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    Agência de crédito critica eficiência da Sabesp diante da crise de água

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    03/09/2015 20h01

    Luis Moura/WPP
    Trecho da represa de Jaguari/Jacareí, parte do sistema Cantareira que vive sua pior seca
    Trecho da represa de Jaguari/Jacareí, parte do sistema Cantareira que vive sua pior seca

    Uma das principais agências mundiais de classificação de créditos, a Moody's divulgou nesta quinta-feira (3) que a Sabesp, empresa paulista de saneamento, é ineficiente no combate à crise de água.

    Segundo a agência, a empresa tem ineficiências no "planejamento de infraestrutura", nos "esforços de conservação" e na "autoridade para definir aumentos de tarifa".

    Na última sexta-feira, a agência havia rebaixado as notas de crédito da Sabesp, que tem ações negociadas nas bolsas de Nova York e São Paulo.

    O novo relatório da Moody's faz uma comparação entre a Sabesp e a LADWP (empresa de águas de Los Angeles, cidade americana que há dois anos vive sob uma forte estiagem).

    "As disparidades na estrutura organizacional e abastecimento de água entre o Departamento de Água e Energia de Los Angeles e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo são amplamente responsáveis pela diferença nos ratings [notas de crédito] das duas companhias e crescente probabilidade de que a companhia paulista precisará persistir por mais tempo nos esforços de conservação", diz a nota.

    Segundo a Moody's, diferente da Sabesp, a empresa de saneamento de Los Angeles focou em diminuir o volume de água perdido em suas tubulações. Para a Moody's, o plano da Sabesp para realizar o mesmo objetivo será afetado por sua atual crise financeira. E enquanto o plano de redução de perdas nos canos não avançar, a Sabesp continuará perdendo seu principal ativo: água tratada.

    A Sabesp estima que 19% de toda a água que ela trata é perdida em inúmeras falhas nas tubulações da Grande São Paulo.

    A agência faz ressalvas à situação dos dois países, já que a Sabesp enfrenta uma realidade de captar água em mananciais ocupados irregularmente ocupado por parte da população. Outra ressalva é o fato de que, diferente do Brasil, a empresa americana tem poder muito maior na hora de determinar a tarifa de água. No Brasil, as empresas de água não têm o poder de definir suas tarifas, já que elas são reguladas por agências.

    "Os esforços da companhia [em aumentar a tarifa] têm sido mais inconsistentes e possivelmente estão sujeitos a considerações políticas", avalia Michael Wertz, vice-presidente assistente da Moody's e coautor do relatório.

    OUTRO LADO

    Em nota, a Sabesp afirma que a agência Moody's elogia o desempenho da empresa de água em Los Angeles, mas que a economia de água em São Paulo "é ainda mais impressionante".

    "De fato, lá [em Los Angeles] o consumo per capita foi reduzido de 800 para 400 litros/habitante/dia. Todavia, a principal economia foi no uso da água para irrigação de gramados. O caso de São Paulo é ainda mais impressionante. Aqui, graças à consciência da população, foi possível reduzir o consumo per capita de 170 para 114 litros/habitante/dia, quantidade muito próxima à recomendada pela ONU (110 litros/habitante/dia)."

    A Sabesp também ressalta que o lançamento de bolinhas plásticas para evitar a evaporação utilizada nos reservatórios de Los Angeles é uma "medida criativa", mas que não se aplicaria a São Paulo. "Aqui só utilizamos tanques cobertos para armazenamento de água potável", diz o texto.

    DESERTO FINANCEIRO

    A crise hídrica causou uma enorme crise financeira na Sabesp, já que a empresa, passou a distribuir menos água para a Grande São Paulo e, com isso, passou a faturar um volume 10% menor.

    A crise também fez com que a empresa tivesse que adotar novas medidas de captação de água e melhorar sua capacidade de tratamento de água. Para isso, a empresa teve gastos não programados. Além disso, grande parte do custo operacional da Sabesp está vinculado ao custo da energia, que aumentou no país nos últimos meses.

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