• Cotidiano

    Thursday, 02-May-2024 02:57:42 -03

    Motoristas do Uber usam grupos no WhatsApp para fugir de fiscalização

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    18/10/2015 02h14

    Raquel Cunha/Folhapress
    Alexandre Falchi Araújo, 36, (à esq.) e Eduardo da Silva Mendes, 34, motoristas do Uber
    Alexandre Falchi Araújo, 36, (à esq.) e Eduardo da Silva Mendes, 34, motoristas do Uber

    Oitenta homens em carros pretos cortam as ruas de São Paulo diariamente, sem pausa. Para manter uma atuação discreta, eles criaram o grupo MIB - Men in Black (Homens de Preto) no aplicativo de mensagens WhatsApp.

    Pelo celular, além de se conectarem a passageiros, os motoristas do aplicativo Uber conversam, alertando sobre blitze do DTP (Departamento de Transportes Públicos).

    Como o serviço do Uber não é regulamentado pela prefeitura, os "homens de preto" precisam evitar esbarrar nos 105 fiscais do DTP, além dos agentes da GCM (Guarda Civil Metropolitana). Quem é pego tem o carro apreendido, paga uma multa de R$ 1.700, mais R$ 41 a cada 12 horas de estadia no pátio e R$ 521 para a remoção.

    O ex-coordenador de redes de tecnologia da informação Eduardo da Silva Mendes, 34, agora motorista, nunca teve o carro levado, mas diz que a empresa banca todos os custos nesses casos. "Eles mandam um representante jurídico e reembolsam o dinheiro da multa e dos dias que o motorista ficou parado", afirma.

    Entenda o Uber

    Mendes está em um dos grupos de WhatsApp usados para escapar da fiscalização, formado há cerca de seis meses, que reúne motoristas de todas as regiões da cidade. "Sempre que alguém vai a grandes feiras e aeroportos, a gente é avisado de como está a situação. Também avisam quando um amigo foi pego: apreendido em Congonhas, por exemplo", conta.

    Quando isso acontece, diz ele, os motoristas combinam com o passageiro para deixá-lo em um ponto próximo, e evitar os fiscais.

    As mensagens coletivas também ajudam os novatos. "O cara não pode se apavorar quando é parado pela fiscalização. Ele não é obrigado a destravar o celular e abrir o aplicativo, como exigem os fiscais", afirma o ex-produtor de eventos e motorista André Vinicius Marquesano, 41.

    Ele conta que o grupo é bem descontraído –"falam muita abobrinha". Às vezes, até tentam marcar encontros para jogar conversa fora ao vivo.

    O produtor musical e motorista do Uber nas horas vagas Alexandre Falchi Araújo, 36, conta que, em um dos grupos de WhatsApp, os membros ajudaram um colega depois que uma passageira vomitou no carro durante uma viagem.

    "Era 1h30 e aquilo acabou com a noite dele. A gente orientou que ele fotografasse tudo e mandasse lavar o carro, para depois pedir o reembolso do prejuízo pro Uber."

    Para entrar nos grupos é necessário mandar uma foto do cadastro interno do aplicativo –jeito de evitar que taxistas se "infiltrem" na conversa.

    O Uber afirma que os motoristas "oferecem um serviço de transporte individual previsto na Política Nacional de Mobilidade Urbana." A Secretaria de Transportes diz que o serviço é clandestino e que já apreendeu 74 veículos de motoristas do Uber neste ano.

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024