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    Crise da água

    Brasil ainda nem começou a lidar com a crise hídrica, diz ambientalista

    NICOLA PAMPLONA
    DO RIO

    26/09/2015 02h00

    O fundador da ONG Conservação Internacional, Peter Seligmann, esteve no Brasil para lançar a campanha "A natureza está falando" e anunciar R$ 70 milhões em investimentos no país.

    Entre esses investimentos estão dois projetos de reflorestamento de mananciais, no Rio e em Salvador.

    O objetivo é tentar recuperar a "produtividade" das fontes de abastecimento de água, estratégia tida por Seligmann como essencial para reverter a situação de estresse hídrico que assola hoje diversas regiões do planeta. "Precisamos proteger as fontes de água", diz.

    Confira trechos da entrevista à Folha.

    Ricardo Borges - 14.ago.2015/Folhapress
    Peter Seligmann, fundador da ONG Conservação Internacional
    Peter Seligmann, fundador da ONG Conservação Internacional

    *

    Folha - Escassez de água é hoje um problema global. Que tipo de tecnologia ou de soluções poderia ser usado no Brasil?
    Peter Seligmann - Há dois lados. Um deles é a ineficiência no uso, o desperdício.
    Na Califórnia, por exemplo, um dos grandes problemas é que o sistema tem muitos canais abertos, então há um grande percentual de evaporação.
    Parte desse desafio é melhorar a eficiência e proteger esses fluxos.
    Mas o outro aspecto é a proteção das fontes. Não falo apenas das florestas, mas precisamos proteger também os reservatórios.

    O sr. acha que estão lidando com o problema de forma apropriada na Califórnia?
    De jeito nenhum. A Califórnia vive uma grande confusão política. São os fazendeiros contra as cidades contra os ambientalistas.
    E isso vem levando a diferentes níveis de disputa judicial. A Califórnia não está nem perto de resolver esse problema.

    E no Brasil, como estamos lidando com a situação?
    Não vejo o Brasil lidando com a situação ainda.
    Veja bem, vocês têm São Paulo e Rio brigando por água, é como na Califórnia.
    A solução é difícil, significa entender que nossa demanda excede a oferta.
    E temos que fazer isso, senão ficaremos sem água, o que já está acontecendo em muitas partes do mundo.
    A boa notícia é que ainda há oportunidade para resolver o problema, investindo em reflorestamento, em proteção dos reservatórios. São ações muito importantes.
    Do ponto de vista financeiro, o que se pode fazer é cobrar dos beneficiários o uso da água.

    As ações anunciadas têm relação com obras para buscar outras fontes. Chegou-se a falar em dessalinização...
    Isso não resolve nosso problema. Vai talvez resolver o problema de termos água suficiente para beber. E talvez resolva o problema de termos água suficiente para produzir alimentos. Mas não resolve o problema de manter a produtividade dos rios e aquíferos.

    Há algum exemplo de ação positiva?
    Nova York está fazendo um trabalho brilhante.
    Décadas atrás, decidiram investir e proteger as florestas das montanhas Catskills.
    Houve, na época, muitas discussões sobre implantar novas usinas de purificação de água, mas agora sabemos que eles economizaram bilhões ao priorizar a proteção das fontes.

    Conhece algum exemplo no Brasil?
    Provavelmente alguma pequena comunidade, alguma cidade tenha percebido isso.
    Não é difícil de perceber, é bem óbvio. Mas a dificuldade surge quando isso se torna um problema político.
    É preciso uma liderança forte no nível político para dizer: precisamos mudar nosso comportamento.

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