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    Arquitetos premiados fazem nova casa de doméstica na zona leste de SP

    GABRIEL KOGAN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    20/09/2015 02h00

    A nova casa da empregada doméstica Dalva Borges Ramos, 74, na Vila Costa Melo (zona leste), estampará as próximas edições de pelo menos duas revistas de arquitetura do Brasil.

    O projeto, entregue em julho, é de autoria do escritório Terra e Tuma, ganhador de prêmios como o da AsBEA (Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura) no ano passado e representante do Brasil em bienais no Equador e na Holanda.

    O filho de Dalva, Marcelo Borges Ramos, 41, técnico de informática, viabilizou a empreitada. "Ele era um conhecido. Parece piada: ex-marido da amiga da prima da minha esposa", conta o arquiteto Danilo Terra.

    A CASA CAIU

    A antiga casa de Dalva estava em situação precária. "Chovia tanto dentro quanto fora", lembra o filho. O plano original da família era comprar um apartamento, mas a poupança daria apenas para unidades em prédios sem elevadores, inapropriados para a idosa.

    A situação ficou insustentável em 2011, quando a estrutura com mais de 25 anos sem reformas ameaçou ruir. "O teto desabou em cima da cama dela, foi a gota d'água", lembra Marcelo. A família então resolveu construir outra casa no mesmo terreno da anterior e chamou os arquitetos.

    DINHEIRO GUARDADO

    "Tratamos como um projeto normal. Teve a nossa remuneração, cálculo de estrutura, empreiteiro, aprovação na prefeitura", conta Pedro Tuma, que completa o time de arquitetura com Fernanda Sakano. "O anormal é a família ter guardado dinheiro e buscado um arquiteto, não um construtor."

    "Economizei desde 1965", diz Dalva. A obra custou, incluindo o projeto, cerca de R$ 150 mil. Demolição, fundações e a complexa ancoragem dos vizinhos –então apoiados na casa demolida– levaram quatro meses; já a estrutura de blocos de concreto e lajes pré-fabricados, outros seis.

    ACABAMENTOS

    Os acabamentos crus, para diminuir custos, se aproximam de uma estética valorizada na arquitetura moderna, como o concreto da laje do Masp. Marcelo se mudou para lá e estranhou no início.

    "Foge do convencional, os vizinhos achavam diferente", diz. Agora, tem orgulho do projeto. "É possível, mesmo com poucos recursos, fazer algo funcional e contemporâneo, fugir da mesmice."

    Dalva, que chegou a se mostrar saudosa da casa antiga, já está acostumada. Elogia as paredes sem acabamento, "fáceis de limpar".

    "O único problema é o piso, parecido com calçadas; penso em colocar cerâmica", planeja a baiana de Brumado, para preocupação dos arquitetos ainda zelosos com a aparência original da criação.

    "Agimos aqui como paramédicos", compara Terra sobre a solução de um problema emergencial. "A ideia foi oferecer dignidade, antes da felicidade". Os arquitetos repetiriam a experiência? "Sim, mas é uma situação particular; eles tinham todo o dinheiro guardado e confiaram no nosso trabalho."

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