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    Crise da água

    Racionamento 'duro' atinge 35% dos moradores de SP, aponta Datafolha

    EDUARDO GERAQUE
    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    04/11/2015 02h00

    O racionamento de água imposto pela gestão Geraldo Alckmin (PSDB) em meio à crise hídrica atinge de forma dura ao menos 35% dos paulistanos, em especial os mais pobres e com baixa escolaridade, revela pesquisa Datafolha.

    Essa é a proporção de moradores que afirmam ter sofrido interrupção no fornecimento de água em suas residências em cinco ou mais dias nos últimos 30 dias.

    Entre os afetados, está a diarista Cláudia Nogueira, 35, moradora do bairro do Agreste (zona norte de São Paulo). Para ela, ter água sempre é questão de saúde, já que sua sogra passa por tratamento de câncer no intestino e necessita de higiene constante.

    "Fora a última semana, quando teve água por dias seguidos, todo dia falta água durante a tarde e a noite", diz.

    Pelo levantamento do Datafolha, 14% citaram que sofreram corte de água em até quatro dias no período de um mês –48% disseram não ter ocorrido nenhuma interrupção do tipo e 3% não souberam responder.

    Oficialmente, a gestão tucana diz que a manobra que reduz a pressão nos encanamentos –provocando racionamento– tem prejudicado apenas 1% da população.

    Infográfico: Datafolha da crise hídrica

    NORTE E LESTE

    A pesquisa realizada na semana passada mostra ainda que as regiões da capital paulista mais afetadas pela distribuição controlada de água são as zonas norte e leste.

    Essas duas áreas são as mais dependentes do Cantareira -maior sistema da Grande São Paulo, em situação crítica desde 2014 e que nesta terça (3) estava com 12,7% de sua capacidade.

    O Cantareira atualmente só consegue operar com a ajuda de bombas que retiram água do fundo das represas –do chamado volume morto.

    Na zona leste, por exemplo, 43% dos paulistanos disseram sofrer com a interrupção de água em cinco ou mais dias ao longo de um mês. Na zona norte, são 40% os que se dizem mais prejudicados.

    Por exemplo, gente como Zélia Costa, 46, dona do Bar do Baixinho, na Vila Santista, que precisou estabelecer uma regra que se tornou conhecida por seus clientes: depois das 16h, não há mais descarga no banheiro. "Todo mundo que vem aqui é do bairro. Então já sabem que, depois de determinada hora, não tem como dar descarga. Só se for de balde ou esperar até o dia seguinte", conta.

    Já no centro, os impactos do racionamento são bastante reduzidos. Somente 5% relataram esse grau de interrupção da água, de acordo com a pesquisa Datafolha.

    As taxas também são mais baixas nas zonas oeste (32%) e sul (28%) da capital paulista, que são socorridas pelo reservatório do Guarapiranga.

    O tempo de duração da falta de água em um mesmo dia não é considerado no levantamento. Segundo a própria gestão Alckmin, algumas regiões ficam entre 15 e 20 horas por dia sem água.

    POBRES

    As informações de falta de água em cinco ou mais dias do mês indicam que os pobres têm sido muito mais atingidos pelo racionamento do Estado do que os ricos.

    A pesquisa aponta que, entre os que ganham até dois salários mínimos, 42% dizem que tiveram torneiras secas com mais frequência no último mês. O índice cai para 19% no grupo dos que ganham mais de 10 salários mínimos.

    As regiões mais periféricas sofrem com a redução de pressão tanto por questões geográficas quanto por causa de falta de infraestrutura nas residências. As casas da periferia estão normalmente no fim da rede de distribuição e muitas vezes em zonas altas, onde é mais difícil bombear água sem pressão.

    O tamanho pequeno das caixas d'água ou até mesmo a falta delas ainda deixa milhares de pessoas muito mais vulneráveis à falta do abastecimento público de água.

    Para Fábio Mota, 36, que mora na zona norte, são os pobres que mais poupam água em São Paulo. "Quem tem dinheiro sabe que não vai faltar água para ele."

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