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    Com medo, família enterra jovem condenado por estupro coletivo em Teresina

    YALA SENA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TERESINA

    17/07/2015 19h27 Erramos: o texto foi alterado

    Jailson Soares/ODIA
    Mãe e padrasto de Gleison Vieira da Silva, 17, choram durante enterro do jovem, condenado pelo estupro coletivo em Castelo do Piauí (PI)
    Mãe e padrasto de Gleison Vieira da Silva, 17, durante enterro do jovem, condenado por estupro coletivo

    Com medo de represálias, a família do adolescente morto dentro do CEM (Centro Educacional Masculino) teve que realizar o enterro do garoto às pressas em Teresina, no Piauí. Gleison Vieira da Silva, 17, foi espancado até a morte em um alojamento do centro de interação na última quinta-feira (16).

    O sepultamento ocorreu por volta das 18h desta sexta (17), após exames no IML (Instituto Médico Legal). A família teve que se deslocar de Castelo do Piauí (a 190 km de Teresina) para realizar o enterro. Devido o clima de tensão na cidade, os familiares resolveram enterrar o adolescente na capital piauiense.

    Muito abalada e chorando, a mãe do adolescente Elisabete Vieira da Silva, 35, pediu perdão ao filho. Ela está gravida de três meses.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "Perdão meu filho por estar te enterrando aqui e não em sua casa", disse. Ela estava acompanhada do marido, padrasto de Gleison, e de duas filhas –uma de 14 anos e outra de 15 anos, que está gravida de cinco meses.

    A irmã do adolescente pediu para ver o irmão, mas não foi autorizada a abertura do caixão. A cerimônia foi acompanhada por policiais.

    Maria Francisca Vieira, 65 anos, tia de Gleison, jogou flores em cima do caixão e disse que foi melhor fazer o enterro em Teresina. Ela disse que o clima é de insegurança e de ameaças a atear fogo no corpo.

    "A gente decidiu enterrar aqui porque quando a família estava saindo de Castelo, algumas pessoas ameaçaram tocar fogo se levássemos o corpo para lá. Ficamos com medo", contou.

    Assista

    Gleison Vieira da Silva, 17, morreu após levar socos e pontapés e de ter a cabeça batida contra o chão, por volta das 23h, na cela "D" do centro educativo. Ele chegou a ser socorrido por uma equipe de enfermeiros, mas não resistiu e morreu.

    O adolescente foi o responsável por delatar os outros três adolescentes. Ele deu detalhes do caso à polícia e participou da reconstituição do crime. Ao contrário dos outros acusados, Gleison, perante o juiz, manteve a confissão feita pelos quatro anteriormente à polícia de que estupraram e agrediram as quatro vítimas –uma delas, Danielly Rodrigues Feitosa, 17, que morreu.

    "Eles já confessaram o crime, e este foi um ato de vingança. A princípio a rotina iniciou-se bem, mas fomos surpreendidos e é como um lobo na pele de cordeiro. Foi uma abordagem covarde e de traição", disse Anderlly Lopes, diretor de Atendimento Socioeducativo da Secretaria de Estado da Assistência Social.

    Os quatro adolescentes foram transferidos nesta quarta-feira (15) para o CEM. Antes, estavam no Ceip, unidade de internação provisória, sendo que Gleison permanecia sozinho, isolado dos outros três colegas, o que não ocorreu no CEM.

    Divulgação/Polícia Civil PI
    Gleison foi morto dentro do CEM em Teresina (PI) com socos e pontapés
    Gleison foi morto dentro do CEM em Teresina (PI) com socos e pontapés

    CONDENAÇÃO

    Os adolescentes suspeitos do homicídio, de 15 e 16 anos, foram condenados a 24 anos de internação pelo crime de estupro coletivo, tentativa de homicídio e pela morte da estudante Danielly Rodrigues Feitosa.

    Na decisão, o magistrado entendeu, de acordo com a jurisprudência do STJ (Superior Tribunal de Justiça), que o tempo de internação deveria ser de 24 anos para eles –oito vezes os três anos previstos no ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Na prática, porém, nenhum dos adolescentes ficará internado 24 anos, já que o ECA estabelece que, ao completar 21 anos, o condenado deve ser liberado automaticamente.

    O juiz da 2ª Vara da Infância e do Adolescente, Antônio Lopes, determinou a transferência dos três adolescentes para o Complexo da Cidadania, no bairro Redenção. Eles estão em celas separadas. "Eles não têm condições de voltar para o CEM, pois se eles voltarem, podem morrer. Já existem ameaças dos internos lá dentro".

    No CEM, onde há 80 adolescentes mas a capacidade é de 60, os internos fizeram motim e não aceitam a presença dos três adolescentes de Castelo.

    Penas aos condenados/Editoria de Arte/Folhapress

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    CRONOLOGIA

    27.mai
    Quatro jovens são estupradas e atiradas do Morro do Garrote, em Castelo do Piauí. Um maior e quatro menores de idade são presos nos dias 28 e 29

    1º.jun
    Os quatro adolescentes apontados de cometerem o crime são transferidos do centro socioeducativo, em Teresina, para o Ceip

    7.jun
    Danielly Rodrigues Feitosa, 17, uma das vítimas, morre após dez dias internada. No dia 13, sua missa de sétimo dia reúne mais de 500 pessoas

    11.jun
    Começa o julgamento dos quatro jovens, dias após Gleison Vieira da Silva, 17, delatar que cometeu o crime com os colegas

    15.jun
    Ministério Público do Piauí entrega denúncia contra Adão José de Souza, 40, citado como líder do crime. Pena pode ser de mais de 150 anos

    10.jul
    Decisão jurídica de 24 anos de internação para os jovens. No Ceip, Gleison da Silva fica em cela separada dos outros três

    15.jul
    Às 17h, os menores culpados do crime são transferidos para o CEM, após permanecerem prazo máximo no Ceip. Lá, os quatro ficam na mesma cela

    16.jul
    Gleison Vieira da Silva, 17, é morto. A suspeita é que seus colegas de cela –que cometeram o crime junto com ele– o tenham matado por volta das 23h

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