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    Legalização da maconha atrai turistas e mendigos às ruas do Colorado (EUA)

    GABRIEL ALVES
    EM DENVER (EUA)

    13/09/2015 02h00

    Não é difícil, ao percorrer as ruas de Denver, capital do Estado do Colorado (EUA), encontrar indícios de que a atmosfera mudou por lá. Um grande cartaz anuncia uma convenção com o slogan "Marijuana is business".

    Nela serão discutidos modelos de negócios que têm como produto-base as ervas do gênero Cannabis.

    O Estado, montanhoso e localizado no meio-oeste americano, é um dos quatro onde a maconha recreativa é legal.

    Os outros são Washington, Oregon, Alasca, além do Distrito de Columbia, onde fica a capital americana.

    O processo de legalização no Estado americano começou em 2012 com um referendo. Em 2013, houve a regulamentação e, desde o início de 2014, já era possível comprar legalmente a erva.

    No Brasil, uma sessão do STF iniciada em agosto determinará o futuro da descriminalização do porte de drogas no país. Três ministros dos 11 se posicionaram a favor, pelo menos em relação à maconha, e Teori Zavascki pediu vistas do processo.

    Em todo o Estado do Colorado e na capital, Denver, conhecida como "mile high city" por estar a uma altitude de uma milha (1,6 km), há inúmeras lojas autorizadas a realizar o comércio de maconha e derivados.

    Na 16th, rua que funciona como shopping a céu aberto, no centro da cidade, uma delas se propõe, em aviso na fachada, a ajudar o usuário a ficar "stone mountain high" (ou "tão alto quanto uma montanha"), trocadilho com "high" (alto), que na gíria em inglês quer dizer "chapado" ou "alterado" por uma substância.

    Atualmente, o uso em qualquer local público é proibido. Não é difícil, porém, ver pessoas em carros ou nas ruas da cidade descumprindo a lei.

    O uso recreativo é coisa séria para os empresários do setor. Mesmo com impostos que beiram os 30%, as lojas não param de se multiplicar.

    Em 2014 foram arrecadados mais de US$ 40 milhões (R$ 155 milhões) só em impostos sobre a maconha recreativa (sem contar aquela que é usada para fins medicinais).

    Ainda em franco crescimento, o mercado de maconha no Colorado, seja medicinal ou recreativa, é estimado em mais de US$ 700 milhões (R$ 2,7 bilhões).

    'HOMELESS'

    Se, por um lado, mais receita é gerada para o Estado e uma parte dela vai para a construção de escolas, por outro, setores da sociedade reclamam de uma invasão de mendigos na cidade.

    O problema não é novo, mas tem se intensificado, e muitos atribuem essa entrada à liberação da maconha.

    "Need money for pot" (precisa-se de dinheiro para maconha), dizia um cartaz segurado por um homem que aparentava estar na faixa dos 40 anos, em uma rua no centro da cidade. Outros pedem dinheiro para comida.

    Pessoas que trabalham e frequentam a região se incomodam com a presença dos "homeless" (sem teto).

    Algumas iniciativas particulares e do governo local almejam resolver o problema, mas a quantidade de pessoas impede que se atenda a todas da maneira mais adequada.

    Uma das implicações do aumento de mendigos seria uma expansão da criminalidade. No Estado, crimes relacionados às drogas aumentaram 7,7% em 2014 em relação a 2013 –ano anterior à liberação das vendas, apesar de outros tipos de crime terem se mantido estáveis. Nesse período, a cidade de Denver também não viu grandes mudanças.

    Em 2015, só na capital, houve alta de 75% de homicídios, de 25,7% de estupros e de 12,5% de roubos. Não há dados estaduais ou nacionais no período para comparação.

    COMÉRCIO DE MACONHA NO COLORADO (EUA)

    LEI

    Legislação estadual foi aprovada por referendo em 2012 e, desde 2014, o comércio de maconha recreativa acontece no Colorado. Outros Estados que aprovaram a legalização foram Alasca, Oregon, Washington e o Distrito de Columbia

    CULTIVO

    A maconha que é vendida nas lojas especializadas tem de ser cultivada em galpões fechados. Eles devem ser climatizados e ter infraestrutura de iluminação apropriada, para que a erva se desenvolva adequadamente

    EM CASA

    Cada pessoa pode cultivar até seis plantas de Cannabis dentro de casa, mas só três que tenham flores. Não é permitido manter mais de 12 plantas em uma residência -maconha cultivada em casa não pode ser comercializada

    IDENTIDADE

    Para comprar na loja, só sendo maior de 21 anos. Os documentos são conferidos antes mesmo da entrada. No caso de estrangeiros, o que vale é o passaporte. Caso haja violação das regras, as lojas podem perder a licença de funcionamento

    QUANTIDADE

    Cada residente do Estado pode comprar até 28g de maconha por vez. Quem é de fora só pode comprar 7g por loja por dia. A quantidade máxima que se pode portar é de 28g. As lojas não mantêm registro de quem as frequentou ou dos produtos comprados

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