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    Armados, delegados e PMs trocam provocações na Assembleia de SP

    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    10/10/2015 02h00

    Os ânimos estavam exaltados. Os dois lados não economizavam caras feias, vaias e insultos. Apenas uma faixa vermelha os separava.

    A dúvida era quem deveria ser chamado caso decidissem partir para a briga, já que a corda instalada no plenário Franco Montoro, na Assembleia Legislativa paulista, separava de um lado os policiais civis e, do outro, os militares. Todos armados.

    O motivo da animosidade atende pelo nome de PEC 431, uma proposta de emenda constitucional que tramita no Congresso e que pretende dar à PM poderes semelhantes aos das polícias Civil e Federal, como investigar e levar casos diretamente à Justiça.

    Embora seja assunto de competência federal, esse tema está sendo levado por uma comissão da Câmara aos Estados como forma de promover ampla discussão nacional.
    São Paulo é a sexta unidade da Federação a receber tal debate e, também, onde está instalada a maior associação de delegados de Polícia Civil do país –que tem pesadelos só em pensar em ceder espaço aos oficiais da PM.

    Uma clara demonstração disso estava estacionada do lado de fora da Assembleia pouco depois das 5h desta sexta-feira (9). Um ônibus com mais de 30 delegados da região de Marília (a 435 km de SP) trazia os primeiros participantes civis do evento previsto para começar às 9h.

    Queriam os melhores lugares e não tolerariam que a PM tomasse todos os espaços. Não sabiam que a fita seria colocada para que cada grupo tivesse 120 vagas no plenário.

    CHACINA

    Por volta das 6h30, já eram cerca de cem homens e mulheres de terno –que foram para lá em sete ônibus, quatro microônibus e três vans, além de carros particulares.

    Os PMs não demoraram a chegar, alguns com carro oficial e motorista particular.

    Policiais militares e civis se trombavam na entrada como se não existissem uns para os outros –não trocavam nem olhares entre si, embora muitos sejam obrigados a trabalhar juntos diariamente.

    Às 9h, havia tantos policiais (cerca de mil) que a segurança da Assembleia abriu outros três auditórios com transmissão simultânea para abrigá-los –sempre separando delegados de PMs.

    No plenário, o delegado Antonio Assunção de Olim, deputado estadual pelo PP, expôs a posição dos colegas, contrários à ampliação do poder da Polícia Militar.

    "As delegacias estão muito cheias porque, às vezes, a PM também não faz o seu trabalho de evitar os roubos que acontecem em São Paulo. Se todos fizerem a sua parte, não teria essa fila", afirmou.

    Foi aplaudido efusivamente pelos de terno, que levaram para seu lado da plateia movimentos sociais com faixas críticas à maior chacina do ano na Grande SP, com ataques que deixaram 19 mortos em Osasco e Barueri –segundo a investigação, realizados por PMs em vingança à morte de um colega.

    "Quem matou os 19 de Osasco?" e "Muito sangue inocente escondido por entre as fardas" eram alguns dos cartazes levados à disputa.

    DITADURA

    O delegado Olim recebeu resposta imediata do deputado federal Capitão Augusto (PR-SP), que se disse aberto ao diálogo, mas "não da forma como está sendo feito" "presenciando essas faixas aí" –que também vinculavam a PM à ditadura militar.

    "Se quiser, nós podemos entrar nesse campo também e falar do DOI-Codi", atacou ele, aplaudido pelo lado da plateia de farda por fazer referência ao grupo da Polícia Civil associado a ações violentas no regime militar.

    Comemorações de um lado, vaias do outro, e a troca de "gentilezas" entre as partes se estendeu pelo encontro até o fim da tarde.

    Um dos momentos mais tensos foi quando o mesmo deputado Capitão Augusto ameaçou retirar os representantes da sociedade civil que vaiavam os militares.

    Os delegados reagiram dizendo que não permitiriam a expulsão de seus convidados. "Aqui não é quartel, não. Aqui não é soldado, não", gritaram.

    Entre as provocações, PMs riram de um erro de português de um delegado. Do outro, os civis tiraram sarro da apresentação de um coronel.

    "Há uma faixa que, infelizmente, nos separa. Eu tenho certeza que, se fossemos pessoas realmente sérias naquilo que amamos, na defesa da sociedade, as faixas não seriam um impeditivo, uma barreira para que a gente se unisse num debate sério", disse o coronel Azor L. da Silva Junior.

    O deputado federal major Olímpio Gomes (PDT) resumiu, ao seu ver, a briga que presenciava na Assembleia Legislativa.

    "Não adianta ficarmos nos digladiando enquanto 58 mil pessoas morrem por ano no país. Quando as polícias brigam, são dois carecas brigando por um pente. Não leva a nada", afirmou.

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