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    Lei de Zoneamento

    Manicure e clientes são vizinhas em bairro de alto padrão

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    02/08/2015 02h00

    Só uma rua os separa no Real Parque, bairro rico/pobre na zona sul paulistana. Quem vive lá, pobre/rico/classe média, são vizinhos na marra. São cem metros de distância: de um lado, a Cohab; do outro, prédios com piscinas e varanda gourmet.

    De um lado, carros populares ou velhos se amontoam na rua estreita: na Cohab, onde vivem 1.246 famílias, não há garagens. Do outro, veículos mais caros se enfileiram para entrar nos condomínios.

    De um lado, os moradores do conjunto popular reclamam do preço do mercado "deles". "Muito caro", diz Iraci Ferreira, 55, doméstica.

    E "eles" se queixam do barulho dos "outros". "Não consigo dormir no fim de semana com o som do funk que vem de lá", reclama Rodrigo De Masi, 40, dono de um salão de cabeleireiro.

    Até 2011, o empresário via uma favela da sua janela. "A chegada da Cohab melhorou o bairro. Está mais bonito visualmente", diz. "Mas vamos gravar um vídeo do baile funk e mandar para a TV ou para a polícia", afirma.

    No salão de De Masi, a assistente social Regina Oliveira, 60, faz as unhas. Mora há 20 anos em um prédio do Real Parque. "A Cohab trouxe dignidade para essas pessoas, que viviam em barracos, com esgoto a céu aberto. Mas esse baile funk é um inferno."

    E continua: "A convivência é boa, desde que a gente não se encontre. Quer dizer, desde que nos encontremos em ambientes pacíficos, como esse salão", completa.

    Quem pinta sua unha é a manicure Francisca do Nascimento, 53, que é vizinha, mas vive na Cohab. Para ela, o baile funk na rua é um "inimigo" comum."A gente também sofre com o barulho, eu mesma durmo com um algodão no ouvido todo fim de semana", diz, com um esmalte na mão.

    Clique na infografia: Zeis de São Paulo

    SEIS DÉCADAS DE FAVELA

    O aposentado José Santana, 72, não frequenta os shopping centers ou restaurantes da região da avenida Luís Carlos Berrini, onde fica o Jardim Edite. "Nunca fui. Não existe essa convivência", diz.

    Santana morou por quase 60 anos em favelas no Brooklin. "Quando cheguei aqui, em 1958, era tudo mato e barraco. Os prédios chiques é que invadiram nossa área", ri.

    A vista de sua janela é de cartão-postal e cenário dos jornais da Globo: a ponte Octavio Frias de Oliveira, conhecida como ponte Estaiada. Já recebeu propostas para vender ou alugar seu apartamento, mas sempre nega.
    Antes da quitação, a venda ou a locação de imóvel da Cohab é proibida. Quem desrespeita é excluído de programas sociais. O comprador pode ser desapropriado.

    Em locais como Jardim Edite e Real Parque, que têm mais assédio de compradores, funcionários da Cohab fazem blitz para checar se quem vive no local é o dono de fato.

    Editoria de Arte/Folhapress
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