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    Neurocientista negro diz ter sido barrado em hotel em SP

    FERNANDA MENA
    DE SÃO PAULO

    29/08/2015 07h45 - Atualizado às 10h41

    Daniel Marenco/Folhapress
    Carl Hart é professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos
    Carl Hart é professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York, nos Estados Unidos

    Primeiro neurocientista negro a se tornar professor titular da Universidade de Columbia, em Nova York (EUA), Carl Hart, 48, diz ter sido barrado na quinta-feira (27) na entrada do hotel cinco estrelas onde se hospedaria e ministraria uma palestra a convite do seminário do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCrim), em São Paulo.

    A Folha entrou em contato com Hart na noite de sexta (28) para confirmar informações que circulavam sobre o suposto constrangimento ao neurocientista.

    Quando questionado sobre se ele havia sido impedido de entrar no hotel, o pesquisador respondeu por e-mail: "É verdade, mas foi [algo] menor". Hart, porém, não deu detalhes do que ocorreu na ocasião.

    Procurada pela reportagem na manhã deste sábado (29), a gerência do hotel Tivoli Mofarrej, nos Jardins (zona oeste de São Paulo), negou que tenha barrado o hóspede. Imagens do circuito interno apresentadas à Folha indicam que, até entrar em seu quarto, Hart não foi abordado por funcionários do estabelecimento.

    As gravações mostram o palestrante chegando ao hotel acompanhado de um homem, na manhã de quinta. Durante a entrada e a passagem deles pelo saguão e pela área do evento, a circulação dos dois ocorre sem impedimentos. Quando voltaram à entrada para buscar a mala do cientista, os dois são abordados por organizadores do evento.

    Não é possível ouvir o que é conversado, mas, em seguida, Hart se dirige à recepção do hotel com a ajuda do homem que o acompanhava, onde faz o check-in. Logo depois, ele segue sozinho para o quarto.

    PALESTRA

    A palestra de Hart no evento foi sobre como a guerra às drogas tem sido usada para atingir certos grupos sociais mais vulneráveis, entre eles, jovens pobres e negros, em lugares como o Brasil e os EUA.

    Durante sua palestra, Hart percebeu que era o único negro no auditório no qual falou para advogados criminalistas e juízes. "Vocês deveriam ter vergonha disso", disse ele à plateia.

    Em entrevista à Folha, Hart, que pesquisa drogas há 20 anos, disse que sua percepção sobre o assunto mudou drasticamente quando começou a "olhar para quem estava preso por crimes ligados às drogas nos EUA".

    "Apesar de os negros serem menos da metade dos usuários de drogas nos EUA, eles compõem muito mais da metade dos presos por causa de drogas. Um em cada três jovens negros americanos serão presos pelo menos uma vez na vida por causa das leis de drogas", explicou. "Ou seja, a guerra às drogas tem sido usada para marginalizar os pobres."

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