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    Aplicativos levam motoristas a áreas dominadas por criminosos

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    16/08/2015 02h00

    Em uma sexta-feira de março, o ator Tadeu Aguiar estava a caminho do teatro quando deu de cara com um engarrafamento típico da hora do rush no Rio. Olhou o aplicativo de trânsito Waze, que sugeriu duas rotas de fuga.

    A primeira levaria uma hora e meia. A segunda, três. Optou pela mais rápida, sem saber que passaria pelo Complexo da Pedreira, conjunto de favelas controlado por uma facção criminosa. Acabou roubado. "Hoje só uso Waze se conhecer bem o lugar aonde estou indo", diz.

    Alex Carvalho /Divulgação/TV Globo
    A atriz Fabiana Karla, que seguiu GPS e foi parar na favela
    Fabiana Karla seguiu GPS e foi parar na favela

    Casos como esse alertam para o risco de se ter confiança cega nos serviços de GPS. Eles podem errar ou indicar caminhos mais rápidos, porém com riscos à segurança.

    Na última semana a atriz Fabiana Karla, da TV Globo, passou por uma situação parecida. Seguindo as indicações de um GPS foi parar dentro de uma favela em Niterói, região metropolitana do Rio.

    Homens armados cercaram o veículo e, na fuga, o carro foi atingido por tiros. Ninguém ficou ferido.

    "95% dos aparelhos de GPS têm uma margem de erro de localização de 10 metros. Os outros 5% podem ter muito mais, chegando a 200 metros", diz o professor de engenharia de transporte da Poli-USP Edvaldo Fonseca Jr.

    Mesmo quando não erra, o GPS não leva em conta o contexto do caminho sugerido.

    "Esse tipo de confusão acontece o tempo todo", diz o taxista carioca Marco Santos. "Como conheço a cidade, não sigo o caminho sugerido se achar suspeito."

    Veja infográfico

    CAMINHOS

    As empresas de GPS encaram cada uma a sua maneira o desafio de evitar que o usuário caia em uma roubada.

    A holandesa TomTom, uma das principais marcas de GPS, permite que o motorista evite favelas.

    Segundo a Imagem, empresa distribuidora da TomTom no Brasil, o aparelho se baseia em dados do IBGE para identificar a localização de favelas e evitar sugerir caminhos que passem dentro delas.

    Para a empresa, a prática não discrimina os moradores desses locais. O usuário pode colocar no GPS um endereço dentro de uma favela que o TomTom vai encontrá-lo.

    O Google Maps não leva em conta o contexto do caminho que sugere para o motorista.

    O Waze pode bloquear uma região, mas só se as autoridades proibirem o acesso a essas áreas, como em tempos de guerra.

    "No momento não temos uma maneira para que os usuários marquem as rua como 'perigosas'", disse por e-mail a diretora de comunicação do Waze, Julie Mossler.

    O contador Moaci Alves, 36, dirigia por uma avenida congestionada na zona leste de SP e queria fugir do trânsito. "O Waze me mandou virar à direita. Dei de cara numa favela. Era uma rua estreita, vazia. Vielas sempre deixam a gente com medo de ser roubado, mas não aconteceu nada."

    Ricardo Borges/Folhapress
    O taxista Marco Santos só segue rotas que não são suspeitas
    O taxista Marco Santos só segue rotas que não são suspeitas

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