A família (pai, mãe, irmã e tia) de um dos três menores suspeitos do crime na USP aguardava na madrugada desta quarta (2) em frente ao 91º DP (zona oeste) notícias do rapaz de 17 anos.
A mãe do jovem –apreendido com um revólver calibre 22– relatou à Folha a frustração de, mais uma vez, ver seu filho em uma delegacia:
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"Estou muito envergonhada, não sei como vou botar a cara na rua, olhar para as minhas colegas no trabalho.
Somos trabalhadores, tentamos dar tudo aos nossos filhos. Olha aí meu marido, está dormindo no carro porque acordou às 6h e não sabemos até que horas vai isso aqui.
Em casa ele tem tudo que precisa, nunca faltou nada. A gente não mora em favela, não! É uma casa boa.
Quando essas coisas acontecem todo mundo mete o pau nos pais, falam que falta educação em casa. Mas não é o nosso caso, tentamos dar o exemplo, conversamos.
O problema são as companhias e o sistema que não funciona, não educa. Ele é um menino bom, mas vai na onda dos outros e já foi pego fazendo assalto.
Ficou um ano na Fundação Casa da Raposo Tavares, mas não aprendeu nada, não fez curso profissionalizante. Eles tinham que trabalhar e ficar o tempo necessário para pagar o que fizeram. É o meu e o seu imposto que está bancando!
Quando ele saiu, bati perna atrás de vaga para ele na escola, mas não consegui. Aí tentei arranjar serviço, mas ninguém quer empregar menor que não está estudando.
Na semana passada, começamos a procurar um ponto para abrir uma lojinha pra ele. Queríamos que ele fizesse um curso e aprendesse a consertar celular. Achava que assim ele ia ficar longe de encrenca.
| Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
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| Novo policiamento comunitário será antecipado e entrará em vigor na USP a partir da próxima semana |
OPERAÇÃO ANTECIPADA
Após uma tentativa de assalto na USP que deixou um aluno baleado, o novo policiamento comunitário será antecipado e entrará em vigor no campus da universidade a partir da próxima semana.
Esse novo modelo é inspirado em um sistema japonês, no qual policiais militares têm idade próxima à dos estudantes, contam com treinamento para lidar com alunos e professores e são voluntários (só os que se propuseram a trabalhar na USP serão deslocados para lá). Além disso, prevê a instalação de uma base física da PM no campus.
"A polícia da ditadura vinha na Cidade Universitária para tudo, menos para proteger os alunos. Hoje, não. Hoje queremos e vamos, com a reitoria, proteger os alunos, os professores e todos aqueles funcionários que atuam aqui", disse o secretário da Segurança Pública de São Paulo, Alexandre de Moraes.
Ele anunciou também a criação de um conselho de segurança, formado pelo poder público e pela comunidade acadêmica, com reuniões mensais para discutir a segurança. Segundo Moraes, haverá ainda um curso de defesa pessoal para as alunas.
O novo modelo de policiamento será implantado depois do crime de terça (1º) e de outros casos de violência que marcaram a USP. Entre janeiro e junho deste ano, foram registrados 129 furtos, 33 roubos, dois sequestros e um estupro no campus.
A presença da PM dentro da USP enfrenta resistência de entidades estudantis.
A antecipação anunciada pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) vai coincidir com uma semana em que não haverá aulas na universidade em razão do feriado de Sete de Setembro. O recesso já estava previsto desde 2014.
"Se chegam numa semana sem aula, não sei como vai ser essa relação de intimidade que querem estabelecer com os alunos", diz Juliana Giannini, 19, aluna do terceiro ano do curso de letras.
Contrário ao modelo proposto por reitoria da USP e governo, o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) divulgou nota na qual qualifica o projeto de "militarização" que substitui o "fortalecimento da Guarda Universitária".
O início imediato do programa rompe com a previsão da reitoria de promover discussão com a comunidade acadêmica sobre o policiamento.
"Não posso ficar discutindo, discutindo, discutindo e os fatos acontecendo na USP", disse José Antonio Visintin, chefe de segurança da USP. Segundo ele, a consulta se dará de forma paralela à implementação.
"Seria importante que a comunidade fosse ouvida. Esses programas requerem que haja uma confiabilidade na constituição por parte dos alunos, professores e funcionários", diz o professor Sérgio Adorno, diretor da FFLCH.
Para Kyo Kobayashi, 26, diretor do Centro Acadêmico do curso de letras, a medida "é um reflexo da reitoria que pouco dialoga". "A universidade é muito fechada à voz da comunidade acadêmica."
"A decisão de que momento começar o policiamento sempre foi do reitor", defende José Gregori, ex-ministro do governo FHC e presidente da Comissão de Direitos Humanos da USP. Ele coordenou um grupo que estudou modelos de policiamento.
SUSTO
O estado de saúde do aluno baleado no abdômen, Alexandre Cardoso, 28, é estável. Estudante de letras, ele foi abordado por volta das 21h de terça (1º), quando se dirigia para seu carro, perto da faculdade. Segundo testemunhas, ele correu dos três ladrões, que dispararam contra ele.
"Ele achou que ia morrer, porque a dor foi terrível", diz o pai do aluno, o aposentado Alberto Cardoso, 62. "Podia acontecer comigo, mas não com ele. Filho é filho."
Segundo a família, Alexandre, que é formado em direito, atua como advogado e, por anos, deu aulas de literatura em um projeto social em Paraisópolis. Ele deve ficar em observação por cinco dias no HU (Hospital Universitário).
Três menores, entre 16 e 17 anos, foram apreendidos. Um deles, armado com revólver calibre 22, já tinha passagem na policia por assalto, na USP. Eles foram encaminhados para a Fundação Casa. Questionada, a gestão Alckmin não informou se eles confessaram.
ESTOPIM
Na faculdade de letras, onde ocorreu o crime, o clima era de medo e apreensão com a presença da PM no campus.
"Parece que esse burburinho vai virar um estopim para reforçar o policiamento no campus", afirma Belite Alencar, 24, aluna de filosofia.
Doutoranda do curso de letras, Carla Moreira, 34, diz ter ficado com medo. "Hoje, eu teria vindo de ônibus, mas resolvi vir de carro", afirma.
"O universo da universidade, principalmente para a mulher, está ficando cada vez mais perigoso", diz Ligia Maria, 28, doutoranda da ECA (Escola de Comunicação e Artes).