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    Centro para tratar dependentes vira casa de amiga de prefeito paulista

    RICARDO HIAR
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CARAGUATATUBA (SP)

    04/08/2015 12h10

    Uma área com 30 chalés, duas piscinas, refeitório, salão de jogos e playground, desapropriada em 2011 pela Prefeitura de Caraguatatuba para servir como espaço para o tratamento de mulheres com dependência química, tem sido usada há mais de três anos como moradia por uma funcionária pública e sua mãe.

    De acordo com a própria Prefeitura de Caraguatatuba, moram no local Bruna de Oliveira da Silva, funcionária pública que trabalha numa creche no bairro Morro do Algodão, e a mãe dela, Gorete Fátima Oliveira, que se apresenta nas redes sociais como amiga do prefeito, Antonio Carlos da Silva (PSDB).

    Chamado de Centro de Recuperação de Mulheres Dependentes, o serviço de tratamento a dependentes funcionou no terreno de 4.095 m², no bairro Porto Novo, por pouco mais de um ano e meio, em convênio firmado com a Igreja Renascer.

    O tratamento das mulheres foi interrompido em dezembro de 2013 porque, segundo a Secretaria de Assistência Social, a igreja "não atendeu à demanda estipulada". Já a igreja diz que o município "rescindiu o convênio sem dar explicações" e que todas as mulheres encaminhadas ao local atendiam aos critérios de internação.

    No local, chegaram a ser atendidas, segundo a Igreja Renascer, cerca de 30 mulheres –eram oferecidas, gratuitamente, 60 vagas para mulheres a partir de 18 anos. Elas tinham acesso a todos os espaços e ficaram de três a seis meses no local, que teve cerca de 20 funcionários.

    A administração não explica por que Gorete e a filha moram ali, mas afirma que ambas estão lá desde 3 de março de 2012. Nas redes sociais, Gorete publicou fotos no interior do imóvel. Em uma delas, aparece ao lado do prefeito e outras duas pessoas. "Meus amigos!!!", diz a legenda.

    Antes de ser desapropriada por R$ 600 mil, a estrutura era utilizada como colônia de férias dos delegados.

    'TEMPORADAS'

    Um morador do bairro, que não quis se identificar, diz que sempre há movimento no local. O imóvel está bem conservado e tem característica de pousada. "Nas férias e nas temporadas, vem ainda mais gente", conta o morador.

    Em nota, a prefeitura afirma que o imóvel é utilizado para abrigar o reforço policial que chega à cidade na alta temporada. Os policiais são alojados nos chalés e podem usufruir de todos os espaços. A administração diz ainda que, embora as mulheres morem no local, paga as contas de água e luz. A conta telefônica é bancada pelas moradoras.

    Hoje, mulheres com dependência química na cidade são encaminhadas para uma triagem do serviço de assistência social. De lá, são destinadas a centros de referência no Vale do Paraíba. Segundo a prefeitura, existe um projeto para uma nova clínica no local, mas ainda não há previsão de início.

    A Folha, que visitou o local, tentou falar com as duas moradoras, mas não conseguiu. A reportagem também procurou ambas pelas redes sociais, mas não houve retorno até esta terça-feira (4).

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