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    Policial militar é preso suspeito de participar da chacina de Carapicuíba

    DE SÃO PAULO

    24/09/2015 11h00

    Edison Temoteo/Futura Press/Folhapress
    Morador observa sangue de vítimas no local dos assassinatos, em Carapicuíba (Grande SP)
    Morador observa sangue de vítimas no local dos assassinatos, na região central de Carapicuíba

    Um soldado da Polícia Militar de São Paulo foi preso nesta quinta (24) sob suspeita de ter comandado os assassinatos de quatro adolescentes no último final de semana em Carapicuíba (Grande SP).

    Trata-se do segundo policial preso em um mês por suspeita de participar de chacinas na região metropolitana.

    Segundo a Secretaria da Segurança, a investigação aponta que Douglas Gomes Medeiros atacou os jovens como um ato de vingança, por considerá-los responsáveis por roubo e agressões sofridos pela mulher dele dias antes.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O soldado trabalhava no patrulhamento do 20º batalhão, vizinho a Carapicuíba, e havia sido transferido recentemente para atuar no Comando Geral, na cúpula da PM, onde deveria participar da escolta do subcomandante da corporação –coronel Francisco Alberto Aires Mesquita.

    A polícia investiga ainda a participação de mais uma pessoa no crime em Carapicuíba.

    Segundo informações dadas pelo governo Geraldo Alckmin (PSDB) no fim de semana, nenhum dos jovens tinha passagem pela polícia.

    Os quatro rapazes, entre 16 e 18 anos, foram atacados por volta da 0h20 de sábado (19), quando deixavam a pizzaria onde trabalhavam. Estavam parados em uma rua paralela quando foram abordados por quatro homens armados com pistolas em um carro.

    Nesta quinta, a Secretaria da Segurança disse que vinha apurando a ação de uma quadrilha que fingia entregar pizza para praticar roubos na região, mas não informou se os jovens eram investigados.

    Foi encontrada a bolsa da mulher do soldado na casa de um dos quatro adolescentes assassinados –a polícia não informou qual deles.

    O secretário da Segurança, Alexandre de Moraes, disse que Medeiros foi visto na região da chacina um dia antes do ataque –provavelmente numa preparação do crime.

    Os quatro adolescentes foram encontrados deitados de bruços, parte deles com as mãos postas na nuca, típica de abordagens policiais.

    Amigos e parentes dos adolescentes mortos disseram que os quatro eram trabalhadores e nunca tinham tido envolvimento com crimes.

    "Meu primo era ladrão e não tinha tênis novo? Era ladrão e precisava pegar dinheiro emprestado para sair? Isso é desculpa para justificar uma barbárie", afirmou um estudante que pediu para não ser identificado.

    "Se meu filho errou, que o algemassem, não atirassem. Nunca vi ele ou os outros com armas, como falaram", disse a mãe de uma das vítimas.

    O enterro dos jovens, que tinham entre 16 e 18 anos, no domingo (20), foi marcado por gritos e protestos pedindo "justiça".

    Um grupo com cerca de 30 motociclistas fez buzinaço na porta do cemitério. "Todo esse barulho é o nosso jeito de pedir mais justiça. Os caras eram do bem", disse um dos motociclistas, que pediu para não ser identificado.

    A Folha não conseguiu contato com a defesa do soldado preso –a Secretaria da Segurança não passou os contatos solicitados nesta quinta pela reportagem.

    Segundo a pasta, Medeiros está há quatro anos na corporação. Colegas disseram que ele não tinha histórico de violência nem foi investigado.

    OUTRO DETIDO

    No mês passado, a Corregedoria da PM prendeu Fabrício Emmanuel Eleutério, soldado da Rota, sob a suspeita de participar dos ataques em Osasco e Barueri. O governo afirma não ver relação entre a chacina de Carapicuíba com essas mortes.

    LETALIDADE

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB) afirmou na segunda (21) que não descarta a ligação entre as duas chacinas, embora ainda não haja fato que ligue os ataques.

    Conforme a Folha informou nesta quinta, há suspeita de que as mortes de agosto estejam relacionadas a outros 13 assassinatos na Grande São Paulo, ocorridos cinco dias antes.

    Na contramão do crescimento recorde de mortes por policiais, o governo Alckmin esvaziou mecanismos de repressão e prevenção criados para reduzir a letalidade policial.

    As três medidas mais diretas de combate à morte de suspeitos em confrontos foram extintas ou funcionam de forma insuficiente para enfrentar uma problema considerado endêmico.

    Na terça, Alckmin sugeriu que algumas mortes são inevitáveis. "O ideal seria ter letalidade zero. Mas você tem também criminosos fortemente armados, inclusive com metralhadoras, com armamento importado, com fuzil", disse.

    De acordo com números divulgados pela Corregedoria da PM, o número de pessoas mortas por policiais até agosto em 2015 cresceu 17% em relação ao mesmo período no ano passado. A Secretaria de Segurança Pública, porém, contesta os dados e afirma que os números de agosto ainda não foram divulgados.

    Colaborou o "Agora"

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