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    PMs suspeitos de chacina estavam de plantão no momento dos crimes

    LUCAS FERRAZ
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    28/08/2015 02h00

    Pelo menos sete dos 18 policiais militares suspeitos de participação nas mortes em série de duas semanas atrás na Grande São Paulo estavam de plantão na corporação no momento do crime.

    A informação, que consta de documentos enviados pela Corregedoria da PM à Justiça Militar, pode ser um álibi na defesa dos suspeitos ou indicar que seus superiores foram omissos ou coniventes com a atuação dos policiais.

    Os assassinatos numa só noite em Osasco e Barueri totalizaram 19 nesta quinta-feira (27), após a morte de uma garota de 15 anos que estava internada desde a noite do crime. Para lembrar as vítimas da chacina, um grupo de manifestantes da ONG Rio da Paz colocou 19 sacos pretos com corpos feitos de papel e com os nomes dos mortos na calçada do vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo) na avenida Paulista, região central de São Paulo, nesta sexta (28).

    Os sete policiais –um sargento, um cabo e cinco soldados– integram o policiamento de moto do 42º Batalhão de Osasco, a Rocam, responsável pela segurança da região dos ataques.

    Eles estão entre os 18 PMs que foram alvos de mandados de busca e apreensão, no fim de semana, cumpridos por ordem da Justiça Militar após pedido da corregedoria.

    As mortes na noite do dia 13 em Osasco ocorreram, segundo os registros oficiais, num intervalo inferior a duas horas, a partir das 20h50. Já os policiais, segundo documentos da corregedoria, "foram liberados normalmente" do trabalho às 23h.

    Em despacho, o juiz Marcos Fernando Pinheiro diz estranhar a liberação dos militares exatamente quando a PM precisava de reforços por causa dos ataques que ocorreram naquela região.

    "[Eles] Saíram do serviço nesse mesmo dia às 23h e, mesmo com a demanda operacional dessa natureza, saíram reunidos para [...] confraternizarem", diz trecho do documento do juiz.

    O magistrado se refere à ida dos sete PMs a uma casa de shows na zona norte. Lá, segundo documentos da corregedoria, fizeram questão de registrar a presença como forma de conseguir um álibi.

    A investigação da PM também suspeita que eles saíram para "comemorar as ações que acobertaram ou que tenham participação".

    Testemunhas da chacina afirmaram que alguns dos atiradores usavam coturnos. Outra testemunha ouvida pela corregedoria disse que um dos carros ocupados por criminosos chegou a ser escoltado por um veículo da PM.

    Para o ouvidor das polícias, Julio Cesar Neves, se confirmada a participação de PMs em serviço, será um "completo absurdo". "É uma aberração imaginar que quem tirou a vida das pessoas pode ser aquelas que eram pagas para protegê-las. Uma barbárie."

    Procurada, a Secretaria da Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) não informou se os comandantes de Osasco e de Barueri serão mantidos nos cargos e o porquê de os policiais terem sido liberados às 23h.

    Até a noite desta quinta-feira, apenas um PM havia sido preso pela suposta participação na chacina.

    O soldado Fabrício Emmanuel Eleutério, 30, teve a prisão preventiva decretada pela Justiça Militar, horas depois de a Justiça comum ter negado esse mesmo pedido feito pela Polícia Civil.

    Uma testemunha da chacina disse ter reconhecido Eleutério por fotos mostradas a ela pela PM. A defesa do policial diz que poderá provar a inocência do soldado, inclusive por meio de telefonemas que ele fez naquela noite.

    Clique no infográfico: Chacina na Grande SP

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