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    Rio de Janeiro

    Entregador de pizza morto durante ação do Bope tinha dois empregos

    FELIPE DE OLIVEIRA
    DO RIO

    02/07/2015 02h00

    Morto durante uma operação do Bope (tropa de elite da PM fluminense) contra o tráfico de drogas no domingo (28) no morro da Coroa, centro do Rio, o jovem Rafael Camilo Neris, 23, tinha não apenas um, mas dois empregos.

    A polícia alega que realizou disparos porque foi recebida a tiros, mas familiares e amigos de Neris dizem que o jovem nada tinha a ver com o tráfico ou com o tiroteio.

    Neris fazia diariamente jornada dupla. Trabalhava como entregador de produtos vendidos pela internet durante o dia e, à noite, entregava pizza no seu bairro. "Ele acordava às 4h30 e só voltava pra casa depois de meia-noite. Era esforçado e determinado", disse Diego Pardim, amigo da vítima.

    Reprodução/Facebook
    Rafael Neris foi morto por policiais do Bope no Rio
    Rafael Neris foi morto durante operação do Bope no morro da Coroa, centro do Rio

    A jornada dupla foi adotada para ajudar a pagar a prestação de mais de R$ 1.200 do seu carro. Foi durante o trabalho de entregador de pizza que ele foi morto, diz a família.

    Segundo Ana Neirane, cunhada de Neris, uma testemunha viu o momento em que ele foi baleado. Ela disse que, após a chegada dos PMs, roupas, documentos e até as pizzas desapareceram. "Uma menina viu ele baleado. Ainda estava vivo, mas, por medo, se fingiu de morto e pediu para ela correr dali."

    Ana contou que, enquanto a testemunha buscava ajuda, ouviu dois tiros. "Ela voltou, e Rafael estava sem os tênis e documentos e morto. Agora, ela está com medo de contar o que viu", afirmou.

    Ainda de acordo com a cunhada, Neris tinha vontade de andar de avião e planejava fazer faculdade de administração de empresas.

    INVESTIGAÇÃO

    A Polícia Civil diz que as circunstâncias da morte de Neris ainda estão sendo investigadas. Nesta quarta (1º), agentes realizaram uma perícia complementar no local onde o corpo foi encontrado.

    Os pais do jovem prestaram depoimento, e os PMs do Bope deverão ser ouvidos nos próximos dias.

    As armas utilizadas na operação foram apreendidas e passarão por exame de balística para detectar se foram usadas na morte de Neris.

    Segundo a polícia, o Bope foi ao morro após a base da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) do Fallet ter sido invadida por criminosos.

    É mais um caso envolvendo a tropa de elite da PM, que já responde pelo desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, em 2013, após ter sido detido por PMs na Rocinha (zona sul).

    Em nota, a PM disse que um IPM (Inquérito da Polícia Militar) está em andamento, e o prazo para concluir as investigações é de 40 dias.

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    OUTROS CASOS SOB SUSPEITA NO RIO

    Mai. 2015
    Diego Luniére, 22, é vítima de bala perdida em confronto de traficantes rivais que disputavam pontos de venda de drogas no morro da Coroa; PMs são suspeitos de facilitar entrada de bandidos

    Fev.2015
    Alan Souza Lima, 15, morre enquanto andava de bicicleta na Palmeirinha (zona norte). Na hora em que foi atingido, gravava vídeo com o celular, que desmente versão de confronto com a PM

    Jul.2013
    O ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, 43, desaparece após ser detido por PMs da UPP na porta de sua casa na Rocinha (zona sul). Ele teria sido submetido a tortura e morrido na unidade policial. O corpo nunca foi encontrado

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