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    Terceirizado, 190 tem atraso de salários e denúncias de assédio

    ESTEVÃO BERTONI
    DE SÃO PAULO

    18/10/2015 02h00

    Salários atrasados, atendentes civis chamadas de "galinha" por chefes militares, empresa multada por descumprimento contratual.

    Apesar dos problemas com a terceirização do 190, Estados apostam na expansão do modelo para cortar gastos e aumentar o efetivo policial nas ruas. Hoje, ao menos 12 deles usam civis para atender chamadas de emergência.

    Em Pernambuco, desde junho as ligações de 29 municípios caem na capital. Em SP, o modelo é testado desde dezembro. Ao anunciar a iniciativa, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) disse que liberaria mil PMs. Até agora, só a capital aderiu, com contratação de 226 civis.

    A meta, segundo a polícia, é atingir todo o Estado. No interior, o primeiro passo foi a centralização do serviço nas principais cidades, o que tem gerado problemas e críticas. No Rio, o governo estuda implantar mais três centrais terceirizadas. Na capital fluminense, civis atendem as chamadas desde 2006.

    Como funciona o 190

    Houve atrasos de salários de funcionários neste ano no Acre e no Maranhão. No DF, trabalhadores entraram em greve em 2012 e, após a empresa contratada falir, o governo colocou oficiais da reserva no atendimento.

    Para Clemilton Saraiva, diretor do sindicato da categoria no DF, os atendentes ganhavam menos de um salário, sofriam ameaças e não tinham preparo psicológico. O Paraná também voltou atrás porque, segundo o coronel Maurício Tortato, comandante-geral da PM, "com a terceirização o serviço caiu muito em qualidade".

    Em Minas, funcionárias estão ganhando indenizações por assédio moral dos chefes. O advogado Rodrigo Xavier entrou com ações para cerca de 15 delas. "Os militares humilham as meninas. Chamam de 'piranha'. O atendimento tem de ser feito por militar."

    O sargento Ataliba Ferreira de Faria Jr., que responde pelo 190 mineiro, diz que em 2014 teve "uma reclamação procedente a cada 770 mil atendimentos feitos". "É nível de excelência", afirma.

    Em SP, a PC Service foi multada por apresentar 18 e não 40 pessoas exigidas para um treinamento. O governo disse que a PM adotará as providências em caso de descumprimento de contrato.

    Para o professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da PM José Vicente da Silva Filho, a terceirização, comum nos EUA, tem de ser uma política permanente. "É questão de ter pessoal qualificado e fazer treinamento."

    LONGA ESPERA

    Com uma faca, o homem exigiu o dinheiro do caixa. No fundo da loja, a funcionária ligou para o 190 e passou o endereço da Rosalis Modas: r. General Osório, 1.032.

    A Polícia Militar demorou 20 minutos, segundo a lojista Neusa Rosalis, 49. E o bandido havia fugido. É que, em vez de a PM ir até a General Osório de São Carlos, onde ficava a loja, foi à General Osório de Ribeirão Preto. "O próprio policial que me contou isso. Ele disse que estava muito ruim o sistema 190 de Ribeirão", lembra ela. O caso ocorreu em 2013.

    Em Minas, a jornalista Fernanda Branquinho, 36, visitava a mãe em Patos de Minas quando seu marido sofreu uma agressão. Após várias ligações feitas do celular da mãe, ela foi direcionada para um atendente em Ituiutaba, a 357 km de onde ela estava. O atendente lhe disse que não poderia fazer nada.

    Segundo a polícia, o problema é das operadoras de telefonia. A Algar Telecom, que fez testes e não conseguiu completar a chamada para o 190 na região, diz que a falha é de outra operadora. A Embratel, responsável pelo número da PM, afirma que as ligações são encaminhadas normalmente.

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