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    Marido com down aprende língua de sinais para falar com a mulher, surda

    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO

    16/09/2015 02h00

    Arquivo pessoal/Facebook
    O auxiliar de limpeza Israel Afonso Lima, 36, com a mulher, Eliene, 37, na festa de aniversário da filha Isabella, 2
    O auxiliar de limpeza Israel Afonso Lima, 36, com a mulher, Eliene, 37, na festa da filha Isabella, 2

    O auxiliar de limpeza Israel Afonso Lima, 36, que tem síndrome de Down, decidiu voltar à sala de aula, depois de adulto, para aprender a língua brasileira de sinais.

    O objetivo dele era conseguir se comunicar com a mulher, Eliene de Brito Afonso, 37, que é surda-muda.

    Junto há seis anos, o casal passou pelas fases de paquera, namoro e pedido de casamento sempre em silêncio.

    "Ele fazia gestos, mas eu via que ela ficava sem entender algumas vezes", lembra a mãe de Israel, Miriam Afonso da Silva, 53.

    Eliene também faz leitura labial e, atenta aos gestos do marido, muitas vezes conseguia compreendê-lo. Mas, para ela, restava o silêncio. Foi então que Israel teve a ideia de estudar Libras.
    Curioso, ele buscou informações de cursos em uma unidade do Senac ao lado do trabalho, em Luiziânia (GO), onde moram os dois.

    "Como intérprete e professora de Libras, eu nunca vi um marido querer aprender a linguagem de sinais, ainda mais em um casal especial", conta a professora Maria Sirlene Ribeiro Cavalcanti, 45.

    O auxiliar se formou em abril no curso básico de Libras e já ganha elogios da mulher. "Ela me corrige, me ensina. Agora ela sempre me fala que eu aprendi muito."

    Os dois se conheceram por intermédio de parentes e têm uma filha, Isabella, de dois anos de idade.

    Homens com a síndrome de Down são estéreis, mas 1% dos casos, chamados mosaico, têm parte das células normais e pode gerar filhos.

    A primeira vez que Miriam, a mãe do auxiliar de limpeza, ouviu o termo síndrome de Down foi na maternidade em Brasília, ao dar à luz Israel.

    Na infância, foram anos de tentativas fracassadas de adaptar Israel até a família encontrar uma escola especializada para o menino.

    Ele concluiu o ensino médio e hoje trabalha como funcionário terceirizado na limpeza de um prédio do INSS.

    Nos finais de semana, Israel toca clarinete na igreja evangélica que frequenta com a mulher.

    É ali que Eliene se sente mais integrada, já que há intérpretes de Libras na igreja e, assim, ela consegue acompanhar o culto.

    PLANOS

    Israel continua a estudar por conta própria, ao lado da mulher, com a ajuda de aplicativos de celular.

    Juntos também, Israel e Eliene ensinam à filha a língua de sinais.

    O desejo de Israel agora é se formar em pedagogia e ser professor de Libras.

    "Aprendi e agora quero ensinar as outras pessoas", conta o auxiliar.

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