar o principal cartão postal de São Paulo numa espécie de praça a céu aberto, onde usuários de bicicletas, skates, patins e pedestres iriam se misturar aos artistas de rua que se apresentam por ali.

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