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    'Marginais precisam ser tratadas como avenidas', diz diretor da CET

    ANDRÉ MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    23/07/2015 02h00

    O urbanista responsável pelo planejamento do trânsito de São Paulo na gestão Fernando Haddad (PT) defende que as marginais Tietê e Pinheiros sejam tratadas como avenidas –e que essa ideia seja reforçada após a conclusão do Rodoanel Norte, em 2017.

    "A marginal foi concebida lá atrás para ser uma ligação entre estradas, quando a cidade nem existia ali ainda, mas agora a cidade já a abraçou", diz Tadeu Leite Duarte, 56, diretor de planejamento da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), um dos idealizadores da polêmica redução de velocidade nas vias.

    Desde segunda-feira (20), as máximas caíram de 90 km/h para 70 km/h na pista expressa, de 70 km/h para 60 km/h na central e de 70 km/h para 50 km/h na local.

    O diretor diz que a medida foi inspirada em países europeus e que a partir de setembro será possível avaliar os primeiros resultados de eficácia.

    A OAB decidiu ir à Justiça contra a redução dos limites e a Promotoria abriu investigação –nesta quarta (22), após reunião com Duarte, pediu mais dados e questionou se a velocidade é a principal causa de mortes em acidentes.

    Leia trechos da entrevista concedida por ele à Folha:

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Urbanista Tadeu Leite Duarte, diretor da CET responsável pelo planejamento do trânsito da cidade de São Paulo
    Urbanista Tadeu Leite Duarte, diretor da CET responsável pelo planejamento do trânsito da cidade de São Paulo

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    Folha - Muitos motoristas só estão freando antes do radar. Isso não causa acidentes?

    Tadeu Leite Duarte - O problema que já existia antes vai continuar. Mas agora a velocidade é menor.

    Existe uma questão teórica debatida no país que é a fiscalização por velocidade média [com radares que calculam a velocidade média dos veículos entre dois pontos].

    Os equipamentos de fiscalização que foram contratados na nova licitação preveem a possibilidade de usar essa ferramenta, mas isso não está homologado ainda. Seria uma ferramenta absolutamente eficiente.

    Por que a CET diz ter expectativa de melhora na fluidez com a redução dos limites?

    Não é o principal, mas é uma das possibilidades. A quantidade de veículos na via é maior a 50 km/h do que a 70 km/h porque eles ocupam menos espaço individualmente [podendo manter uma distância segura menor entre eles]. Pode até formar fila, mas ela não está parada.

    Com a velocidade reduzida, é possível entrar e sair da pista com uma velocidade que gera menos turbulência. Então um subproduto que de fato pode acontecer é melhorar um pouco a capacidade da via, escoar mais veículos.

    Como será monitorado isso?

    Tem um tempo de acomodação. Ainda estamos nas férias [escolares]. Mais do que tudo, temos que ver o resultado da acidentalidade.

    As estradas que chegam às marginais têm limites maiores. Não é uma mudança brusca?

    Conversamos com as concessionárias [de rodovias] e eles tomaram todas as providências para garantir que essas alterações não impactassem. As velocidades na aproximação já vinham sendo mais ou menos ajustadas.

    Há avenidas menores com limite maior que a marginal. Isso não pode causar confusão?

    É um processo. Começamos a implantar as "áreas 40" [com limite de 40 km/h] em outubro de 2013. Em 2011, a administração [de Gilberto Kassab, do PSD] reduziu a velocidade em 600 km de vias, mudaram de 70 km/h para 60 km/h. E me parece que deu resultados interessantes.

    Em 3 de agosto será reduzida a velocidade nas avenidas Jacu-Pêssego e Aricanduva, que têm um nível de acidentes considerável. Depois que acabarmos a avaliação dessas medidas, podemos discutir outras vias.

    A redução da avenida 23 de Maio está na lista?

    Vai ser avaliada, nós temos uma ordem das vias com mais acidentes. O tema básico da CET é segurança com fluidez, mas segurança em primeiro lugar.

    O padrão nacional é 80 km/h nas vias de trânsito rápido, como as marginais. Mudar isso não causa confusão?

    Não, porque o código de trânsito diz o seguinte: o poder público pode sinalizar quando quiser informar qual a velocidade que se deve desenvolver, considerando as características técnicas de cada um dos locais. As marginais foram sinalizadas, e quando você tira a carteira [CNH] você aprende que tem que olhar a sinalização.

    A administração anterior achou por bem manter [a velocidade na pista expressa das marginais] a 90 km/h, mas no código diz 80 km/h. Uma pena, porque os acidentes com vítimas continuaram.

    Temos que entender que a marginal é pista rápida, mas só um trecho. Ela foi concebida lá atrás [na década de 1950] para ser uma ligação entre estradas, quando a cidade nem existia ali ainda.

    Mas agora a cidade já a abraçou. Ela está envolvida com o restante da cidade, algumas pessoas, por questões sociais, optam até por morar ao lado, outras optam por vender as coisas ali.

    O que será feito com os moradores de rua e ambulantes que podem ser atropelados?

    Está sendo desenvolvido um trabalho em conjunto com as secretarias de Desenvolvimento Social, Subprefeituras e Segurança Urbana.

    Essas pessoas são uma parte significativa das vítimas e são as mais vulneráveis. Foram 73 mortes em 2014, das quais 25 pedestres que estavam ali e foram atropelados. Mas 48 vítimas eram pessoas que estavam dentro dos veículos. Então não é só o pedestre, a maior parte das pessoas que morreram na marginal são os ocupantes de veículos, e isso está relacionado diretamente com a questão da velocidade.

    As avenidas que desembocam na marginal também serão padronizadas em 50 km/h?

    Sim, se tudo isso que nós estamos fazendo repercutir de fato da maneira que estamos esperando. As próximas são a Jacu-Pêssego e a Aricanduva. A partir de setembro vamos ver o que fazer, que pode envolver essas vias todas que passam na marginal.

    O Rodoanel, ficando pronto, fecha a conexão das rodovias. O que deve mudar?

    A ideia básica é que, se você não tem que passar por dentro da cidade, deixa a cidade para quem precisa usufruir dela, com segurança. Quando sair o Rodoanel Norte, provavelmente essas características da marginal vão mudar. E aí quem estiver aqui vai poder pensar em alterações, transformar ela de fato em uma avenida. Nós já enxergamos ela hoje como uma avenida, porque já faz uma ligação entre bairros.

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    RAIO-X - Tadeu Leite Duarte

    Formação
    Arquiteto e urbanista pela Universidade Guarulhos

    Carreira
    Na CET há 38 anos, entrou como operador de rádio

    Cargo
    Diretor de planejamento e educação de trânsito da CET

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