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    Apuração de chacina em SP expõe testemunhas que delataram PMs

    ROGÉRIO PAGNAN
    LUCAS FERRAZ
    DE SÃO PAULO

    02/09/2015 02h00

    A investigação da Polícia Militar do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para apurar a chacina que deixou 19 mortos no mês passado na Grande São Paulo expõe dados completos de testemunhas que depuseram contra PMs suspeitos pelo crime.

    Pelo menos quatro pessoas ouvidas tiveram seus dados (nome, filiação, endereços residencial e comercial, telefones) divulgados no processo em trâmite, sem nenhum sigilo, na Justiça Militar.

    Já na investigação a cargo da Polícia Civil foi decretado segredo de Justiça.

    Uma das testemunhas expostas pela Corregedoria da Polícia Militar é um tenente da reserva que, em entrevista à Folha, contou ter recebido ameaças de morte em ligações anônimas e pelas redes sociais.

    Ele afirma que vai processar o Estado por danos morais e pela exposição indevida de sua vida. "Meu depoimento foi completamente distorcido. Meu nome foi vinculado como parte, não como testemunha", disse.

    Ele prestou depoimento à Corregedoria da PM na condição de segurança de uma casa noturna na zona norte.

    Na noite do crime, no último dia 13, sete PMs foram ao local para uma confraternização, o que chamou sua atenção, já que todos atuavam em área de Osasco onde ocorreram os crimes.

    Todos os sete policiais integram o policiamento de moto do 42º Batalhão de Osasco. Eles foram liberados do serviço às 23h, minutos depois dos últimos ataques.

    A investigação da Corregedoria da PM diz que os policiais saíram para "comemorar as ações que acobertaram ou que tenham participação".

    OUTRAS TESTEMUNHAS

    Outras duas testemunhas expostas na investigação estavam com um dos 19 mortos na chacina, Rafael Nunes de Oliveira, 23.

    Elas também foram atingidas pelos disparos (não correm risco de morrer), que, segundo contaram no processo, foram feitos por homens que desceram de um carro prata num tradicional ponto de venda de drogas na Vila Menck, em Osasco.

    De acordo com o relato feito por uma das testemunhas do crime, uma jovem de 19 anos, o mesmo carro prata foi visto logo depois dos disparos escoltado por um veículo da PM ocupado por policiais, que davam risadas.

    A investigação da força-tarefa, marcada por disputas e críticas da Polícia Civil de atropelo da PM na sua condução, prendeu até agora só um soldado da Rota suspeito de envolvimento no crime.

    Dezoito PMs e um segurança particular estão sendo investigados. A principal hipótese é que o crime tenha sido uma vingança policial contra a morte de um cabo.

    Para o advogado criminalista Alberto Toron, "é um desleixo muito grande com a integridade dessas pessoas" expô-las na investigação: "É um equívoco e algo muito grave. Mesmo que elas não se enquadrem como testemunhas protegidas, me parece vital preservá-las, inclusive para evitar represálias".

    Procurada pela reportagem, a Secretaria de Segurança Pública do governo Alckmin não respondeu aos questionamentos sobre a exposição das testemunhas. O órgão limitou-se a dizer que, "nos casos necessários, a Polícia Civil solicita à Justiça a inclusão no Programa de Proteção à Testemunha".

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