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    Rio de Janeiro

    Após farsa, PM escolta moradores até enterro de morto em favela do Rio

    BRUNA FANTTI
    DO RIO

    30/09/2015 15h27

    Quatro motociclistas e dois carros da Polícia Militar escoltaram um ônibus lotado com moradores do morro da Providência, região central do Rio, até o cemitério São João Batista, na zona sul, onde o adolescente Eduardo Victor, 17, foi enterrado na tarde desta quarta-feira (30).

    A corporação não divulgou o motivo da escolta. Um dos motociclistas afirmou à Folha que havia o receio de ocorrer depredações no caminho já que no período da manhã oito ônibus foram depredados em protestos.

    A mesma empresa que teve os coletivos depredados providenciou o ônibus que transportou cerca de 70 pessoas até o São João Batista.

    "A UPP só nos faz mal. Não nos ajuda em nada. É uma tensão, uma agonia o tempo todo. É uma farsa", criticou Fabrício Santos, 20, amigo de infância de Victor. Familiares não quiseram falar com a imprensa. Victor foi enterrado sob gritos de "justiça".

    O jovem já teve passagens na polícia por tráfico de drogas, ameaça e injúria. Investigado pela UPP (Unidade da Polícia Pacificadora) local por sua participação no tráfico de drogas da Providência, ele foi morto durante ação policial na comunidade, nesta terça-feira (29).

    Assista ao vídeo

    Cinco policiais - identificados como Éder Siqueira, Gabriel Julião, Riquelme Geraldo, Paulo da Silva e Pedro Vitor da Silva - foram presos após uma moradora filmar os agentes fraudando o local do crime.

    No vídeo, divulgado em redes sociais, é possível ver os policiais ao redor do corpo imóvel e ensanguentado de Victor no chão. Um policial faz um disparo para o alto. Momentos depois, outro coloca uma pistola junto à mão de Victor e faz dois disparos.

    A intenção dos policiais, segundo os investigadores, é fraudar o exame residuográfico que iria constatar a presença de pólvora nas mãos de Victor. Um volume de pólvora maior é encontrado nas mãos de quem faz o disparo.

    "Está claro que existiu uma fraude processual. Diante dessa situação, vamos analisar a possibilidade de execução e não mais homicídio decorrente de intervenção policial", afirmou o delegado Rivaldo Barbosa, da Delegacia de Homicídios.

    Em um primeiro depoimento, antes do vídeo ser veiculado, os policiais afirmaram que Victor morreu durante um tiroteio com a polícia. Ainda segundo relato dos agentes, com Victor teria sido apreendida uma pistola, um rádio transmissor e munições.

    Os cinco policiais estão presos por fraude processual qualificada.

    A defesa dos policiais afirmou que eles não quiseram fraudar a cena do homicídio. "A arma estava travada e eles resolveram fazer os disparos para transportar a arma com segurança. No momento, eles cometeram aquele equívoco de aproximar a arma na mão da vítima. Mas não tiveram a intenção de modificar a cena do crime", afirmou Felipe Simão.

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