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    Mesmo com SP sem água, Alckmin ganhará prêmio de gestão hídrica

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    22/09/2015 20h18

    Alan Marques - 30.jan.15/Folhapress
    O governador de SP Geraldo Alckmin (PSDB) em entrevista sobre a crise de abastecimento de água
    O governador de SP Geraldo Alckmin (PSDB) em entrevista sobre a crise de abastecimento de água

    Milhares de pessoas na Grande São Paulo diariamente tomam banho de caneca, pois seus chuveiros estão completamente sem água durante a maior parte do dia. Ainda assim, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), receberá da Câmara dos Deputados, em Brasília, um prêmio por sua gestão frente à crise hídrica.

    O governador é um dos vencedores do prêmio Lucio Costa de Mobilidade Saneamento e Habitação que, segundo os deputados, visa reconhecer as iniciativas que buscam a melhora da vida dos cidadão.

    Para receber o prêmio, o governador paulista foi indicado pelo deputado federal João Paulo Papa (PSDB-SP).

    Segundo Papa, Alckmin foi escolhido por causa dos avanços de São Paulo, nos últimos anos, para atingir a universalização do saneamento. Para o deputado, esses avanços estão acima da média em relação ao resto do país.

    Papa afirma também que a atual crise hídrica em São Paulo apenas joga luz no esforço do governador em relação ao saneamento básico. Após a indicação do deputado, Alckmin foi eleito de maneira unânime pelos parlamentares membros da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara.

    Apesar do prêmio, a gestão da água em São Paulo recebeu, desde o início de 2014, diversas críticas de especialistas e entidades. Para o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, faltou planejamento na condução da estiagem que ocasionou a crise. A tese é compartilhada por relatórios do Tribunal de Contas do Estado que apontam que o governo do Estado tinha indícios de que uma forte seca atingiria São Paulo. Segundo o TCE, os alertas poderiam ter suscitado ações mais eficientes.

    Segundo especialistas do meio acadêmico, o governo estadual demorou para tomar iniciativas de enfrentamento à escassez de água. Um dos antigos críticos ao governo é o atual presidente da Sabesp (empresa paulista de saneamento), Jerson Kelman. Antes de ser escolhido para o cargo, ele havia criticado a demora do governo estadual em adotar medidas antipopulares que pudessem frear o consumo de água da população. Na época, Kelman criticava a não adoção de uma tarifa mais cara para consumidores que aumentassem o consumo de água.

    A crítica foi feita em 2014, ano eleitoral que reconduziu Alckmin ao posto de governador. A tarifa mais cara para os "gastões" como o próprio governador gosta de chamar, só foi instituída um ano após o início da crise e depois de sua reeleição.

    Embora tenha instituído a sobretaxa, o governo estadual não foi capaz de ao menos fazer a lição de casa. Isso porque três prédios centrais da administração do governo do Estado foram flagrados consumindo mais água do que deveriam.

    Em respostas a essas críticas o governo do Estado sempre disse que as medidas de controle de gastos de água foram sendo tomadas de acordo com o aumento da gravidade da crise hídrica. O governo comemora também o fato de as medidas até agora adotadas terem livrado São Paulo da adoção de um rodízio (quando há cortes sistemáticos de bairros inteiros).

    Na noite desta terça-feira (22), o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga, divulgou nota defendendo as iniciativas tomadas pelo governo Alckmin no enfrentamento da crise hídrica.

    Leia na íntegra a nota divulgada pelo secretário de Saneamento e Recursos Hídricos, Benedito Braga:

    "Como presidente do Conselho Mundial da Água, acompanhei de perto as consequências desta seca sem precedentes que atingiu a região Sudeste em 2014. E posso afirmar com convicção que a condução da crise por parte do Governo de São Paulo e da Sabesp foi absolutamente irrepreensível, dentro dos mais rigorosos padrões técnicos. Por isso, aceitei o desafio de dar continuidade a este trabalho agora em 2015. Campanhas de conscientização, estímulos financeiros e grande adesão da população; manobras de interligação de sistemas e obras emergenciais para aumentar a oferta de água em tempo recorde, entre outras medidas, mostram que o Governo de SP agiu, e segue agindo, sob a liderança do governador Geraldo Alckmin, com competência e responsabilidade para assegurar o abastecimento da população, apesar das adversidades."

    TORNEIRAS SECAS

    Outro problema da gestão da crise da água é o fato milhares de pessoas viverem há um ano e meio sob forte racionamento (entrega controlada de água). Pelas periferias da Grande São Paulo, são muitos os relatos de quem convive com a falta diária de água.

    Segundo o pintor automotivo Dino Rugiero, 39, que mora na zona norte de São Paulo, a rotina é acordar cedo para encher baldes e canecas pela casa. "Às 13h, já não tem mais água [nas torneiras]", conta ele. E até a manhã do dia seguinte, Dino, a mulher e a filha ficam apenas com essa água reservada nos baldes disponível para consumo. Ou seja, a água para o banho, para cozinhar ou para dar a descarga no vaso sanitário.

    Dino é mais uma das pessoas que, segundo o governo Geraldo Alckmin vivem sob os efeitos da "redução de pressão", nome dado à operação feita pela Sabesp para reduzir a força com que a água é empurrada para as casas. Durante essa operação, a pressão é tão baixa que em muitos pontos da cidade (principalmente em lugares altos e na periferia), as pessoas ficam de torneiras secas. O efeito deste racionamento já é sentido por parte da população há mais de um ano.

    A redução de pressão, no entanto, poderia ter seus efeitos diminuídos se, ao longo dos anos, a Sabesp não tivesse afrouxado suas metas de trocas de tubulações quebradas pela cidade.

    OBRAS

    Para tentar contornar a crise, o governo do Estado tirou do papel uma série de projetos de infraestrutura. O mais urgente é a retirada de água da represa do Rio Grande (que está cheio) para carregar o sistema Alto Tietê (que está agonizando). Essa obra prometida por Alckmin para maio só deve ser entregue no fim deste mês.

    Além do atraso, a obra enfrenta questionamentos de ONGs e ambientalistas, já que a exigência de estudos ambientais foi abrandada. Para se ter uma ideia, durante o mês de agosto, a gestão tucana pediu o licenciamento ambiental de obras que já até haviam sido terminadas. "Os estudos de impacto servem justamente para avaliar que medidas poderiam evitar e minimizar danos. Por isso, o licenciamento não pode ser posterior à obra", diz o oceanógrafo Fabrício Gandini

    RESERVATÓRIOS

    Nesta terça-feira (22), o reservatório Cantareira tinha apenas 12,6% de sua capacidade, já contabilizando suas duas cotas de volume morto (porção de água emergencialmente captadas por bombas dos fundos das represas).

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