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    Crise da água

    Alckmin escala secretário para receber prêmio por gestão da água em Brasília

    THIAGO AMÂNCIO
    DE SÃO PAULO

    13/10/2015 12h10

    O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), enviará nesta terça-feira (13) o secretário de Recursos Hídricos, Benedito Braga, para receber em seu lugar o prêmio dado pela Câmara dos Deputados, em Brasília, por sua gestão frente à crise hídrica.

    O tucano foi um dos vencedores do prêmio Lucio Costa de Mobilidade Saneamento e Habitação que, segundo os deputados, visa reconhecer as iniciativas que buscam a melhora da vida dos cidadãos.

    Quando soube que seria premiado pelo Congresso Nacional, o tucano afirmou que "modéstia à parte, [o prêmio] é merecido".

    O Estado de São Paulo atravessa a pior estiagem dos últimos 85 anos. Agravada no início de 2014, a crise deixou à beira do colapso os principais reservatórios, enquanto diferentes bairros convivem com torneiras secas até 20 horas por dia.

    O secretário Benedito Braga defende a condecoração. "A condução da crise por parte do governo de São Paulo e da Sabesp foi absolutamente irrepreensível, dentro dos mais rigorosos padrões técnicos", afirmou, em nota, quando a premiação foi anunciada.

    Para receber o prêmio, o governador paulista foi indicado pelo deputado federal João Paulo Papa (PSDB-SP).

    Segundo Papa, Alckmin foi escolhido por causa dos avanços de São Paulo, nos últimos anos, para atingir a universalização do saneamento. Para o deputado, esses avanços estão acima da média em relação ao resto do país.

    PRÊMIO "TORNEIRA SECA"

    Uma premiação paralela foi realizada pela ONG Minha Sampa na manhã desta terça na avenida Paulista, na região central de São Paulo, em "homenagem" ao governador.

    O público que passava pela avenida, em frente ao Masp (Museu de Arte de São Paulo), entregava o prêmio "Torneira Seca" a dois manifestantes que estavam com máscaras do governador tucano.

    Segundo Guilherme Coelho, coordenador da ONG, a premiação dado pelo Congresso "é uma falta de respeito" com os paulistas que estão sem água.

    O professor universitário Ivanil Nunes, 49, concorda. "É um escárnio com a população. Essa crise hídrica já era anunciada há muito tempo. Me sinto debochado", diz o morador da Barra Funda.

    De acordo com ele, seu prédio precisou desenvolver um sistema de captação da água da chuva para lidar com a redução de pressão da água que chega nas torneiras.

    A servidora pública Cleide Napoleão, 62, se animou com a manifestação. "Pago muito e recebo pouco. Depois das 15h, a torneira começa a secar, e olha que moro em Pinheiros, bairro nobre. Já perdi quatro chuveiros, porque a resistência queima quando passa pouca água."

    CONTROVÉRSIA

    A gestão da água em São Paulo recebeu, desde o início de 2014, diversas críticas de especialistas e entidades. Para o presidente da Agência Nacional de Águas, Vicente Andreu Guillo, faltou planejamento na condução da estiagem que ocasionou a crise.

    A tese é compartilhada por relatórios do Tribunal de Contas do Estado que apontam que o governo do Estado tinha indícios de que uma forte seca atingiria São Paulo. Segundo especialistas do meio acadêmico, o governo estadual demorou para tomar iniciativas de enfrentamento à escassez de água.

    Um dos antigos críticos ao governo é o atual presidente da Sabesp, Jerson Kelman. Antes de ser escolhido para o cargo, ele havia criticado a demora do governo estadual em adotar medidas antipopulares que pudessem frear o consumo de água da população, como a adoção de uma tarifa mais cara para consumidores que aumentassem o consumo de água.

    A tarifa foi adotada um ano após o começo da crise, após a reeleição de Alckmin. Embora tenha instituído a sobretaxa, o governo estadual não foi capaz de ao menos fazer a lição de casa. Isso porque três prédios centrais da administração do governo do Estado foram flagrados consumindo mais água do que deveriam.

    No último dia 30, o governo entregou, com quatro meses de atraso, uma obra de interligação que levará água do cheio reservatório do Rio Grande (braça da represa Billings) ao crítico Alto Tietê (manancial no extremo leste da região metropolitana).

    RELATÓRIO

    Um documento elaborado pela Aliança pela Água –associação de movimentos sociais que inclui o Minha Sampa–, Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), Greenpeace e Coletivo de Luta pela Água foi entregue à ONU nesta terça mostrando como o governo paulista violou direitos humanos durante a crise hídrica.

    Segundo o relatório, a crise é resultado de falta de planejamento, superexploração dos mananciais, não implantação de medidas de contingência, ausência de transparência e de participação da população, interrupção arbitrária e repentina do abastecimento e interrupção de investimentos.

    O documento foi entregue ao brasileiro Leo Heller, relator da ONU para os direitos humanos à água e ao saneamento.

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