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    Pilotos usam manches de aviões para ofender colegas

    RICARDO GALLO
    DE SÃO PAULO

    13/10/2015 02h00

    Tal qual ocorre em banheiros de rodoviária, pilotos da Azul têm usado o manche de aeronaves Embraer avaliadas em R$ 201 milhões para escrever ofensas contra chefes, colegas e a própria empresa.

    A prática –que os passageiros desconhecem– é conhecida entre os pilotos como "Face do Manche", em alusão ao mural do Facebook. O manche é uma espécie de "volante" que controla o avião.

    "Azul empresa de merda" é uma das inscrições nos aviões. Pilotos relatam ainda ofensas ao fundador da companhia, David Neeleman, e a colegas de voo rigorosos com regras. "Corno", "Fulano [nome do profissional], comi sua mulher" e "vendido" estão entre os dizeres comuns.

    Para conseguir ver as ofensas é preciso remover uma parte do manche; as inscrições ficam no verso, feitas com caneta esferográfica.

    A Azul já tentou coibir a baixaria e trocou o material atrás do manche para a cor preta. Mas os pilotos voltaram a escrever, desta vez com corretivo líquido branco.

    Divulgação
    Interior de peça do manche de um avião rabiscada por tripulação da companhia Azul
    Interior de peça do manche de um avião rabiscada por tripulação da companhia Azul

    João Macari Neto, chefe dos pilotos e diretor de operações da Azul, sabe dos inscritos, mas nada faz, dizem pilotos; ele não respondeu.

    "Um comandante recebe cerca de R$ 14 mil limpos; um copiloto, cerca de R$ 7.000. Era de se esperar um nível maior", diz um piloto da Azul, sob anonimato. "E se um dia um cara se mata com um avião porque, pela trigésima vez, viu seu nome escrito na hora de ir voar?"

    As vítimas se dizem humilhadas e há quem critique a empresa por não coibir a prática. Já houve denúncias anônimas de tripulantes à chefia.

    GRAVE

    Doutora em direito do trabalho, Adriana Calvo diz se tratar de assédio moral horizontal quando um grupo se volta para humilhar outro. "É muito grave", diz Adriana, que estudou o tema no doutorado. As vítimas, afirma, podem procurar o Ministério Público do Trabalho para fazer denúncia anônima, que pode resultar em ação judicial coletiva contra a empresa.

    Em paralelo, é possível ir a uma delegacia fazer boletim de ocorrência por injúria, calúnia e difamação.

    OUTRO LADO

    A Azul não negou que a chefia responsável pelo voo tivesse conhecimento sobre o tema. Em nota, a empresa disse repudiar "veementemente toda e qualquer prática discriminatória".

    Afirmou também que irá "investigar o caso com rigor para que medidas cabíveis sejam tomadas".

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