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    Sem velório e com 11 parentes, 'herói da Sé' é enterrado na zona norte de SP

    LEONARDO NEIVA
    DE SÃO PAULO

    06/09/2015 12h45

    Poucos familiares acompanharam o enterro do pedreiro Francisco Erasmo de Lima, 61, que foi tratado como herói após ter tentado resgatar uma mulher mantida como refém em frente à catedral da Sé nesta sexta-feira (4). Onze parentes compareceram à cerimônia simples que ocorreu na manhã deste domingo (6), no cemitério de Perus, na zona norte de São Paulo. Não houve velório.

    As filhas Kawane Pereira, 18, e Juliane de Lima, 32, se despediram do pai por meio de uma janela de vidro no caixão fechado. "Havia dois anos que eu não o via porque moro em Ibitinga. Mas todo ano ele me ligava para desejar feliz aniversário", conta Juliane.

    As maiores demonstrações de afeto foram de Kawane, que estava muito abalada com a morte do pai. O outro filho, Erasmo, que mantinha bastante contato com Francisco, não foi ao enterro. Segundo Juliane, ele é muito sensível e preferiu não comparecer porque ainda estava abalado.

    De acordo com a ex-mulher de Francisco, Izabel Rodrigues, 58, ele vivia havia dez anos fora de casa. Os dois se separaram porque Francisco bebia muito. "Apesar disso, era um homem maravilhoso. Sempre foi um bom pai", afirmou.

    Ela conta que depois que Danilo, filho do casal, foi morto a tiros há cerca de dez anos, ela não viu mais Francisco. O corpo do filho também foi enterrado no mesmo cemitério de Perus.

    Algumas pessoas que acompanhavam outros enterros ou visitavam o túmulo de parentes também ofereceram condolências à família. "Poderia ter sido qualquer um de nós naquela situação de refém. Para mim, ele foi um herói", disse a dona de casa Leila Cinque, 54, que depositou flores sobre o caixão de Francisco.

    Uma sobrinha de Francisco, Ione Gabriela, 19, conta que ele foi abandonado pelos pais quando era pequeno e criado por uma família adotiva em Pernambuco. Desde jovem, trabalhava como pedreiro. Recentemente, fazia bicos e morava em abrigos ou na rua.

    Gabriela diz que ainda se encontrava com o tio com alguma frequência. "Ele sempre ia à minha casa e onde a Kawane mora. Era uma pessoa divertida. Uma atitude valente acabou custando sua vida", afirmou.

    CRIMES

    Izabel afirma que Francisco chegou a ficar dez dias preso em 1980, mas foi absolvido de uma acusação de homicídio. Segundo ela, ele bateu com uma garrafa de vidro na cabeça de um colega de trabalho, que acabou morrendo, durante uma discussão.

    Já sobre uma acusação de receptação, em 2000, conta que ele comprou um carro roubado sem saber e também foi absolvido. "O Francisco nunca foi condenado, nunca foi para a cadeia", disse.

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