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    Kenji Konishi, 51

    'PM na USP vai ser amigo do aluno, não do infrator', diz coronel

    JULIANA GRAGNANI
    DE SÃO PAULO

    13/08/2015 02h00

    O coronel Kenji Konishi, 51, sabe que parte dos alunos da USP (Universidade de São Paulo) rejeita a presença da Polícia Militar na Cidade Universitária. "Nosso maior desafio é fazer com que a comunidade nos aceite", diz ele, sobre a proposta de implementar um modelo de polícia comunitária na universidade.

    Hoje, há 180 bases de policiamento comunitário no Estado de São Paulo –cerca de 3.000 PMs, segundo o coronel, trabalham com o modelo, implantado em 2005. Desde o início do ano, Kenji é diretor da Polícia Comunitária e de Direitos Humanos da PM.

    Inspirado num programa japonês, o mecanismo prevê uma base física, o Koban, e uma ação mais preventiva e envolvida com a comunidade. A proposta desse modelo para a USP ainda será apresentada a professores.

    Kenji disse que a polícia não irá interferir em manifestações na universidade, mas afirmou que alunos encontrados com drogas serão abordados –a PM deve ser amiga do aluno, não do infrator, disse ele à reportagem.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    O coronel Kenji Konishi, diretor da Polícia Comunitária da PM que deve atuar na USP
    O coronel Kenji Konishi, diretor da Polícia Comunitária da PM que deve atuar na USP

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    Folha - O que é a polícia comunitária e o sistema Koban?
    Coronel Kenji Konishi - O sistema Koban fixa o mesmo PM numa determinada região. Esse policial inicia seu patrulhamento a partir de uma instalação física que no Japão é chamada Koban. É uma base de onde o PM sai para fazer visitas, palestras, entrevistas. Ou seja, ele se inteira dos problemas da comunidade para dirigir seus esforços em prol da resolução deles.

    Por que esse modelo é a melhor solução para a USP?
    A PM sempre esteve presente na USP. O que falta são as ações de polícia comunitária que os policiais que lá estão precisam realizar. Isso nunca ocorreu, até por causa da rejeição que existe em relação à PM por parte de alguns segmentos. Nosso maior desafio é fazer com que a comunidade nos aceite.

    Como será a integração se existe essa rejeição?
    A rejeição não é da maioria da comunidade uspiana, é de alguns segmentos. Não é total. Se realizarmos uma pesquisa que envolva docentes, alunos e servidores, vamos com certeza chegar à conclusão de que a esmagadora maioria é favorável à presença da PM.

    E a integração com quem não é favorável?
    Aqueles que ainda têm essa rejeição em relação à PM têm que entender que os tempos são outros. A sociedade é outra, e a polícia é outra.

    Mas existe algum plano para fazer a aproximação com os segmentos que rejeitam a PM?
    É justamente o policiamento comunitário. Serão sempre os mesmos policiais que vão atuar na USP, [isso] gera uma relação de confiança. A nossa ideia é que a comunidade conheça o PM pelo nome.

    Qual será o perfil desses PMs?
    Estamos apostando na empatia. Pretendemos que as características desse PM sejam o mais próximas possível da comunidade, com mais ou menos a mesma idade dos alunos, que sejam universitários ou que tenham concluído o ensino superior.

    Quais são os pontos críticos da USP?
    A USP não é mais um local isolado em que só entram alunos, professores e servidores. A USP hoje é uma rota de passagem porque possui três portões de veículos e várias entradas de pedestres. A USP é margeada por uma comunidade carente. Muitos criminosos se aproveitam da vulnerabilidade dessa comunidade para de lá partirem.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    Brasão da Diretoria de Polícia Comunitária da PM, que deve atuar na USP sob o comando do coronel Kenji Konishi
    Brasão da Diretoria de Polícia Comunitária da PM, que deve atuar na USP sob o comando do coronel Kenji Konishi

    Qual será a ação preventiva direcionada a esses dois pontos?
    A presença ostensiva, a integração com a guarda universitária, a aproximação da comunidade, orientações junto à prefeitura da USP naquilo que for da competência dela, como iluminação.
    A USP é um local público. Em hipótese alguma pretendemos que ela restrinja a entrada. Mas podemos melhorar o controle de quem entra, através de um monitoramento por câmera, de um simples questionamento, como "podemos ajudar?" etc.

    Como casos de assédio e de estupro serão prevenidos?
    Muitas vezes a polícia não tem medidas diretas de prevenção ao assédio sexual. Isso tem que ser realizado com o auxílio da universidade. Agora, com casos de estupro que ocorrem no ambiente público, temos o dever e a capacidade de tentar evitar por meio da presença ostensiva.

    Como vai ser a atuação da polícia comunitária em manifestações e greves na USP?
    A PM que vai trabalhar na USP de maneira alguma interferirá em manifestações. Se houver quebra da ordem e violência, quem fará a intervenção serão outros policiais.
    O policial comunitário da USP tem que ser amigo da comunidade. E muitas vezes essa amizade vai fazer com que o policial não possa intervir, para que não crie uma animosidade, rejeição posterior.

    E quanto ao uso de drogas no campus?
    O PM já recebeu um treinamento para que utilize o princípio da oportunidade. Se for o momento mais adequado de tomar uma providência, ele assim o fará.

    Como assim?
    Dou um exemplo. Um PM vê de longe três veículos, e em cada porta de um veículo tem um criminoso com um fuzil. Há mais dez criminosos, todos armados, roubando um caixa eletrônico. Posso exigir que o PM faça uma intervenção? Não posso exigir.
    No caso da USP, se um PM vir um aluno consumindo drogas e houver a possibilidade de fazer uma abordagem segura, sem que tanto policial quanto aluno sofram qualquer tipo de lesão ou qualquer tipo de comprometimento, ele vai fazer a abordagem. Se não, vai aguardar o momento mais oportuno.

    Que momento é inoportuno? Alunos da USP não costumam andar com fuzis.
    Nem todos os momentos são oportunos. O policial vai avaliar o momento mais oportuno e conveniente.

    Na prática, qual será o procedimento de um PM se encontrar um aluno fumando maconha na USP, por exemplo?
    O PM, se vir qualquer ato que seja contrário à lei, por dever de ofício vai ter que adotar providências. Ele vai ter que fazer a abordagem.

    E que momento é inoportuno?
    Se esse aluno está no meio de uma sala de aula, de repente não é o momento mais oportuno de ir lá, invadir a sala de aula, causar um pânico, porque esse aluno pode resistir... É verificar o local, a conveniência. O policial sempre vai ter o dever de agir.

    O sr. disse que o PM tem que chegar num ponto em que é considerado amigo do aluno... Como esse conceito vai funcionar nesses momentos?
    Amigo do aluno, não do infrator. Se ele constatar que no meio daquela comunidade existe um infrator, independentemente de essa pessoa pertencer à comunidade, ela tem que ser levada à presença da autoridade policial.

    Adriano Vizoni/Folhapress
    O coronel Kenji Konishi, diretor da Polícia Comunitária da PM que deve atuar na USP
    O coronel Kenji Konishi, diretor da Polícia Comunitária da PM que deve atuar na USP

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