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    Ministros do STF retomam julgamento de drogas; maioria não diz se já fumou maconha

    FLÁVIA FOREQUE
    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    08/09/2015 02h00

    Pedro Ladeira - 19.ago.2015/Folhapress
    Sessão do Supremo, no mês passado, na qual teve início o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas para uso próprio
    Sessão do Supremo na qual teve início o julgamento sobre a descriminalização do porte de drogas

    Ainda criança, ela foi matriculada em um internato de freiras. Arrumar a cama e tomar banho em tempo cronometrado eram regras diárias.

    Outro, nos tempos de juventude, tinha o hábito de surfar nas praias do Rio de Janeiro e foi guitarrista da banda de rock "The five thunders" (os cinco trovões).

    No mesmo período, o atual colega de tribunal prestava serviço militar e chegou à patente de segundo-tenente do Exército brasileiro.

    Com trajetória e formação distintas, 11 ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) devem retomar nesta quarta-feira (9) o julgamento que decidirá se portar drogas para consumo pessoal deixará ou não de ser crime no país.

    E qual é a experiência pessoal desse grupo de ministros com a maconha, droga que motivou todo esse debate?

    Sob condição de anonimato, a Folha questionou os integrantes do tribunal se, no período da juventude, fumaram maconha ou tinham amigos com esse hábito.

    Cinco ministros do Supremo afirmaram nunca ter consumido a erva. Seis preferiram não responder a pergunta da reportagem.

    Até mesmo no tribunal que vai esmiuçar o tema, o consumo de drogas é um tabu.

    Para o ministro Marco Aurélio Mello, a única experiência que teve, ainda nos tempos da juventude, não deixou uma boa lembrança. Ele conta que um amigo o levou "a cheirar, momentaneamente, lança-perfume". O resultado não foi satisfatório.

    "Eu passei mal, vomitei, botei o cabrito para berrar, foi uma coisa horrorosa. Foi a única coisa", disse o ministro, que se recusou a falar sob anonimato. Com maconha, afirma, não teve contato.

    "Nunca tive amigo maconheiro e nunca cheguei perto de um cigarro de maconha. E olha que curiosidade não me falta", afirmou, entre risos.

    E por que nunca fumou então? "Porque para mim é mais ou menos um tabu, é algo que não está na minha existência", justificou o ministro.

    Hoje, conta, bebe socialmente e gosta de fumar ocasionalmente um charuto, "para atender até o preto-velho".

    Infográfico: Julgamento do porte de drogas

    ROMARIA

    Diante desse debate controverso, se é crime ou não portar e consumir drogas, uma romaria de religiosos, autoridades médicas e juristas vem mudando a rotina de alguns gabinetes do Supremo Tribunal Federal.

    Esse movimento se intensificou após o voto do relator da matéria, ministro Gilmar Mendes –o julgamento foi interrompido após esse voto.

    Desde que defendeu a descriminalização das drogas, entretanto, ele vem destacando que sua posição não significa um "liberou geral".

    Para Mendes, a pessoa flagrada com entorpecente para consumo próprio deve estar sujeita a sanções, como aulas e advertência verbal.

    Atualmente, quem é pego nessa situação também está sujeito a penas –como prestação de serviço à comunidade, mas pode perder a condição de réu primário.

    O argumento do ministro é que a criminalização do porte de drogas para consumo próprio desrespeita "a decisão da pessoa de colocar em risco a própria saúde".

    NOVO INTEGRANTE

    O julgamento foi suspenso há pouco mais de duas semanas após o ministro Luiz Edson Fachin pedir maior prazo para analisar o assunto.

    Entre colegas e advogados, a expectativa é que o mais novo integrante da Corte vote pela manutenção das regras.

    Durante sabatina no Senado antes de assumir o cargo, em maio passado, Fachin indicou ter resistências à descriminalização e ponderou que o tema exige cautela, porque "onde passa um boi, passa uma boiada".

    Na ocasião, lembrou ainda aos senadores relato de amigos que têm a "dolorosa experiência" de um filho envolvido com drogas.

    "É uma tragédia. Acaba com o adolescente e acaba, às vezes, com a família."

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