Tamanho o choque, Nayane Cristina Andrade esqueceu que fazia aniversário neste domingo (18). "Tenho 30 anos", afirmou, logo se corrigindo –"hoje faço 31, mas nem tive como me lembrar disso", disse, enxugando lágrimas em frente ao IML (Instituto Médico Legal), em São Paulo, onde tinha ido reconhecer o corpo do pai.

Ela é a primogênita de José Hailton de Andrade, 53, morto neste domingo, enquanto pintava uma ciclofaixa no Tucuruvi, na zona norte de São Paulo. O atropelamento fez duas vítimas. O outro homem, que também pintava o asfalto, é Raimundo Barbosa dos Santos, 38. Ele foi levado ao hospital Santa Casa de Misericórdia, mas não resistiu aos ferimentos.

Os dois homens foram atropelados no cruzamento da avenida Luís Dumont Villares com a rua Pedro Cacunda, na zona norte de São Paulo.

Eles eram funcionários da Sinalta Propista, empresa terceirizada contratada pela prefeitura. Elizabeth Cannizzaro, sócia da empresa disse que o coordenador do trabalho de sinalização durante a madrugada relatou que a motorista dirigia em alta velocidade.

Além das duas vítimas, outros três funcionários trabalhavam pintando o asfalto naquela região na madrugada deste domingo (18). A empresa tem cerca de 200 funcionários, segundo Cannizzaro, e presta serviços para a Prefeitura e o governo do Estado de São Paulo.

"Por causa de uma inconsequente, perdemos dois amigos, pais de família, homens honrados", diz Cannizzaro. A filha de Andrade diz que ele era "uma pessoa maravilhosa". "Fez isso a vida toda", conta ela, sobre o trabalho do pai, que se mudou do Piauí para São Paulo há 16 anos. "Que seja feita a justiça."

Andrade deixa mulher, seis filhos e cinco netos. Barbosa dos Santos, também piauiense, deixa mulher e quatro filhos.

	Helio Torchi/Sigmapress/Folhapress
	Carro da motorista no 73° DP, onde o crime foi registrado

MOTORISTA

A Polícia Militar prendeu em flagrante Juliana Cristina da Silva, 28, acusada de atropelar e matar Andrade e Barbosa dos Santos por volta da 1h de domingo (18). De acordo com o boletim de ocorrência, ela invadiu a área demarcada para trabalho dos pintores com um Vectra cinza.

A motorista fugiu, mas foi seguida por testemunhas do acidente e presa a 3 quilômetros do local por uma equipe da PM. Submetida ao teste do bafômetro, os PMs constataram que ela apresentava 0,85 mm de álcool por litro de ar expirado. A Lei Seca considera crime quantidade superior a 0,34 mm/l.

Juliana foi encaminhada para o 73º DP (Jaçanã), depois transferida para o 89º DP. Ela foi indiciada por homicídio culposo "na direção de veículo conduzido com capacidade automotora alterada" e por ter fugido do local do acidente.