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    Celular é vendido por até RS 20 mil no 'feirão' das cadeias em SP

    ARTUR RODRIGUES
    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    15/10/2015 02h00

    Um celular, R$ 20 mil. A bateria sai por R$ 100 ou R$ 1.000. A entrada de uma prostituta, R$ 300. Os preços do "feirão" dos presídios paulistas variam conforme o grau de segurança da unidade.

    Quanto mais seguro, mais caro será o produto ou o serviço a ser prestado. A Folha conversou com sete funcionários do sistema prisional paulista, que disseram haver uma tabela de preços nas detenções. Algumas vezes, segundo relatam, com anuência de chefes de unidades.

    Para comprar celulares, usados por facções para ordenar crimes, como assassinatos de agentes penitenciários e policiais, detentos pagam de R$ 5.000 a R$ 20 mil.

    Agora, presos também usam os equipamentos para fazer vídeos nos quais reclamam das condições da prisão.

    Na unidades, também são vendidos baterias (de R$ 100 a R$ 1.000), chips (R$ 200 a R$ 1.000), carregadores (até R$ 200), trouxas de maconha (R$ 50) e crack (R$ 100).

    Infográfico: Feirão nos presídios

    Dados obtidos pelo site Fiquem Sabendo, por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram que nos presídios paulistas um celular é apreendido, em média, a cada 36 minutos. De janeiro a maio deste ano, foram 6.081 deles.

    As apreensões e o aparato para impedir a entrada de telefones, como raio-X e revistas aos visitantes, inflacionam o preço dos produtos.

    Assessor jurídico da Pastoral Carcerária, Paulo Malvezzi diz que, devido ao maior controle, é quase impossível um celular entrar nas prisões sem a ajuda de funcionários.

    "A gente, com certa segurança, pode dizer que a totalidade dos celulares [que entram nas prisões] é de responsabilidade de agente do Estado", diz. "Com a revista vexatória, com detecção de metal, é muito difícil que algum advogado entre com celular ou uma visita entre [com o telefone] nas partes íntimas".

    VÍDEOS

    A Folha teve acesso a vídeos feitos por presos que dizem estar no CDP do Belém, zona leste de SP. Em um deles, reclamam da superlotação.

    "Primeira fase do descaso e desumanidade no CDP Belém 2: superlotação. Convívio em uma área do poder punitivo do Estado, onde o centro compacto, criado para suportar 768 presos, tem, por ora, 2.400 presos. Essa situação [é] degradante", afirma o preso, ao ler um discurso.

    O detento vira a câmera e mostra diversos outros presos amontoados na cela –todos com o rosto coberto com camisetas brancas. Em outro vídeo, um dos presos está aparentemente passando mal. "Vocês vão ver o tamanho do tempo para eles atenderem o preso. Um preso pode estar sofrendo um infarto. Até agora ninguém atendeu", diz o detento no vídeo.

    Para o coordenador do núcleo de situação carcerária da Defensoria Pública, Patrick Lemos Cacicedo, as prisões da Grande SP são as mais lotadas. A pior situação é a da saúde, diz ele, devido à falta de médicos nas prisões.

    Infográfico: Raio-X das unidades prisionais

    OUTRO LADO

    A SAP (Secretaria de Estado da Administração Penitenciária) afirma que tem "tolerância zero" com a entrada de objetos proibidos dentro das prisões paulistas. Em nota, a pasta diz que agentes públicos flagrados tentando entrar com objetos ilícitos nas unidades são demitidos e processados.

    "Todas as unidades prisionais do Estado estão equipadas com aparelhos de raio-X de menor e maior porte, além de detectores de metal de alta sensibilidade que ajudam a coibir a entrada de objetos e drogas", diz a secretaria.

    A SAP afirma fazer revistas periódicas nas unidades e diz que presos encontrados com drogas e celulares respondem criminalmente e recebem sanções disciplinares -além de perder o direito de receber visitas nas unidades.

    Questionada, a pasta respondeu especificamente apenas sobre uma das filmagens citadas, na qual presos cobram atendimento médico. "O atendimento médico a presos é realizado na rede pública", afirma a secretaria. A pasta diz que todos os presos que necessitam de socorro são atendidos de forma imediata.

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