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    Contra nus, NY avalia reabrir Times Square para veículos

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    30/08/2015 02h00

    Depois de posar para dois retratos, um de costas para a câmera do celular, com as pernas nuas e calcinhas vermelhas listradas semitransparentes, o outro de frente, exibindo os seios pintados de vermelho e penachos na cabeça, a dupla de latinas lucrou apenas um dólar.

    Elas até protestaram, em espanhol, mas com carinho. Abraçaram e rebolaram para o consumidor, que se mostrou contente com a insistência, mas manteve a oferta. Uma delas, venezuelana, não quer conversa. A outra, colombiana, começou a descrever o negócio, mas parou para fazer mais uma sessão.

    A concorrência é farta. Na noite de quinta-feira (27), a Times Square, um dos cartões postais de Nova York, estava repleta de "desnudas". E "desnudos" também. São tantas e tantos, agora, que o prefeito da cidade, Bill de Blasio, estuda reabrir trechos da praça que foram fechados para os carros.

    A medida, tomada há seis anos pelo seu antecessor, Michael Bloomberg, causou polêmica. Mas acabou virando símbolo de ações para favorecer os pedestres na cidade.

    Além dos peladões, o espaço onde antes trafegavam carros abriga uma fauna diversificada. Turistas tiram fotos de fantasiados de Homem Aranha, Minnie, Super Mário, policiais –e de si mesmos.

    Um cowboy de cueca branca, botas e chapéu toca violão para ganhar um trocado. Um indiano, funcionário de um hospital das redondezas, chega nu, com um tapa-sexo preto, para falar sobre "liberdade corporal" com as latinas –que o ignoram.

    As desnudas dizem que só podem falar com autorização do seu "gerente". Abel Rios, 21, sobrevive no verão da "administração" de cinco mulheres. No inverno, diz que é vendedor em uma loja.

    Já são quatro anos assim. Agora, querer vetar a atuação do grupo seria "egoísta e irracional" da parte do prefeito, diz Rios. "Mostra que ele não está nem um pouco preocupado com os contribuintes que pagaram por toda a reforma da Times Square."

    De Blasio anunciou, há alguns dias, que, até outubro, tomará uma decisão, a ser examinada por um comitê, avaliando "prós e contras". Defensores do uso do espaço público por pedestres e ciclistas se opõem a eventual fechamento. Mas setores conservadores se mostram insatisfeitos com os rumos que a Times Square tomou.

    "Eu preferiria acabar com a coisa toda e voltar a como era antes", afirmou o policial William Bratton à rádio 1010WINS. Os agentes que vigiavam a praça na quinta-feira à noite disseram não poder se manifestar sobre o tema.

    O próprio de Blasio não se mostrou confortável com a exposição dos peladões. "Como ser humano e pai, não acho apropriado", afirmou.

    Para turistas brasileiros, a discussão passa ao largo. "Aqui, isso é normal. Nós é que somos muito preconceituosos no Brasil", opina a psicóloga Tatiana Laroca, 40. "Viemos passear e conhecer a cultura daqui. Não se pode acabar com essa atração", disse a brasileira.

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