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    Concurso de rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul (RS) tem até bolsa de apostas

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    05/09/2015 02h00

    Reprodução/Facebook
    Concorrentes em uma das atividades antes do concurso para rainha da Festa da Uva
    Concorrentes em uma das atividades antes do concurso para rainha da Festa da Uva

    Elas são médicas, publicitárias, estudantes universitárias e dentistas de 18 a 28 anos de idade. Nas últimas semanas, trocaram o trabalho e o estudo por visitas a asilos e plantações, degustação de vinhos e aulas de etiqueta e história. Tudo para buscar um sonho em comum: ser coroada rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul (RS).

    Neste sábado (5), 12 mil pessoas são esperadas para o evento de seleção da rainha de 2016. O concurso é parecido com os de miss, mas as 20 moças precisam provar que conhecem a história da imigração italiana na serra gaúcha e a economia local.

    Na cidade de 475 mil habitantes, outdoors apresentam as candidatas, que contam até com torcida organizada. Moradores fazem "bolões" para acertar a vencedora.

    Todas já são consideradas embaixatrizes e estão comprometidas com a divulgação e trabalho voluntário na festa, que vai de 18 de fevereiro a 6 de março de 2016.

    Tradicional na região, o evento, que é bienal, teve sua primeira edição em 1931, quando a produção de uva era a principal atividade econômica da cidade. Hoje, Caxias é conhecida como polo metalmecânico.

    O reinado dura dois anos, mas as vencedoras não são esquecidas -é comum ouvir moradores elencarem seu trio de soberanas preferido.

    "Não se trata de ganhar ou perder. Já me sentia vencedora em poder vivenciar toda a experiência", diz Greice Tedesco, 30, princesa da festa de 2004. Ela, que classifica o dia da escolha como "inesquecível", resolveu abrir na internet os conselhos que dava às novas candidatas.

    O concurso é grandioso, com show cultural, torcidas e transmissão ao vivo do desfile, que ocorre no pavilhão do parque da festa.

    As embaixatrizes têm quatro minutos para caminhar em uma passarela de 400 metros, com pausa para acenos e uma breve apresentação.

    Além do desempenho no desfile, dez jurados avaliam as jovens em entrevistas e durante o pré-concurso -a agenda no período que antecede a coroação é intensa e dura cerca de três meses. Elas também dão entrevistas para rádios, TVs e jornais.

    Segundo Vera Delazzeri, diretora da comissão social da festa, foram 60 eventos, incluindo palestra com uma psicóloga para prepará-las para uma eventual derrota.

    Em todos os compromissos as moças usam trajes iguais, oferecidos pela festa.

    Reprodução/Facebook
    Candidatas a rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul fazem campanha em shopping
    Candidatas a rainha da Festa da Uva de Caxias do Sul fazem campanha em shopping

    Cada candidata representa ao menos uma entidade, como empresas e até time de futebol. Também é exigido que sejam solteiras, com idades entre 18 e 30 anos e não tenham filhos.

    O vestido tem de ser longo e trazer referências históricas e culturais dos antepassados italianos. Costureiras que fazem os trajes há anos cobram até R$ 15 mil cada um.

    Além da coroa, a rainha levará como prêmio um carro zero, e as duas princesas, uma viagem ao exterior.

    Como muitas caxienses, a professora Alessandra Rech, 36, cresceu ouvindo da mãe que seria uma futura rainha. Mas ela tem uma visão crítica do concurso.

    "Tem uma ditadura da submissão feminina, uma estética de delicadeza e de pouca iniciativa", acredita.

    Junto com amigos, Alessandra quer organizar uma Festa da Vulva, para satirizar o evento e questionar o papel imposto às mulheres.

    A escolha da rainha provoca tanto o imaginário local que é tema de um romance policial, sobre a morte da eleita no dia da coroação. "A rainha está morta", de Pedro Guerra, já vendeu 5.000 cópias e terá continuação.

    Guerra escreveu o livro antes de Henriette Vaccari, 40, princesa da festa de 2000, ser encontrada morta em seu apartamento, em 16 de novembro de 2014. Ela tinha depressão, e a notícia chocou a cidade gaúcha.

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