• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 15:54:05 -03

    Declarações do ouvidor de polícia de SP são panfletárias, rebate secretário

    DE SÃO PAULO

    15/09/2015 12h39

    Joel Silva/Folhapress
    Secretário de segurança Alexandre de Moraes, durante entrevista coletiva em agosto para falar da chacina na Grande SP
    Secretário de segurança Alexandre de Moraes, durante entrevista coletiva em agosto para falar da chacina na Grande SP

    O secretário de Segurança Pública do governo de São Paulo, Alexandre de Moraes, rebateu nesta terça-feira (15) as declarações do ouvidor de polícia do Estado que, em entrevista à Folha, afirmou que as imagens de PMs matando suspeitos já rendidos só evidenciam a existência de grupos de extermínio na corporação.

    "As declarações foram feitas sem nenhuma base, com todo respeito ao ouvidor. É uma declaração panfletária", disse Alexandre de Moraes.

    Em entrevista publicada na edição desta terça, o ouvidor Julio Cesar Fernandes Neves disse: "Não dá para acreditar que não exista um grupo organizado, chamado de extermínio ou não, formado por pessoas que têm interesse em que bandidos ou supostos bandidos sejam eliminados".

    Ele se refere aos vídeos gravados no dia 7 deste mês e que vieram a público na semana passada. Neles, PMs aparecem matando dois suspeitos já rendidos e aparentemente desarmados no Butantã, bairro de classe média da zona oeste de SP.

    Veja vídeo

    Ainda segundo o ouvidor, a existência desses grupos já era percebida pelo alto número de pessoas mortas em supostos confrontos, que, em 2014, deixaram 801 suspeitos mortos, somando os dados das polícias Civil e Militar.

    "Já recebi denúncias de que existe [grupos de extermínio] e peço que seja investigado. Não dá para não acreditar que não exista um grupo organizado no Estado praticando essas execuções quando, no ano passado, tivemos 801 vítimas. É uma coisa anormal, que escapa do bom senso de qualquer cidadão comum. Neste ano já não são mais de 400 vítimas, só em confrontos?"

    Em entrevista à Folha, o pesquisador em segurança Graham Denyer Willis disse que a diferença entre a ação de esquadrões da morte e a letalidade policial é que a última é rotineira. "É uma violência que ocorre todos os dias contra supostos criminosos. Com pouca variação, esse tipo de morte tem grande continuidade e cresceu neste ano."

    "As chacinas, por contraste, são reacionárias e ocorrem em resposta a algo considerado injusto. Como em Osasco e Barueri, observamos a morte de um guarda civil metropolitano e de um policial militar dias antes da chacina. As mortes ocorrem em locais que os policiais sabem ou que acreditam ser redutos do crime organizado. Como o PCC costuma revidar esse tipo de ataque, uma vingança pode virar uma crise maior", explica.

    Willis, que acompanhou o dia a dia de investigadores de homicídios da cidade entre 2009 e 2012, é autor do livro "The Killing Consensus: Police, Organized Crime and the Regulation of Life and Death in Urban Brazil" (consenso assassino: polícia, crime organizado e a regulação da vida e da morte no Brasil urbano), lançado neste ano.

    Questionado sobre a alta letalidade da polícia paulista, o secretário de Segurança afirmou que é preciso "analisar caso a caso". "Estamos tomando medidas contra isso, e o número [de mortos] neste ano já diminuiu em relação ao ano passado", disse. "Estamos trabalhando em relação a isso, não só falando".

    Só no primeiro semestre deste ano, contudo, o número de mortes em intervenções policiais chegou a 358 pessoas, um recorde em dez anos.

    Infográfico: Pessoas mortas por policiais em serviço

    REPRESÁLIAS

    O secretário de Segurança Pública do governo Geraldo Alckmin (PSDB) também criticou o ouvidor por ele admitir, na entrevista, temer represálias de PMs suspeitos de assassinatos. "Tenho medo de pessoas que possam interpretar de outra forma e achar que também elas possam fazer justiça e eu sofrer uma represália que não merecia", disse o ouvidor.

    "Se ele está sendo ameaçado, e já me coloquei à disposição, que ele coloque quem o está ameaçando. Se a polícia está ou não ameaçando. É outra lamentável declaração. Ele foi infeliz", afirmou Alexandre de Moraes.

    Sobre uma das mais violentas chacinas da história de São Paulo, ocorrida no mês passado em Osasco e Barueri e que deixou um saldo de 19 mortos, Alexandre de Moraes voltou a dizer que as investigações estão avançadas. Ele, contudo, admitiu que até o momento só há um PM suspeito, o soldado da Rota Fabrício Emmanuel Eleutério, 30, preso na semana seguinte aos ataques. Eleutério foi detido com base numa testemunha que é contestada pela Justiça de Osasco.

    Alexandre de Moraes nada falou sobre 18 PMs que foram alvos de mandados de busca e apreensão pela suspeita de envolvimento na chacina. "Não temos outros suspeitos indicados, temos informações e fatos que estamos cruzando", limitou-se a dizer.

    Por fim, ele ressaltou que as "investigações levam tempo". "Estamos no bom caminho, quando tivermos a certeza de que participou do crime, vamos prendê-los e anunciar publicamente", disse.

    Jorge Araújo/Folhapress
    Julio Cesar Fernandes Neves, ouvidor da Polícia de São Paulo, em entrevista à Folha
    Julio Cesar Fernandes Neves, ouvidor da Polícia de São Paulo

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024