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    Minha História

    Após furto, advogada apura crime e ganha indenização de R$ 100 mil

    (...) Depoimento a
    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    01/09/2015 02h00

    Após ter a casa no Alto da Boa Vista (zona sul de SP) furtada em 2014, uma advogada de 42 anos, que não quer ser identificada, investigou o caso e levou a polícia aos dois criminosos –que confessaram o crime.

    A apuração usou imagens de câmeras de segurança e páginas de redes sociais.

    Presos, os ladrões foram condenados a pagar a ela uma indenização de R$ 100 mil por objetos que não foram recuperados.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    A advogada de 42 anos, que não quis ser identificada, que teve a casa em São Paulo furtada
    A advogada de 42 anos, que não quis ser identificada, que teve a casa em São Paulo furtada

    *

    Foi num domingo de Carnaval, dia 2 de março de 2014. Saímos de casa por volta das 14h30 para visitar um familiar doente.

    Quando voltamos, vimos dois carros de polícia na porta de casa. Logo pensamos: deve ser um acidente. Mas o portão de pedestres estava arrombado. Quando entramos, a casa estava toda revirada.

    A sensação foi de nojo quando vi que tinham mexido em tudo -depois, lavei todas as roupas.

    Foi um momento de terror. Tudo o que guardamos nas gavetas estava no chão, revirado. Os bandidos pegaram facas da cozinha e colocaram nos quartos. Tinha uma na minha cama e outra no quarto das minhas filhas.

    Acho que a ideia deles era usar as facas contra nós, caso chegássemos de repente.

    Levaram nossos três computadores, iPad, iPods, roupas, relógios, perfumes e joias. Não deixaram nada. Eles ficaram aqui 55 minutos e encheram duas malas.

    Comecei as investigações no dia seguinte. Bati na casa dos vizinhos pedindo imagens de câmeras de segurança porque a nossa não estava funcionando no dia do crime.

    Assisti às imagens quadro a quadro tentando visualizar pontos importantes. Identifiquei as pessoas que entraram e depois imprimi as imagens.

    Passei para os seguranças das ruas próximas, vizinhos e policiais. Passamos a ficar atentos às pessoas que tivessem características semelhantes às dos bandidos.

    Passada a Quaresma, no dia 18 de abril, meu marido encontrou na rua um homem com as mesmas roupas que o assaltante da nossa casa usava: uma blusa azul, uma bermuda verde e boné vermelho.

    Ele chamou a polícia, que veio rapidamente e abordou o homem. Nesse meio tempo, uma vizinha de outra rua acionou os policiais porque a casa dela tinha sido invadida.

    Vimos pelas filmagens da casa dela que eram os mesmos que tinham roubado a nossa. O homem foi preso em flagrante e, a partir daí, surgiram mais informações.

    Fiz uma busca incansável nas redes sociais, sites de busca e Tribunal de Justiça a partir do nome do preso. Com o rosto e apelido do segundo, que a polícia me passou, eu o encontrei numa rede social. Em uma das fotos, ele usava uma blusa do meu marido.

    Todas as buscas foram feitas pelo celular nas madrugadas. Achei o endereço do assaltante e passei para a polícia. Ele foi preso e, na casa dele, ainda foi encontrada uma pistola.

    Os dois bandidos confessaram o crime. Um foi condenado a 2 anos e 6 meses de prisão e o outro, a 3 anos e 8 meses. Ambos tinham passagem por furto a residência.

    Depois do crime, quase tive síndrome do pânico. Senti uma tristeza profunda. A sensação era de insegurança depois de um desconhecido entrar na sua casa e vasculhar sua intimidade.

    Pusemos grade em todas as janelas. Minha filha de 11 anos questionou por que os bandidos assaltam e nós que temos de ficar presos em casa.

    Ela faz tratamento psicológico até hoje. Esses dias, falou para a terapeuta que antes imaginava a casa dela como um cofre, onde poderia guardar tudo o que era precioso. Agora, que os bandidos quebraram o cadeado desse cofre, ela disse que a casa passou a ser só uma construção.

    Recuperamos pouquíssimas coisas porque já tinham vendido tudo. Nossos computadores tinham coisas valiosas e sentimentais. Em julho, minha sogra morreu e lá tinha fotos e vídeos que nunca mais veremos.

    Mas, para comprovar a falta, eu tinha um arquivo com notas fiscais da compra e a fiação de equipamentos que eles tinham levado. Fiz uma planilha detalhada com fotos e dados do que foi roubado e apresentei ao juiz. Ele arbitrou uma condenação por danos materiais de R$ 100 mil.

    Por ser menos violento, o furto acaba sendo tratado com menos prioridade pela polícia. Mas a vítima pode ajudar. Em nenhum momento fizemos justiça com as próprias mãos. Apenas colaboramos com informações.

    Aprendi que não se deve deixar nada guardado. Se você ganha uma bebida especial e quer deixá-la para uma ocasião especial, essa ocasião é o dia em que você ganha. Também não se deve guardar joias no porta-joias. É o primeiro lugar que o bandido procura.

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