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    Com medo, universitário leva canivete e spray de pimenta à USP

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO
    LAURA LEWER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    09/08/2015 02h00

    Letícia (nome fictício), 22, leva spray de pimenta. Talita, 25, também, junto com um canivete. Giselle, 37, só vai de tênis –assim fica mais fácil correr dos bandidos.

    As três usam os aparatos para ir à USP. Como elas, estudantes da melhor universidade do país incorporaram à rotina uma série de métodos para se prevenir da violência na Cidade Universitária, no Butantã (zona oeste de SP).

    As estratégias incluem pagar vigias por escolta, andar em grupo, mudar trajetos e pedir carona aos pais.

    Cerca de 60 mil pessoas frequentam a Cidade Universitária, incluindo alunos, professores e funcionários.

    De janeiro a julho deste ano, a USP registrou 129 furtos, 33 roubos, dois sequestros, três sequestros relâmpago e um estupro –de uma aluna de 17 anos da Faculdade de Economia e Administração, em junho.

    O crime ocorreu na praça do Relógio, área central do campus, às 18h, e agravou a sensação de insegurança.

    Com 3,6 milhões de metros quadrados de área –mais que o dobro do Parque Ibirapuera–, a Cidade Universitária tem a segurança patrimonial feita por 47 guardas universitários, e a Polícia Militar é livre para circular.

    Em breve, o sistema será alterado. Em acordo com a Secretaria da Segurança, a universidade estuda implantar um modelo de policiamento comunitário inspirado em um programa japonês. A previsão é que a PM, em parceria com a guarda universitária, faça uma ação mais preventiva.

    Além disso, como medida contra a violência, todos os arbustos do campus serão cortados, diz o chefe de segurança da USP, professor José Antonio Visintin, que também admite falta de guardas.

    MULHERES

    Com medo, as mulheres hoje são as que mais recorrem a estratégias de segurança.

    Aluna de letras, Talita Vasconcelos, 25, conta que já teve de usar o spray de pimenta uma vez, voltando de uma festa na ECA (Escola de Comunicações e Artes), quando foi abordada por um rapaz que parecia estar drogado.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Já Giselle Cota, 37, ex-aluna e integrante de um coral da USP, recorre sempre a calças compridas, além do tênis.

    "Sofro com o calor, mas não venho com pernas de fora", diz. "Acho ótimo quando vejo meninas usando o que querem, porque é o certo, mas nunca tive coragem."

    Perto do Instituto de Ciências Biológicas, mulheres que não se conhecem se juntam também por medo. Para acessar uma saída de pedestres em direção à Vila Indiana e ao Jardim Rizzo, bairros próximos à universidade, reúnem-se quando descem do ônibus e caminham em grupo.

    Nessa mesma saída, que tem uma portaria e dois seguranças terceirizados, vigias do bairro buscam alunos de moto.

    Para outros estudantes, a carona é dada pelos pais. A médica Filumena Gomes, 58, busca a filha de 23 anos, estudante de jornalismo, todas as noites. Às vezes leva também as amigas que moram em bairros próximos. "É uma área pública sem segurança pública", reclama.

    Uma mãe que preferiu não ser identificada conta que busca a filha na porta da faculdade de odontologia todos os dias desde 2012. "É um lugar enorme, com segurança zero. Não confio, em nenhuma hora do dia", diz.

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