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    Tecnologia contra crime fica longe da promessa eleitoral de Alckmin

    CATIA SEABRA
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    19/09/2015 02h00

    Com nove meses de atraso, a gestão Geraldo Alckmin (PSDB) apresentou ferramentas de sua principal arma de combate ao crime –batizada de Detecta–, mas longe de funcionar conforme prometido na campanha à reeleição.

    A tecnologia do Detecta foi exaltada na propaganda tucana, em meio à escalada de roubos no Estado e na capital, prevendo a integração de bancos de dados e câmeras nas ruas para identificar atitudes suspeitas. O sistema deveria estar em funcionamento pleno ainda no final de 2014.

    Nesta sexta (18), a gestão tucana anunciou que começarão avisos em tempo real de situações suspeitas na marginal Tietê –como carros parados no acostamento e motos paradas ao lado de veículos presos no engarrafamento.

    O principal sistema de alerta, porém, divulgado com destaque na propaganda eleitoral na TV, segue no papel –e sem prazo para implantação.

    Ele deveria permitir, por exemplo, aviso automático à PM quando um homem de capacete entrasse numa loja –ação considerada suspeita.

    Mas, segundo técnicos do próprio governo, há dificuldades e limitações tecnológicas para conseguir colocar esse sistema em funcionamento, além de divergências internas.

    RADARES

    O Detecta foi comprado pelo governo estadual, por meio da Prodesp (estatal paulista de processamento de dados), pelo preço de R$ 9,7 milhões –pagos à Microsoft, detentora de uma tecnologia importada de Nova York.

    Pelo sistema que começou a funcionar em São Paulo, as principais funções têm origem em radares com leituras de placas –e seu êxito se deve a um programa criado pela Polícia Militar, conhecido como Radar e que estava em funcionamento em algumas cidades sem custo aos cofres públicos.

    Para utilizar esse sistema, a Secretaria da Segurança precisa pagar a Prodesp. No passado, deveria desembolsar cerca de R$ 10 milhões pelos serviços. Como pouca coisa do prometido foi entregue, só pagou R$ 2 milhões.

    Para a Secretaria da Segurança Pública, os alertas que começarão a ser dados na marginal Tietê já são indicativo do funcionamento do Detecta, que será aprimorado.

    NO LIXO

    Os atrasos na entrega do Detecta conforme divulgado na campanha eleitoral provocaram embate entre integrantes do governo paulista.

    O ex-secretário Julio Semeghini, hoje conselheiro da Prodesp, disse, em entrevista à Folha, que a tecnologia com esse de alertas de atitudes suspeitas já está disponível (com programas e câmeras) e poderia ser colocada em funcionamento se a pasta da Segurança quisesse.

    "Quem define as prioridades não somos nós. É uma coisa que a gente tem que perguntar para o secretário", disse Semeghini, indicado pelo próprio governo Alckmin para falar sobre o Detecta.

    Procurado, o secretário da Segurança, Alexandre de Moraes, não quis comentar as declarações do colega.

    Na apresentação do Detecta em um prédio da PM, porém, Moraes disse que o sistema de alerta de suspeitos ainda está em "fabricação" e sem data para conseguir entrar em funcionamento.

    Outro exemplo do embate no governo está em um documento obtido pela Folha. Nele, a Prodesp apresenta prazo para execução do Detecta para os próximos 12 meses e valores a serem cobrados.
    O cronograma não inclui o alerta para suspeitos.

    Sobre o documento, elaborado pela Prodesp, Moraes disse que não o reconhece.
    "Essa minuta está no lixo. Aquela minuta e nada é a mesma coisa", disse à Folha.

    OUTRO LADO

    O secretário da Segurança Pública da gestão Geraldo Alckmin (PSDB), Alexandre de Moraes, disse não haver data para implementação dos alertas de pessoas suspeitas –principal função exaltada no Detecta– porque eles ainda estão em "fabricação".

    "Pretendemos implantar o mais rápido possível", disse o secretário, que não explicou os motivos de essa ferramenta ainda não estar em funcionamento em São Paulo.

    Atualmente, segundo técnicos da Prodesp (estatal paulista de processamento de dados), só a marginal Tietê tem câmeras analíticas capazes de detectar a movimentação de suspeitos (de capacete, por exemplo). Moraes diz, porém, que lá será um lugar que não deve ter esse sistema.

    "Óbvio que não podemos utilizar esse alerta na marginal Tietê porque todo motociclista [que passar] vai tocar. [Vamos colocar] Próximo a posto de combustível, bancos, caixas eletrônicos."

    Os vídeos analíticos, segundo ele, começarão com as três funcionalidades anunciadas nesta sexta (18) para a marginal Tietê: as motos paradas ao lado de carros, pessoas caminhando nas vias e carros parados no acostamento.

    O secretário considera que o Detecta já tem todas as suas etapas em execução –faltando apenas aperfeiçoamentos complementares, como a detecção das atitudes suspeitas.

    Mesmo se o Detecta utilizar tecnologia da PM, Moraes disse não ver motivo para a corporação receber pagamento, assim como não vê necessidade de autorização formal. "Eu não preciso de autorização para eu mesmo utilizar o que a Secretaria da Segurança criou, porque a PM faz parte da Segurança."

    -

    PROGRAMA DE SEGURANÇA DE ALCKMIN
    Detecta, exaltado na eleição, ainda não cumpriu sua principal promessa

    O que é
    Programa que começou a ser implantado em ago.2014. inspira-se em experiência de Nova York para integrar dados da polícia com câmeras de São Paulo

    R$ 9,7 milhões
    foi o custo do Detecta, comprado da Microsoft pelo governo do Estado em abril do ano passado

    Como deveria funcionar até dezembro de 2014
    Segundo propaganda eleitoral de Alckmin, imagens seriam cruzadas em tempo real com atitudes consideradas suspeitas. Dessa forma, crimes seriam detectados de forma mais ágil.

    Depois de criminoso aparecer em atitude suspeita em imagens de segurança, Detecta manda aviso para a central de polícia.

    Após recolher informações sobre o local com suspeitas, polícia envia os dados aos tablets dos policiais.

    *

    SITUAÇÃO DO DETECTA

    Situação atual
    > Utiliza a operação do Projeto Radar, sistema desenvolvido quase sem custo pela PM, para reconhecimento de placas de veículos para emitir alertas de roubo ou furto
    > Vídeo analítico com comportamentos suspeitos, como pessoas caminhando na via, motos paradas ao lado de veículos presos no tráfego e veículos estacionados no acostamento*

    O que falta
    > Na principal promessa do programa, a câmera detectaria automaticamente situações como um homem de capacete entrando em estabelecimentos comerciais
    > Reconhecimento facial de "pessoas de interesse" para identificar criminosos

    *Apenas nas marginais

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