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    Alckmin manda corregedoria investigar chefe de prisões de SP

    ARTUR RODRIGUES
    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    29/09/2015 12h00

    O governador Geraldo Alckmin (PSDB) determinou às corregedorias do Estado e da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária) que investiguem o coordenador dos presídios da Grande SP, Hugo Berni Neto, por suspeita de enriquecimento ilícito.

    "Se ficar comprovado que houve qualquer desvio, é punição exemplar. Serviço público, o nome já diz, é para servir as pessoas, não é para enriquecimento pessoal", disse o governador nesta terça-feira (29).

    Responsável por 28 unidades prisionais, Berni Neto recebe, como servidor público, um salário de R$ 18 mil. Entre outras funções, cuida de licitações milionárias da Secretaria da Administração Penitenciária.

    Na coordenação de presídios desde 2006, ele se associou à irmã há dois anos em uma empresa imobiliária –que, como a Folha revelou nesta terça (29), saiu quase do zero e construiu, só nesse período, casas em condomínios de alto padrão de Sorocaba (interior) avaliadas em mais de R$ 7 milhões, equivalentes a 32 anos de seu salário.

    Berni Neto e sua empresa ainda mantêm em andamento obras de um condomínio inteiro, com 24 casas, que podem alcançar R$ 15 milhões.

    Questionado sobre um eventual afastamento do funcionário, o governador afirmou ter consultado o secretário de Governo, Saulo de Castro, sobre a situação de Berni Neto. "Já pedi ao dr. Saulo que verifique, já está chamando o secretário da Administração Penitenciária [Lourival Gomes] para verificar a maneira de fazer."

    "Se ficar comprovado, ele responde criminalmente, vai ser preso, responde civilmente e vai devolver o dinheiro. É isso que tem que fazer", completou.

    O Ministério Público também investigará o coordenador dos presídios da Grande São Paulo.

    Segundo o promotor Silvio Marques, o caso será distribuído para um dos membros da Promotoria do Patrimônio Público e Social até esta quarta (30).

    A prosperidade da empresa da família, fundada em 2011, ocorreu com a entrada do coordenador dos presídios do governo Geraldo Alckmin (PSDB) na Midas Empreendimentos, em 2013.

    Desde que ele se tornou cotista da empresa, oficialmente controlada pela irmã dele, a psicóloga Rita de Cássia Berni, a Midas aumentou seu capital social de R$ 2.000 para R$ 273 mil –e passou a adquirir uma série de imóveis em condomínios no interior.

    Levantamento da Folha em cartórios identificou, de 2013 para cá, 12 terrenos adquiridos pela empresa em condomínios fechados -onde foram erguidas casas avaliadas entre R$ 650 mil e R$ 900 mil.

    Caso o servidor não consiga comprovar a origem da fortuna, ele pode ter os bens sequestrados pela Justiça.

    A Promotoria do Patrimônio já investiga suspeita de superfaturamento em uma licitação autorizada pelo órgão da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária chefiado por Berni Neto.

    A empresa suspeita é a Geraldo J Coan, que, no episódio conhecido como "máfia da merenda", foi acusada de pagar propina para fechar negócios. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) julgou irregular uma dispensa de licitação autorizada por Berni Neto em 2008, que também beneficiou a Geraldo J Coan.

    OUTRO LADO

    Berni Neto disse que o capital da empresa Midas Empreendimentos Imobiliários não tem relação com seu trabalho na Secretaria de Administração Penitenciária.

    Segundo ele, o patrimônio é fruto de um "remanejamento" financeiro de outras duas empresas de sua família.

    O servidor também nega que seja o dono do grupo empresarial. "Meu nome não está no documento", diz. Ele afirma que, por dois anos, foi sócio da empresa, mas depois se retirou.

    No entanto, em documento da última sexta (25) na Jucesp (Junta Comercial do Estado de São Paulo) ele ainda consta como cotista da empresa.

    Berni Neto disse à Folha que não pode "aparecer" como dono da empresa por ser funcionário público, mas admite conversar com a irmã diariamente sobre a Midas.

    Ele também negou irregularidades nas licitações da SAP.

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    DE PRESÍDIO A CASAS
    Desde 2013, empresa da qual Berni Neto é sócio adquiriu terrenos onde construiu casas de R$ 7 milhões

    2006
    > Hugo Berni Neto vira coordenador de presídios do Estado

    2008
    > Assume o cargo de coordenador de presídios da Grande SP

    2008
    > Rita de Cássia Berni, sua irmã, começa a adquirir uma série de imóveis

    2011
    > É criada a Midas Empreendimentos Imobiliários, empresa da família Berni

    2013
    > Berni Neto vira sócio cotista da Midas, registrada no nome de sua irmã. Empresa adquire 7 imóveis

    2014
    > A empresa adquire mais quatro terrenos onde construiu casas

    2015
    > Midas começa a construção de condomínio avaliado em R$ 15 milhões em Sorocaba e adquire mais um imóvel

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