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    Polícia prende 11 suspeitos de participar de chacinas na Grande SP

    ROGÉRIO PAGNAN
    THIAGO AMÂNCIO
    SIDNEY GONÇALVES DO CARMO
    LUCAS FERRAZ
    DE SÃO PAULO

    08/10/2015 07h58

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Durante operação, polícia apreende armas e celular
    A polícia apreende armas e celular durante operação na Grande São Paulo

    A polícia prendeu nesta quinta-feira (8) 11 suspeitos de participar das chacinas que aconteceram na Grande SP em agosto e setembro. Como o PM Fabrício Emmanuel Eleutério, 30, já estava detido desde agosto, são 12 presos suspeitos de envolvimento nos crimes.

    Nesta quinta, foram presos por determinação judicial um guarda municipal de Barueri e cinco PMs sob a suspeita de participação da série de ataques na Grande SP, entre os dias 8 e 13 de agosto, e deixaram 32 mortos.

    Durante o cumprimento de mandados de busca e apreensão na casa de outros suspeitos, dois outros policias militares foram presos em flagrante por porte de arma e munição ilegais.

    Outros três policiais militares foram presos por determinação da Justiça sob a suspeita de terem adulterado o local do crime. Eles teriam modificado a posição dos corpos de quatro adolescentes assassinados em Carapicuíba, no dia 19 de setembro. Eles foram filmados com as mãos cruzadas na nuca, clara evidência que tinham sido rendidos antes dos tiros, mas a perícia encontrou outra cena quando chegou ao local.

    Eles tiveram a prisão temporária decretada por 30 dias.

    Os nomes dos suspeitos presos não foram divulgados.

    Os assassinatos de Carapicuíba no dia 19 não têm ligação, segundo a polícia, com as chacinas dos dias 8 e 13. Os quatro jovens teriam sido mortos porque roubara e espancaram a mulher de um PM, que se vingou.

    Mapa: Chacinas na Grande SP

    Não há provas de que os policiais presos por adulterar o crime tenham participado do crime.

    Já as mortes de agosto seriam motivadas pela retaliação da morte do cabo da PM Ademilson Pereira de Oliveira, 42, no dia 7 de agosto durante um roubo a posto de combustível em Osasco. A chacina do dia 13 também teria participação de um guarda municipal, que também queria se vingar da morte do guarda civil Jefferson Luiz Rodrigues da Silva, no dia 12.

    "Não temos nenhuma dúvida mais da motivação dessas mortes. Foi uma junção de vingança após a morte do PM do dia 7 [de agosto] com a morte do GCM no dia 12 [de agosto]", disse o secretário da Segurança Pública, Alexandre de Moraes.

    Ele ressaltou ainda que as vítimas não tiveram ligação com nenhum dos crimes. "Nenhuma das 23 vítimas teve qualquer relação, seja com o homicídio do policial militar no dia 7 seja com o policial do guarda municipal no dia 12", completou.

    A operação apreendeu ainda ao menos duas armas, capacetes e um celular.

    Ao todo, segundo a Secretaria da Segurança Pública, foram cumpridos seis mandados de prisão e 28 de busca e apreensão em 36 lugares da Grande São Paulo. Os mandados foram expedidos pela Justiça Criminal de Osasco e pela Justiça Militar.

    Os mesmos pedidos foram apresentados à duas Justiças.

    No total, 457 policiais participam da operação, sendo 201 policiais civis do DHPP e Demacro (Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo), e 256 policiais militares da Corregedoria da Polícia Militar, para a garantia da realização simultânea dos mandados judiciais.

    VÍTIMAS

    Entre as vítimas da chacina, havia apenas uma mulher, a adolescente Letícia Vieira Hillebrand da Silva, 15, que morreu no dia 27 de agosto em decorrência de uma infecção abdominal. Todas as outras vítimas eram homens.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    Um dos suspeitos é levado para a sede do DHPP, na região central de São Paulo
    Um dos suspeitos é levado para a sede do DHPP, na região central de São Paulo

    Apesar de o governo de São Paulo ter prometido uma resposta imediata aos crimes, até então Fabrício Emmanuel Eleutério, 30, era o único detido pela série de crimes na Grande São Paulo.

    O soldado da Rota é suspeito de integrar um grupo de extermínio, com atuação em Osasco, que chegou a ser investigado em 2013. Os advogados Nilton Nunes e Flávia Artilheiro, defensores de Eleutério, negam a participação do PM na chacina. Segundo eles, ligações telefônicas e conversas de Whatsapp feitas pelo soldado no momento dos homicídios provam sua inocência.

    Os indícios contra Eleutério, contudo, perderam força ao longo de um mês e meio de investigação –levando a PM a cogitar sua liberação. O rastreamento do carro e a quebra de sigilos telefônicos enfraqueceram as suspeitas da polícia contra Eleutério.

    Em documento apresentado à Justiça Militar, a Corregedoria da PM escreveu que "a única prova de que dispomos é reconhecimento pessoal" e admitiu pedir "a imediata liberação do suspeito" se for demonstrado "não mais haver necessidade" da "medida cautelar privativa de liberdade".

    O "reconhecimento pessoal" citado pela polícia é de um suposto sobrevivente da chacina –posto sob suspeição pela Justiça pelo fato de não terem sido apresentadas provas de que ele foi atacado nem de como a investigação conseguiu encontrá-lo.

    A quebra dos sigilos telefônicos não ajudou a confirmar a versão do suposto sobrevivente –não foi encontrada ligação do soldado da Rota com demais PMs investigados. O celular de Eleutério, segundo a quebra dos sigilos, foi usado na casa de sua noiva às 22h36 no dia do crime –os ataques, segundo a polícia, ocorreram das 20h30 às 23h30. A ligação foi entre ele e sua advogada, Flávia Artilheiro.

    Os dados do rastreador do carro usado por Eleutério mostraram que ele ficou na casa da noiva das 19h12 às 22h36 no dia do crime. A noiva e a mãe dela afirmaram em depoimento que eles ficaram em casa naquela noite para comer pizza. A Corregedoria diz, porém, que esses depoimentos devem ser vistos com "cautela" em razão do envolvimento emocional e familiar.

    E, como Eleutério pode ter saído de casa em outro carro e seu telefone pode ter sido atendido por outra pessoa na casa da noiva, a PM não descartou, por ora, a ligação do policial com a chacina. O soldado da Rota também é investigado por cinco chacinas anteriores –policiais ouvidos pela Folha dizem haver fortes indícios de envolvimento dele em parte dos crimes, mas a defesa de Eleutério alega inocência.

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    HISTÓRICO DE CRIMES

    Principais chacinas de SP em 2015 tiveram suspeita de participação de policiais

    24.jan - Mogi das Cruzes (Grande SP)
    > Criminosos chegaram em um Volkswagen Fox e abriram fogo contra um grupo que conversava na rua

    2.fev - Vila Jacuí (zona leste)
    > Jovens conversavam perto de um campinho de futebol quando ao menos sete homens atiraram

    9.abr - Jaçanã (zona norte)
    > Quatro pessoas morreram após serem baleadas na rua e em três ataques próximos

    18.abr - Quadra da Pavilhão Nove (zona oeste)
    > Crime aconteceu durante confraternização. Em maio, um PM e um ex-PM foram presos acusados de participar do crime

    1º.jul - Jardim São Luiz (zona sul)
    > As 6 vítimas estavam no bar quando o grupo de atiradores chegou. Os suspeitos fugiram em um carro

    13.ago - Osasco e Barueri (Grande SP)
    > A principal linha de investigação é a vingança de PMs pela morte de um colega. Um soldado suspeito da Rota foi preso

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