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    Em versão gaúcha de Cinderela, cuia de chimarrão vira charrete

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO ALEGRE

    03/10/2015 02h00

    Como na história da Cinderela, a fada realiza o sonho da jovem rejeitada pela madrasta. Mas, em "Prendarella", a guria usa um vestido de prenda (mulher gaúcha), a cuia de chimarrão é que se transforma em charrete, o baile acontece num CTG (Centro de Tradições Gaúchas) e o príncipe é um guri, filho do "patrão" de uma estância.

    A narrativa integra a coleção de livros Reino Grande do Sul, da Edibook, que adapta clássicos infantis para a cultura tradicionalista gaúcha.

    "Prendarella" e "O Gato de Bombachas" já estão à venda, e até 2016 são esperados "Sulliver", "A Prenda de Neve e os sete piazitos", "Os Três Ginetes" e "Dom Quitério de la Frontera". Cada título terá tiragem de 5.000 exemplares.

    Segundo Rodrigo Keller, 38, proprietário da editora, a ideia da coleção surgiu com a constatação de que a maioria dos livros sobre o tradicionalismo gaúcho são voltados ao público adulto.
    Keller apostou que as crianças teriam uma identificação imediata com as adaptações e que a receptividade seria maior do que se fossem histórias originais. "Recebemos muitos relatos de pais contando que as crianças adoraram, e elas se divertem muito nas rodas de leitura que organizamos", afirma.

    Pauline Pereira, 29, que adaptou os livros de "prendas" da coleção, concorda.

    "Quando a fada ganha um pedaço de cuca [bolo típico] da Prendarella, as crianças contam que também comem cuca em casa. Quando a cuia de chimarrão vira a charrete, os pequenos dão gargalhada", diz ela, sobre o contato com os pequenos leitores.

    'BACURI GUAPO'

    Para adaptar as histórias, Pauline pesquisou referências do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG).

    Expressões como bacuri (menino), guapo (bonito), matutar (pensar), pelear (lutar) e regalo (presente) aparecem no "Gato de Bombachas" e são devidamente explicadas em um glossário no final do livro. "Prendarella também tem expressões típicas, mas ela é mais formosa", afirma Pauline, sobre o vocabulário da personagem.

    "Tentei fazer as mulheres mais fortes do que nos contos de fadas. Elas são batalhadoras como as prendas gaúchas, característica que só apareceu com 'A Casa das Sete Mulheres', que deu importância para as mulheres durante a Revolução Farroupilha", diz Pauline, em referência ao romance da escritora Letícia Wierzchowski que foi adaptado pela Globo.

    Para Luís Augusto Fischer, professor de literatura da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e autor do "Dicionário Gaudério", o "assunto preferido dos gaúchos são eles mesmos", mas ele não vê o bairrismo da coleção com maus olhos.

    "Tem o lado bacana. Se tudo vira McDonald's, é legal tu não ser McDonald's", diz, em referência a produtos culturais pasteurizados.

    Os livros estão à venda em Porto Alegre e nas principais livrarias do interior do Rio Grande do Sul. Em breve, haverá versões em e-book na Appstore e na Playstore. Cada exemplar custa R$ 20.

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