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    Estudante teme até amigos de infância em Fortaleza, campeã de assassinatos

    PEDRO BORGES
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FORTALEZA

    30/09/2015 02h00

    Alex Costa - 3.jan.2014/"Diário do Nordeste"
    Casa onde quatro homens foram mortos a tiros no bairro do Barroso, em Fortaleza (CE)
    Casa onde quatro homens foram mortos a tiros no bairro do Barroso, em Fortaleza (CE)

    Moradora do Parque Jerusalém, em umas das regiões mais violentas de Fortaleza, a estudante universitária Lidia dos Anjos, 28, teve um primo e um amigo assassinados perto de casa em ocasiões diferentes. Os dois tinham 17 anos e envolvimento com tráfico.

    A cada meia hora, uma pessoa foi assassinada em capitais brasileiras no ano passado. Foram 15.932 vítimas, uma alta de 0,8% em relação ao ano anterior, segundo a 9ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

    "Ele era meu primo mais próximo. Tínhamos a mesma idade, brincávamos juntos desde pequenos", conta Lidia, que sempre morou no bairro e hoje tem medo de muitas ruas mesmo reconhecendo amigos de infância.

    "Não ando na pracinha do bairro, por exemplo, e tenho muita vontade. Tenho receio de falar com os meninos com quem eu brincava", afirma.

    Líder no ranking de assassinatos entre as capitais do país, Fortaleza enfrentou aumento nos índices de violência nos últimos anos, em meio a um embate da gestão Cid Gomes (Pros) com a Polícia Militar –que, em dezembro de 2011, fez seis dias de greve.

    O governador precisou convocar tropas do Exército e da Força Nacional para tentar controlar a situação.

    Depois do movimento grevista, a categoria conseguiu 56% de reajuste e redução da jornada de trabalho. Mas as boas relações do governo com a PM só foram retomadas com a posse de Camilo Santana (PT), em janeiro deste ano. Em maio, ele conseguiu a aprovação de lei para promover 4.439 soldados.

    Infográfico: Homicídios nas capitais

    INSEGURANÇA

    Em 2015, os dados de homicídios tiveram queda. A maior redução foi em março, de 36%. Mas, em agosto, os crimes com mortes tiveram alta de 13,5%, primeira variação positiva desde janeiro.

    Entre os moradores, a sensação de insegurança continua. "Ando sempre com cuidado. Não ando com celular à mostra e saio até sem bolsa", conta a recepcionista de hotel Yana Azevedo, 24, da Barra do Ceará, na periferia de Fortaleza. Ela já se deparou duas vezes com cenas de assassinato na rua onde mora. Após sofrer quatro assaltos, sempre pede à mãe que a acompanhe em direção ao ponto de ônibus.

    "As mortes são diárias. Nesta semana, na feira do bairro, morreram duas pessoas", relembra a estudante Lidia dos Anjos.

    Apesar de concentrada nas periferias, a violência também atinge bairros nobres da capital cearense. O pastor Paulo César Araújo, 46, foi morto em novembro de 2014 após resistir a um assalto no trânsito. O crime causou comoção e desencadeou reações de adversários do então governador Cid Gomes (Pros).

    A Secretaria da Segurança Pública do Ceará afirma que houve neste ano uma "quebra na curva de crescimento" de crimes violentos com mortes em Fortaleza –diminuição de 19,3% nos primeiros oito meses de 2015.

    A pasta atribui os resultados, dentre outros fatores, à integração entre as forças de segurança e ao trabalho focado em áreas, horários e dias com maiores taxas de crimes.

    Infográfico: Gastos com segurança pública

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