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    Por temer trânsito, prefeitura desiste de fechar passarela de Congonhas

    MARINA ESTARQUE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    11/09/2015 14h39

    A Prefeitura de São Paulo decidiu não interditar a passarela para pedestres do aeroporto de Congonhas para evitar interromper o trânsito na avenida Washington Luís, uma das principais ligações à zona sul da cidade.

    Um laudo da prefeitura constatou que a travessia Comandante Rolim Amaro está em "estado de iminência de ruptura brusca". Nesta sexta-feira (11), funcionários já trabalhavam no escoramento da passarela, a fim de prevenir a queda.

    "Seria um 'problemaço' aqui [a interdição imediata]. Nós não temos outro lugar de acesso. Aqui tem pontos de ônibus, passam mais de 3.000 pessoas diariamente [por cima da passarela]. A CET não achou conveniente parar o trânsito, porque parar o trânsito também traz problemas para São Paulo", disse o secretário de Coordenação das Subprefeituras, Luiz Antônio Medeiros.

    Segundo ele, há uma equipe monitorando a passarela desde a madrugada, para permitir a segurança dos transeuntes.

    "Nós temos engenheiros aqui que, sob qualquer risco de queda, nós interrompemos o trânsito. Qualquer balanço, aí nós temos que interromper. Estamos fazendo uma coisa que eu considero absolutamente segura e preventiva", disse.

    O secretário disse também que equipe permanecerá 24 horas no local, até que a obra de escoramento esteja completa –a previsão é que isso ocorra até o fim do dia.

    URGÊNCIA

    O laudo apontou que grande parte da estrutura da atual passarela está comprometida pela ferrugem. Além disso, há um deslocamento lateral de cerca de 30 centímetros –é possível notar que a travessia está desalinhada.

    Mesmo sem chuva, a água que fica retida na estrutura escorre constantemente da passarela, formando goteiras. Outro problema é o recapeamento do asfalto, que diminui o espaço entre a via e a passarela, aumentando o risco de choques e acidentes.

    "50% da estrutura metálica foi corroída e ela está fazendo movimentos. Aumentou a corrosão, nós temos água acumulada aí dentro. A altura também está diminuindo, e realmente pode bater carro ou caminhão aqui", diz o secretário.

    Segundo Medeiros, há urgência na obra e, por isso, não houve tempo para fazer uma licitação.

    "Isso aqui seria um desastre para São Paulo, ela já se locomoveu quase meio metro, está torta, é uma questão de muita urgência. O laudo saiu anteontem e ontem eu já busquei uma empresa. Às 5h já estávamos aqui trabalhando", afirma.

    Além de escorar a passarela atual, a prefeitura irá construir uma travessia provisória, que ficará pronta em até uma semana. Só então a estrutura atual será demolida.

    A passarela permanente deve demorar ainda seis meses. "Deverá custar uns R$ 3 milhões ou 3,5 milhões, que vão ser arrecadados por meio de cotas com o comércio. Ela vai ter dois elevadores para pessoas com deficiência e uma cobertura para proteger da chuva", diz Medeiros.

    MEDO

    Pedestres que passam diariamente por ali têm medo da travessia, mas dizem que não há outra opção.

    "Sei que está para cair, mas tenho que passar. Dá para ver que está velha", reclama Flávia Zucarelli, 22, que trabalha no aeroporto há cinco anos.

    O despachante técnico Neimax Santiago, 31, que trabalha no aeroporto há dez anos, diz que a outra passarela disponível é longe e insegura. "Tem muito assalto, porque é menos movimentada. Então temos que usar essa. É isso ou ser atropelado tentando cruzar por baixo", afirma.

    Santiago lembra que a estrutura está abandonada há anos. "Eles limpam a ferrugem por fora, lixam e só. Parece que estão esperando acontecer uma tragédia", diz ele.

    IMBRÓGLIO

    Em 2013, reportagem da Folha mostrou que a passagem estava abandonada havia pelo menos nove anos, e que, já naquela época, a situação comprometia a segurança.

    Um engenheiro vistoriou a passarela a pedido do jornal e afirmou que a estrutura corria o risco de cair e "deveria ser interditada". Na época, a prefeitura disse que iria fazer um escoramento.

    Um ano depois, a gestão Fernando Haddad (PT) anunciou que abriria licitação e removeria a passarela.

    Não foi o primeiro projeto a não sair do papel. Em 2005, a gestão José Serra (PSDB) também anunciou a reforma e a adaptação da estrutura, com instalação de cobertura e elevadores.

    O projeto seria bancado em parte pela iniciativa privada e pela Infraero (estatal que administra Congonhas), mas foi questionado pelo Ministério Público, o que acabou freando a iniciativa.

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