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    Selo de qualidade definirá reajuste a médico e hospital de plano de saúde

    NATÁLIA CANCIAN
    DE BRASÍLIA

    09/09/2015 02h00

    A qualidade dos hospitais, laboratórios, médicos e profissionais vinculados aos planos de saúde será requisito para definir a dimensão dos reajustes pagos pelas operadoras para quem presta os serviços aos pacientes.

    O modelo, que deve valer a partir de dezembro para os estabelecimentos de saúde, prevê conceder aumentos inferiores ao IPCA (índice oficial de inflação) para quem não se enquadrar em alguns fatores de qualidade.

    A proposta da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) valerá para os casos em que não houver um índice de reajuste pré-definido em contrato nem acordo entre as partes. Mas já provoca reclamações no setor.

    Pela fórmula, hospitais e estabelecimentos de saúde que tiverem uma acreditação –espécie de selo de qualidade fornecido por empresas especializadas– receberão reajuste equivalente a 100% do IPCA.

    Quem estiver ainda em processo de avaliação, por sua vez, recebe um pouco menos: 90% do índice. Já prestadores sem selo ou certificação de qualidade ficariam com 80%.

    Para Yussif Ali Mere, presidente do Sindhosp (sindicato de hospitais paulistas), a possibilidade de reajuste menor conforme esses critérios é "absurda". "Nada contra usar a qualidade. Mas isso deveria ser algo a mais, não um redutor", diz Ali Mere.

    Segundo ele, menos de 10% dos hospitais do país possuem acreditação, cujos custos variam, em média, de R$ 60 mil a R$ 80 mil.

    Hoje, não há uma regra que determine que os hospitais precisam buscar esse tipo de certificação.

    Infográfico: Estabelecimentos médicos no país

    MÉDICO DE QUALIDADE

    Além dos hospitais, clínicas e laboratórios, esse fator de qualidade deve servir como parâmetro de reajuste para médicos e profissionais a partir de dezembro de 2017.

    Os critérios ainda serão definidos em reuniões com entidades de cada categoria.

    Uma das sugestões iniciais já apresentadas, por exemplo, é definir a qualidade por título de pós-graduação. Assim, especialistas receberiam 100% do índice, e não especialistas, 80%, por exemplo.

    Para entidades médicas, a medida embute um modelo de "ranking" de profissionais.

    "É muito difícil mensurar a qualidade de um profissional. Um médico com 100% de cesariana [procedimento indicado só em casos específicos], por exemplo, pode trabalhar só com gestação de alto risco. Vai ganhar menos?", compara Márcio Bichara, secretário de saúde suplementar da Fenam (Federação Nacional de Médicos).

    Para ele, a qualidade deveria ser um fator extra no reajuste –do contrário, diz, a medida pode afastar profissionais dos planos de saúde.

    Lalo de Almeida - 19.mar.2014/Folhapress
    Equipe realiza cirurgia no Hospital Albert Einstein, na zona oeste de São Paulo
    Equipe realiza cirurgia no Hospital Albert Einstein, na zona oeste de São Paulo

    MUDANÇA DE CULTURA

    A diretora da ANS Martha Oliveira rebate as críticas. Para ela, a resistência inicial das entidades é natural a uma "mudança de cultura".

    "Temos um sistema de financiamento ruim do setor, no modelo de quanto mais produzo. E nunca se introduziu a questão da qualidade. Queremos garantir isso", diz.

    Oliveira afirma que a diferença resultante da aplicação dos percentuais será pequena. No caso dos profissionais, diz, a agência deve atuar mais como mediadora da definição dos critérios de qualidade. "A ideia não é prejudicar ninguém, é estimular [a busca por qualidade] e fazer as pessoas verem essas informações."

    Segundo ela, assim que houver definição dos critérios detalhados, a agência quer ampliar a divulgação desses parâmetros ao consumidor.

    Hoje, há alguns desses fatores em "caderninhos" de planos de saúde com a lista de prestadores de serviços, por meio de letrinhas. "Queremos tornar isso mais visível."

    Procurada, a FenaSaúde, entidade que representa planos de saúde, não respondeu aos pedidos da reportagem até noite desta terça-feira (8).

    -

    FATOR DE QUALIDADE PARA REAJUSTE

    O que é
    Proposta de que critérios de qualidade sejam considerados no índice de reajuste a ser pago por operadoras de planos de saúde a hospitais, laboratórios, clínicas
    e profissionais

    Como é a proposta
    Ideia é aplicar o IPCA, principal índice de inflação, e dar reajustes que variam conforme a qualidade

    Exemplo: quem tiver 'selo' de qualidade terá reajuste de 100% do IPCA. Quem estiver no meio do processo deve ter reajuste de 90%. Já prestadores sem certificado receberão 80%.

    Quando vale
    Deve ser aplicado apenas como 'terceira via', nos casos em que não há um índice pré-definido em contrato ou um acordo entre operadora e prestador de serviço

    Impasses
    Para entidades, medir qualidade pode levar a ranking 'equivocado' de prestadores de serviço

    NÚMEROS DO BRASIL
    OPERADORAS

    1.187
    é o total

    Destas:
    855
    são de planos médico-hospitalares

    332
    são de planos odontológicos

    PLANOS
    33.715
    são médico-hospitalares

    3.137
    são odontológicos

    USUÁRIOS
    50,5 mi
    pessoas têm planos de saúde

    Fontes: ANS (dados até 31.ago.15), Fenam, Fehosp/Sindhosp e FBH

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