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    PM preso recebeu aval psicológico e diploma um dia após a chacina

    LUCAS FERRAZ
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    23/09/2015 02h00

    Reprodução/Folhapress
    Ao concluir o estágio, policial recebeu um diploma e foi considerado apto a retornar às atividades normais da PM
    Ao concluir o estágio, policial foi considerado apto a retornar às atividades normais da PM

    O único policial preso sob suspeita de participar da maior chacina do ano na Grande SP esteve em um programa de apoio psicológico da PM momentos antes dos ataques que deixaram 19 mortos em Osasco e Barueri.

    A matança ocorreu no mês passado, em um intervalo de três horas de uma noite de quinta-feira (13). No dia seguinte, o soldado recebeu um certificado pela conclusão do programa e foi considerado apto a voltar às atividades normais da corporação.

    Fabrício Emmanuel Eleutério, que até ser preso atuava no setor administrativo da Rota, foi submetido a esse estágio por ter ficado 22 meses em presídio especial da polícia, sob suspeita de participar de outras chacinas em 2013.

    Sua advogada, Flávia Artilheiro, diz que esse diploma da PM é prova da inocência de seu cliente e deverá ser usado nos processos contra ele. "Isso mostra que ele não tem um perfil violento. Ele nunca teve envolvimento em ocorrências que resultaram em morte ou lesão corporal", afirmou.

    A principal linha de investigação da chacina é que os crimes sejam resultado de vingança de policiais pela morte de um colega, dias antes, em um assalto.

    Como a Folha revelou, programas de redução da letalidade policial foram extintos ou esvaziados no governo Geraldo Alckmin (PSDB).

    Ex-secretário estadual da Segurança Pública, José Afonso da Silva, criador em 1995 do primeiro programa de acompanhamento psicológico de PMs, o Proar, declara que o serviço está "praticamente abandonado".

    O objetivo do Proar era, segundo ele, reduzir a letalidade policial e transmitir uma mensagem aos policiais, de não tolerância de morte de suspeitos. Para o ex-secretário, o governo Alckmin atua no sentido contrário.

    Nesta terça (22), o tucano negou ter esvaziado ações para reduzir a letalidade, mas sugeriu que há mortes inevitáveis. "O ideal seria ter letalidade zero. Mas você tem também criminosos fortemente armados, inclusive com metralhadoras, com armamento importado, com fuzil.", disse.

    Segundo a Ouvidoria da polícia, o número de mortos em confrontos com a PM bateu recorde no primeiro semestre deste ano, com 571 mortes praticadas por policiais em serviço entre janeiro e agosto.

    Para Adriana Eiko Matsumoto, vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia, o atendimento psicológico prestado pela PM paulista é "impróprio" e falta um trabalho de prevenção.

    Procurada, a Secretaria da Segurança não explicou porque Eleutério foi liberado por psicólogos para voltar ao trabalho. Em nota, disse que todos os controles de ações policiais estão sendo usados e cita queda na letalidade.

    Segundo a pasta, o Centro de Apoio Social da PM tem estrutura suficiente, e as prescrições têm objetivo de "preservar o profissional do exercício de atividades que, por sua natureza, favoreçam elevada exposição ao risco."

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    POLÍCIA NA QUARENTENA
    Programa que prevê afastamento de PMs mudou de nome e diminuiu o tempo de exclusão das ruas

    Transição
    Criado em 1995, na gestão Mário Covas, o Proar trocou de nome para PAAPM em 2002, na gestão Alckmin

    Objetivo
    Afastamento das ruas de policiais envolvidos em ocorrências de alto risco

    Diferenças
    No Proar, o PM era afastado compulsoriamente por 6 meses, mesmo antes de ser investigado. Em alguns casos, não retornava à função que exercia antes
    No PAAPM, uma avaliação psicológica determina se o policial será afastado e passará por curso. O tempo atual fora das ruas gira em torno de 1 semana

    OUTROS PROGRAMAS ABANDONADOS

    Comissão Especial de Redução da Letalidade
    Análise de casos de confronto envolvendo policiais. Criada em 2000 e extinta em 2011

    Estudo sobre a letalidade da PM
    Seria financiado pela Fapesp em torno de R$ 10 milhões e formado por um grupo de entidades como o Instituto Sou da Paz, Criado em 2015 e interrompido este ano

    CURSO DE DESENVOLVIMENTO PSICOEMOCIONAL
    Policial suspeito de participar de chacina recebeu certificado um dia após as mortes

    Duração: no máximo 17 dias; o soldado Fabrício Emmanuel Eleutério fez 1 semana

    Objetivo: restabelecer o equilíbrio emocional do policial

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