Um policial segura o celular em uma mão enquanto exibe os músculos e aponta o revólver com a outra. Sua selfie em um perfil do Instagram se mistura a discursos motivacionais e imagens de violência contra pessoas detidas.
As selfies, com fardas e armas, são enviadas por policiais, com suas próprias frases de efeito, a páginas como "Polícia Brasileira". "Protegendo a sociedade mesmo que isso custe a própria vida", diz a legenda de foto de integrantes do Grupo Tático Operacional da PM-DF.
Para o tenente Danillo Ferreira, gestor de mídias sociais da PM da Bahia e criador do blog Abordagem Policial, a presença nas redes sociais pode ser benéfica. "Ajuda a reverter a vergonha de ser policial. Os profissionais brasileiros têm o orgulho afetado", afirma.
A exposição, porém, pode ser considerada uma infração administrativa, a depender do regimento interno de cada corporação. Especialistas e profissionais têm opiniões divergentes sobre o tema.
A cientista social Silvia Ramos, coordenadora do centro de estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes, vê como perigosa a restrição ao uso de mídias por policiais, o que ela chama de "polícia ostentação".
Ela coordenou um estudo de 2009 sobre blogs de policiais que conclui, por exemplo, que há repressão às redes dentro das corporações. A pesquisa afirma que as páginas podem "mudar a tradição institucional, os preconceitos, a visão da sociedade sobre as polícias e influir nos rumos da segurança pública".
Por isso, Ramos diz achar que "a última providência seria proibir" imagens ostensivas. "A resposta deve ser na base da responsabilização." O coronel reformado José Vicente da Silva Filho diz que policiais não podem se expor, para sua própria segurança. "Precisam ter uma postura austera em relação à exposição. E a arma só pode ser empunhada quando for usada."
A PM do Rio restringiu, na semana passada, o uso de smartphones -agora os aparelhos poderão ser usados "apenas em circunstâncias relativas ao serviço policial". "Para a população ficar tranquila, alguém precisa ficar atento", diz o Coronel Robson Rodrigues, Chefe do Estado Maior Geral da PMERJ.
Mas as redes, observa ele, podem ser benéficas quando bem utilizadas. "Estimulamos páginas oficiais porque vão ao encontro da política de proximidade com a comunidade. Condenamos o que é inadequado, criminoso."
Algumas corporações têm sua própria página oficial, como a PM da Bahia. "É um canal de ouvidoria, de marketing institucional e de comunicação com a comunidade, que fica sabendo das ações que a polícia desenvolve", diz Danillo Ferreira.
O governo de Barack Obama estimulou, nos EUA, o uso de redes sociais pela polícia. Em março, uma comissão de especialistas apresentou relatório recomendando mudanças. "Implementar novas tecnologias pode dar às polícias a oportunidade de interagir com comunidades", diz o documento, ressaltando a necessidade de profissionalismo e transparência.